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tíessão de 17 de Maio de J921

ainda subsistem entre nós deploráveis vícios do passado, dos quais há urgência de nos regenerarmos.

A Junta dos Indígenas formulou ao próprio Ministro, num documento que publicou e que me foi ontem enviado, as seguintes queixas que são deveras dignas de ponderação.

Queixa-se a Junta de que as notícias, enviadas ao S.r. Ministro das Colónias foram tendenciosas, visto que de parte dos indígenas nunca se esboçou o menor gesto contra as propriedades europeias.

As suas queixas são necessariamente justas. Os indígenas —infelizmente para eles — ainda não têm o desenvolvimento necessário para se queixar por modo eficaz com que se façam valer contra as prepotèncias europeias. Por isso, devido à absorpção dos europeus, os indígenas têm cada vez menos terras na sua própria terra, invadida pelos brancos. Isto indigna e revolta, num século om que a humanidade chega a debater-se om guerras cruentas de horror, em nome dum suposto restabelecimento do império da liberdade e da justiça.

iQuando deixarão as sociedades humanas de viver do logro e da mentira!

A segunda queixa formulada ó a seguinte:

«Que tendo sido gravemente feridos e mortos vários indígenas, S. Ex.a o governador não enviou, como lhe competia, ao Ministro a mais pequena notificação sobro este lamentável facto».

Mas, há mais do que isto. Por cartas recebidas de fontes fidedignas, tenho o profundo desgosto de informar a Câmara de que nos hospitais de S. Tomé recusaram--se a tratar dos feridos indígenas, que tiveram de seguir, escorrendo sangue, a recolher-se aos patrícios. Passa-se isto em S. Tomo, no ano da graça de mil novecentos e vinte um!

Então não lhe chamem província ultramarina, mas centro de escravidão portuguesa, para que ao menos não continuemos a viver no doce engano, de alma ledo e cego que nos faz supor liberais.

A terceira -queixa é a seguinte:

«Que para evitar o conhecimento da verdadeira causa da greve e seus sangrentos pormenores, mandou S. Ex.a (o Governador) confiscar e violar as correspondências que nos foram enviadas pelo vapor Beira.

Isto foi outro crime que, para honra do nosso país, necessitado ser sindicado. Se por acaso o que aqui se encontra escrito for falso, devem os caluniadores ser castigados. Mas desde já posso assegurar a minha convicção de que estas afirmações são verdadeiras, pois qne tenho recebido cartas particulares de fontes várias, todas unânimes sobre o assunto.

Queixa-se mais a Junta dos Indígenas, entre outras cousas :

«Que a detenção dos directores do jornal A. Liberdade teve unicamente por fim impedir ou prejudicar a sindicância há muito reclamada pelo mesmo jornal contra as arbitrariedades da Curadoria».

Sr. Presidente: é bom não esquecer a forma como estão sendo espoliados os indígenas de S. Tomé, no rosto do seu já reduzido património. Principiam a viver como estrangeiros na sua própria terra!

Todos nós sabemos que o indígena tem uma forma típica de cultivar e que o europeu tem outra. ^Pois sabem V. Ex.as como estes procedem, tirando partido da circunstância?

Mandam por apaniguados seus, de noite, e a malas horas, fazer plantações de café, cacau, etc., em terrenos limítrofes pertencentes aos indígenas, e quando estes se queixam é nomeada uma comissão de brancos, que já estão combinados sobre o assunto, e logo dizem no seu relatório, não ter o indígena razão, porquanto as plantações, estão feitas.. . à europeia!

Isto é extraordinário, Sr. Presidente! Os brancos poderiam simular a plantação ao sistema nativo; mas preferem invadir as terras dos indígenas plantando à moda dos brancos, para lhes servir de provas de que os terrenos são seus.

a Queixa-se ainda mais a Junta contra arbitrariedades praticadas pela Curadoria.

Ah! Sr. Presidente, eu sei bem o que é a curadoria dos indivíduos sujeitos à tutela pública, já porque, em'tempos, dela fiz parte, e pouco tem mudado até hoje, já porque tenho seguido esta questão com todo o cuidado de que é merecedora.