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Diário da Câmara dos Deputados
mentissem as notícias que vinham nos jornais a propósito de Portugal.
Podem dizer que ganham pouco os nossos representantes. Não sei se ganham pouco, se muito, mas sei que ganham o bastante para comprarem os jornais e lerem o que êles dizem a respeito de Portugal, do seu país.
O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (António Maria da Silva): — Sr. Presidente: o Sr. Leote do Rêgo fez um certo número de considerações sôbre a resposta do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, a quem eu as transmitirei, mas direi que não houve propósito do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros em deminuir a viagem do Sr. Bernardino Machado.
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Sr. Presidente: o assunto de que vou ocupar-me é o mesmo que pretendi tratar ontem, quando pedi a palavra para um negócio urgente.
Quero referir-me ao caso da trasladação dos ossos do Marquês de Pombal para a igreja da Memória.
Eu não quero neste momento discutir a vantagem, a oportunidade e os fins desta trasladação.
Reconhecemos no Marquês de Pombal as qualidades como os defeitos que o caracterizavam.
Evidentemente que o Marquês de Pombal prestou grandes serviços ao País; mas não são êstes serviços, que ninguém contesta, aqueles que se pretende celebrar com a trasladação dos seus ossos para Belém.
Sr. Presidente: no Diário do Govêrno de 7 do corrente foi nomeada uma comissão, composta de 24 indivíduos, para tratar da trasladação dos ossos da capela das Mercês para a igreja da Memória.
Em primeiro lugar é de estranhar que se nomeie uma comissão de 24 membros para um fim dêstes, e que dela façam parte numerosos delegados da Maçonaria, que é o seu presidente.
Isto leva a concluir que se vai dar à ceremónia uma feição que desagradará a muitíssima gente, quando é certo que se devia dar-lhe o carácter de uma homenagem nacional, desde que se reincide no êrro de se fazer a trasladação.
O Govêrno, como é justo, prometera restituir a capela das Mercês à família do Marquês. E, cumprida esta promessa, o Marquês de Pombal podia continuar ira sua jazida, sendo assim satisfeito o desejo, por êle manifestado, de ser sepultado ali.
A trasladação é feita para a igreja da Memória, situada em Belém.
É bom lembrar que esta igreja foi mandada erigir por êle próprio em comemoração do facto de o Rei D. José ter saído ileso do atentado de que foi vítima, e êste atentado, como a Câmara sabe, deu origem à execução dos Távoras.
Diz-se que o Govêrno só restitui a capela à família do Marquês se os ossos dêste saírem de lá.
Se assim é, conclui-se que o Govêrno quere transaccionar com os despojos de Pombal!
É pois estranho tudo o que se está passando, e muito lamento que se pretenda fazer uma especulação política em volta de um nome realmente grande na nossa história, quási fazendo-se dele um republicano e um maçon, quando é certo que êle o não foi.
Certamente que o País não vai dar o braço à Maçonaria para juntos acompanharem Belém o cortejo político que se projecta.
Apoiados.
Tenho dito.
O Sr. Ministro da Instrução Pública (João Camoesas): — Sr. Presidente: podia dispensar-me absolutamente de pronunciar quaisquer palavras a êste respeito, sem que isso significasse menos consideração pela Câmara, visto que os Srs. Deputados que acompanharam as considerações do Sr. Cancela de Abreu puderam ter ensejo de verificar que o procedimento do Govêrno está absolutamente defendido pela circunstância de S. Ex.ª se ter referido à comissão que tive a honra de nomear, num tom que não sei se queria ser depreciativo...
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Para as pessoas, de maneira nenhuma.
O Orador: — Encontra-se à frente dessa comissão o Dr. Magalhães Lima, figura bem conhecida dos portugueses, pela sua