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Sessão de 22 de Outubro de 1920

do, como da parte de quem tem o dever de obedecer, o capricho de entravar qualquer acção.

Há simplesmente as ordens convenientes para se executar ou não qualquer serviço.

O Ministro entendeu que não devia autorizar a realização do raid pelos motivos que passo a expor.

Os serviços de aeronáutica estão divididos em aviação militar terrestre e aviação militar marítima. Cada ramo destes serviços tem os seus aparelhos especiais.

Tratava-se dum raid Lisboa-Madeira feito pela aviação terrestre. Arriscavam--se num cometimento desta ordem a vida de oficiais distintos, e o valor que representam os aparelhos que iam sor utilizados.

Nestas condições, era indispensável que o Ministro tivesse qualquer objectivo militar a dar à execução de semelhante raid.

& Ha via no momento um objectivo mili-litar, determinado, para ser feita pela aviação terrestre a viagem de Lisboa à Madeira?

Não havia.

Sr. Presidente: lançado no espaço o avião, tinha o Ministro que tomar a responsabilidade do que, porventura, sucedesse em consequência das «pannes» que podem, dar-se e foi efectivamente uma que originou o fracasso do raid.

Tinha, por consequência, o Ministro de bem considerar devidamente as conseqiiên cias do acto.

Sei bem quanto há de nobre no esforço dos nossos aviadores. Sei bem de quantos golpes de audácia eles são capazes.

Mas, Sr. Presidente, tambOm sei que eu, aqui, neste lugar, tenho a obrigação de não deixar praticar actos que serão de admirar pela audácia que representam, mas que são imprudentes, desde que não haja um objectivo a justificá-los.

Foram todas estas considerações que imperaram no meu espirito e que me levaram a não concordar com a realização do raid.

Não teria amanhã hesitação alguma em consenti-lo, se acaso as conveniências do Estado o exigissem.

Tanto assim, que eu já duma vez orde° nei prevenção à aviação para aum determinado momento, se necessário fosse, ir ao extremo norte do País. E osía viagem

têm condições de perigo que não são inferiores às que oferece o raid de Lisboa à Madeira.

Não hesitarei nunca, quando necessário, como então não hesitei, em sacrificar a vida dos que vestem uma farda no cumprimento de qualquer serviço.

Só assim poderei deixar que em condi-dições de momento de qualquer risco, se coloquem em perigo as vidas que sabemos serem absolutamente necessárias á Pátria e à República.

Eu jamais poderia consentir nesse raid sem ter maneira de garantir no mar todo o auxílio que fosse necessário.

E toda a Câmara sabe que não era este o momento mais oportuno para que esses recursos pudessem oferecer uma eficaz garantia de protecção ou de socorro no caso dum possível desastre marítimo.

Depois de ter conhecimento dos resultados desse acto audaz, eu só lamentei que os oficiais portugueses não tivessem conseguido atingir o seu objectivo, '(Apoiados), e lamentei-os por qne no gesto houve alguma cousa de grande que todos acompanhamos com aquela íntima emoção que era o patriótico desejo de engrande-ecer mais uim-. vez o bom nome do País.

Não vai o meu louvor a esses oficiais, especialmente ao capitão Pais, que já deu sobejas provas do seu valor, porque eles não precisam de louvores.

Mas há ainda neste incidente a parte puramente disciplinar; pode a Câmara, porém, estar certa de que eu, ao pedir res-ponsabilidades a esses oficiais do acto praticado, não esquecerei os bons desejos que os animaram, sem me esquecer, também, do que tenho obrigação do exigir em nome da disciplina militar.

Vozes:—Muito bem.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, guando restituir, revistas, as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Viriato da Fonseca: — Sr. Presidente : permita-me V. Ex.a e permita-me a Câmara que eu, depois das considerações que acaba de fazer o ilustre titular da pasta da Guerra, pronuncie algumas palavras sobre o assunto.