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Diário da Câmara dos Deputados

incnte na imprensa, tomei na áspera luta contra o dezembrismo.

Vozes: — Não apoiado!

O Orador:—E atendendo ainda às perseguições que então sofri e que por mais duma vez puseram em risco a minha vida, e às afirmações por mim feitas nesta Câmara quando aqui foi discutida a moção do Sr. Leote do Rego, cujo esquecimento no limbo dos arquivos desta, explica talvez, mais que quaisquer outras razões, a retirada do ilustre almirante dos quadros do Partido Republicano Português.

Sr. Presidente: não venho agora aqui fazer retaliações nem pretendo abrir novos conflitos políticos que tudo aconselha, pelo contrário, a remediar ou a atenuar.

Por isso acho que bem andou o Sr. Li-berato Pinto tomando, se tomou, por essa orientação.

A não ser que S. Ex.a, encarregado de formar um ministério de concentração republicana, tivesse apenas conseguido um ministério de concentração e do consolidação, por ventura amplificada com outros elementos do antigo Partido Republicano Portnguôs. Seria isto assim, dados alguns elementos que ora figuram nas bancadas ministeriais, um Ministério neo-democrático. Nesta hipótese teria S. Ex.a, mais que tudo, resolvendo a crise como à resolveu, feito um valioso e grato serviço de patrulha. (Risos).

Não o digo, por ironia, Sr. Presidente,, pois considero este serviço como um dos principais e mais melindrosos tanto na vida militar como na vida social.

Aplicando-o agora à vida política e parlamentar portuguesa, S. Ex.a prestou serviço a que não deixo de render louvor, tanto mais- que S. Ex.a é o chefe do estado maior da guarda republicana.

Vozes: — Já não ó agora.

O Orador:—Seja assim.

Em todo o caso, e a 6ste propósito, pôr identidade de circunstâncias, permita-me V. Ex.;t, Sr. Presidente, e perini-ta-me a Câmara, que lhes refira uma anec-dota que se me afigura não só oportuna, como ainda portadora dum profundo conceito filosófico e político, como se fora um apólogo.

Quando eu era ainda rapazelho, Sr. Presidente, no Porto, minha terra natal, tive por vizinho da loja paterna, um negociante conhecido pela alcunha de Pilu-ca, alcunha esta derivada, na linguagem popular e regional do tempo, do facto de no cimo da taboleta desse meu vizinho de então, se ostentar um rechonchudo menino dourado o nu, sem aquele hipócrita enfeite d a folha de parra de queo escultor do frontão da Câmara Municipal de Lisboa, obedecendo talvez a um critério de verdade estética e anatómica, entendeu dever também prescindir na figura representativa do Amor da Pátria. (Risos}.

Ora o tal Piluça, Sr. Presidente, casado, tomava-se frequentes vezes de razões com a mulher, pois ambos ôles oram por igual amigos das fartas comesainas e das repetidas tarraçadas vinolentas.

Esses frequentes dares e tomares atingiam por vezes proporções escandalosas, principalmente à noite depois da ceia, o que muito aborrecia a vizinhança, que os via com olhos pouco simpáticos.

Lembro-me, por sinal, Sr. Presidente, que uma vez foi de tal monta a tormenta conjugal, com forte arruído de louças, vidros quebrados e aflitivos gritos de socorro, soltados pela mulher, quequá-si toda a rua se ajuntou à porta deles, berrando e apitando furiosamente, a tal ponto que teve de acudir a patrulha da municipal, a polícia, c até um oficial da ronda a cavalo que passava não longe dali, os quais penetraram todos, depois do intimada rijamente a abertura da loja, no prédio do Piluça.

Eu e rneus irmãos e outros rapazes do bairro, ainda garotclhos, comentávamos alegremente o facto, descontando de antemão a chacota com que esperávamos ver sair o Piluça e a mulher, ambos pre-zos entre a patrulha, a caminho do Aljube.

Mas qual não foi a nossa decepção e o nosso espanto ao vermos sair ao fim de bastante tempo, os polícias, os municipais e o oficial de ronda, a cavalo, sem os tais rixosos cônjuges.

A paz havia-se estabelecido entre eles, ante a visita o o conspecto da força armada e o temor compreensível duma noite mal passada no Aljube.