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Diário da Câmara dos Deputados

mente com o Parlamento... na hora da apresentação, emquanto não passam os primeiros oito dias, até que aparece a proverbial casca de laranja, começando então a guerra desenfreada... para não escorregar.

, O actual Governo para não fugir à norma, porque este documento é como todos os anteriores, convencional, e portanto passa a entender-se como convencional tudo o que nele se lê, seguiu nas - mesmas águas dos seus antecessores.

Nesta última edição, pois, das declarações ministeriais, que tem aliás bonitas tiradas que podem fazer dela uma peça literária, também vem anunciado o que o Governo há-de fazer.

Cá vêm os prometimentos:

«Não há liberdade nem ordem sem justiça.. Desvelar-nos hemos por cercá-la de todas as garantias de independência, etc.

O Governo fará a mais perfeita codificação da lei civ.il e criminal, regulamentando ainda a execução das generosas leis da assistência judicial, etc.».

Bonito! Neste ponto são todos unânimes.

A nau do Estado passará a navegar num mar de rosas.

Quanto à parte económica é assas interessante esta declaração ministerial. Revela-se nela uma grande habilidade.

O Governo não aflige ninguém.

Todos vêem que vão pagai, mas não chegam a perceber o que pagarão. Está bem: assim ninguém se zanga.

Ao contrário do sistema usado pelo Sr. Cunha Leal que, sem rodeios, deixava ver quantos sacrifícios teria de exigir ao contribuinte, S. Ex.a o Sr. Presidente do Ministério vem, muito docemente (Risos), mesmo cordealmente, sossegar os espíritos mais timoratos, porque afinal S. Ex.a— assim o diz na declaração ministerial — não exigirá nenhum imposto que seja incomportável !

Há-de exigir só o comportável!

j Se quisesse o incomportável é que seria caso para se saber o que havia de ser!

Nesta minha crítica à declaração ministerial feita aliás, com toda a sinceridade e franqueza, eu não me dirijo à entidade Bernardino Machado., por quem, como já

confessei, tenho a máxima admiração, pois o conheço há muito tempo. Dirijo-me sim à entidade Presidente do Ministério, o que é cousa bem diversa.

Diz mais na sua declaração o Sr. Presidente do Ministério:

«E para solver os compromissos da guerra, contraídos pelo Tesouro, pediremos tudo às possibilidades do contribuinte, mas não lhe pediremos nada demais».

Quere dizer, S. Ex.a nada pedirá ao contribuinte, mas sim às possibilidades dele.

O contribuinte fica livre; as possibilidades é que hão-de pagar.

Risos.

Está bem! É suave!

Não há-de pedir nada a mais!

Outra consolação!

Risos.

Pedirá só o que for preciso, deixando até mesmo de pé a doce esperança de que venha a ser pedido menos do que o necessário.

E isto seria ouro sobre azul!

Emfim, está tudo isto bonito; está tudo isto bem feito.

Tem o meu aplauso.

Também este Governo diz que não se esquece das forças trabalhadoras. ,jQuem é que se esquece delas?

Não há ninguém que se seate nas cadeiras do Governo, que não diga que terá em toda a atenção os interesses das classes trabalhadoras. Mas nós temos visto como a afirmativa se traduz na, prática. A praxe é dizer isto, e a prática, é fazer o contrário. Já o sabemos! Ainda neste momento se vê que não foram retiradas dos jornais as tropas que estão fazendo a impressão deles, para prejudicarem os interesses dos trabalhadores.

j Já o falecido coronel Baptista protegia as classes trabalhadoras !

Dizia-me ele —eu sou mai:3 socialista do que você.

E não obstante quando eu saía desta Câmara via bem qual era o seu socialismo.