O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21
Sessão de 17 de Julho de 1923
alarmantes e eu desejava tratar o assunto numa interpelação ao Sr. Presidente do Ministério a propósito dos acontecimentos na Madeira.
Há meses, há muitos meses que na Madeira se vêm praticando as maiores tropelias, as maiores infâmias, as maiores violências, sem que o Sr Ministro do Interior tenha tido o gesto único, dignificante da demissão do governador civil que está a sôldo de toda a malandragem, de todos os infames e bandidos para praticar toda a espécie de actos.
Apoiados.
Estava muito bem a política de equilíbrio dó Sr. Presidente do Ministério emquanto não havia sangue, mas, desde que há sangue que atinge já o Sr. Presidente do Ministério é necessário providências mais sérias do que as que têm sido adoptadas até aqui e de cujas providências o Sr. governador civil se tem rido.
Permita-me a Câmara que eu lembre o seguinte facto: em 1884 deu-se na Madeira um massacre por ocasião de umas eleições.
O Partido Republicano levantou-se todo em massa; tratava-se da eleição de Manuel do Arriaga e Latino Coelho.
Nomeou um advogado que foi à Madeira tratar com os homens que tinham sido presos.
Conheço êsse processo com muitos detalhes porque foi meu pai que teve a honra de ir à Madeira defender os republicanos envolvidos nesse assunto, mas é preciso dizer para honra da monarquia que foi imediatamente demitido o governador civil. Pois a República consente que um funcionário, a sôldo, como disse, de toda a malandragem da Madeira, esteja enxovalhando a República, os seus princípios e a nós todos republicanos, sem que o Sr. Presidente do Ministério tenha feito aquilo que lhe cumpre fazer: demitir o Sr. governador civil.
Se a República consente actos dêstes, se a República continua a ser capa política de toda a malandragem que a emporcalha, não é República.
E necessário ainda dizer, para cúmulo, que o sr. governador civil já tenta lançar sôbre um juiz a suspeita de que foi êle que instigou o povo de Santa Cruz à revolta, para que não seja êle a fazer as investigações e julgar os bandidos que à sombra da bandeira da República assassinam os republicanos.
As fôrças para Santa Cruz foram requisitadas com antecedência e os factos que se estavam dando eram do conhecimento do governador civil.
Vendo que as fôrças que vinham se alojariam num local que ficava perto da repartição de Finanças, o administrador não quis que aí ficassem e mandou-as para outro local; porque se ali ficassem não iriam assassinar o secretário de Finanças.
O povo correu armado de foices e outros instrumentos para a repartição de Finanças, e o administrador mente quando diz que não sabia que o secretário de finanças estivesse na repartição respectiva.
Interrupções.
O Orador: — Esse administrador é o faca de mato do governador civil.
Como ia dizendo, o secretário de finanças estava na sua repartição, e vendo o povo em hostilidade, reclamou a fôrça e depois sucedeu que o administrador mandou retirar a fôrça, dizendo que devia todo o povo entrar na repartição.
O secretário de finanças saiu do seu gabinete por uma porta que comunica com o gabinete do juiz, para o que foi necessário arrancar umas grades, e foi assim que de gabinete em gabinete saltou para um quintal onde estava o administrador.
Nesse momento foi visto por um dos bandidos, tendo sido atacado e ficando ferido.
Quando se espalhou a notícia de que o secretário de finanças estava morto, foi colocada uma sentinela para não deixar aproximar-se ninguém, ficando o secretário de finanças estendido no chão, a esvair-se em sangue.
Foi então que o magistrado referido, sabendo que aqueles bandidos haviam cometido êsse crime, disse à sentinela que o deixasse passar porque estava no exercício das suas funções.
Êstes factos foram conhecidos por um telegrama e pelos jornais da Madeira.
Muito a tempo, portanto, teve o Sr. Presidente do Ministério notícia de todos êstes actos, e até hoje não teve um gesto, até hoje o oficial que desempenha in-