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Diário da Câmara dcs Deputados

números redondos, èin 10 anos e 5 meses.

Pára apreciar a marcha destas crises o examinar se efectivamente a razão delas é permanente e harmónica, dentro dos IO anos, tive de adoptar um critério.

Para melhor me certificar se elas só davam dentro dalguma norma ou se não obedeciam a qualquer princípio de ordem, entendi dividir, esto espaço de dez anos em dois períodos. Tomei, por exemplo, o período histórico contado de 7 de Maio de 1920, dia triste para os anais da República, assinalado pela morte do coronel Baptista.

Fixado esse marco na história dos de*; anos, tinha nove meses e vinte e um dias, « fui recuando ato 5 de Outubro no cômputo do outro período, o primeiro da Repéblica.

Nesses nove meses depois da morte do coronel Baptista já tivemos sete crises.

Se houvesse proporção, as crises deveriam ter aido menos neste segundo período.

O mal, porém, e muito ao contrário, agfavou-se. Compreendi assim que há entre nós uma doença moral que provoca t> gera as crises em Portugal.

As crises vão-se intensificando com pré-íuízo para o país, e pensei ver se esta multiplicidade de erises podia ou não trazer prejuízos para o país.

KecuemoS um pouco, a partir do Gabinete do Sr. Ramos Pr-eto, e vejamos as grises que se deram.

Em 7 de Maio do ano passado, por fa lecimento do coronel Baptista, ficou S. Ex.a Presidente interino do Conselho. No •dia imediato foi nomeado efectivo. Logo -a 14 do mesmo mês, em remodelação, foi o Sr. «Pedroso de Lima para a pasta do Interior.

Quatro dias depois, a 18, cai o Ministério do Sr. Ramos Preto. Crise de trinta « nove dias, terminada com a formação do Governo do Sr. António Maria da Sil-^a, que por sua vez durou apenas vinte o três dias, sendo substituído pelo Ministério do Sr. António Granjo, que assumiu: ó poder em 19 de Julho.

Este foi o que entre nós se podo chamar um Governo de longa duração, porque es-teve no poder... qaási quatro me-feôs! Caiu em 15 de Novembro. Quatro dias depois formava-se o Ministério do

Sr. Álvaro de Castro, que governou uma semana l Nova crise de quatro dias, para a nomeação do mesmo em 30, sob a presidência do Sr. Liberato Pinto.

Ainda governou bastante, e parece que a contento, porque se conservou no poder bons três meses.

Tornada de novo a situarão irredutível, foi, por acordo dos partidos, convidado a formar Governo ò Sr. Bernardino Machado, que logo em 2 do corrente mês o formou, com muitas das figuras que nos anteriores Governos não tinham merecido a confiança.

l Somando estas crises, te nos noventa dias de crise em nove meses!

As crises são tantas e tam frequentes que os homens que ali se sentam, em geral, nem tempo têm para estudar as questões que se apresentam, quanto mais resolvê-las, tanto mais que trabalham sob a ameaça contínua de desconfiança e crise.

Deste modo, é óbvio, intui:ivo, que não podem trabalhar, corno convencido estou de que se eu ali estivesse nada poderia nem conseguiria fazer.

O que é um facto, Sr. "Presidente, é que durante nove meses, depois da morte do coronel Baptista, metade dôsse tempo se tem passado em crises, incluindo os dias que se lhes seguem e ou que antecedem, não se tendo feito nada na outra metade.

Foram nove meses e tantos dias que se perderam, isto é, mais do metade de um ano.

Não se podo assim governar, se bem que eu faça justiça a todos aqueles que se têm sentado naquelas cadeiras e têm ido para ali animados da me.hor vontade para trabalhar e serem úteis ao país.

E, porém, completamento impossível trabalhar nas condições em que se está trabalhando.

Todos os Governos, Sr. Presidente, que se têm apresentado a esta Câmara trazem sempre a declaração ministerial, que eu, francamente o digo, não sei para quê. . •