O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5
Sessão de 27 de Julho de 1923
o Govêrno era sincero nas suas afirmações e que sempre procuraria honrá-las. Isto, porém, não sucede, e não sucede em condições escandalosas.
Há oito dias. pouco mais ou menos, apareceu num jornal de Lisboa um comunicado, verdadeiramente extraordinário, do Monumental Clube.
Como se compreende que o Sr. governador civil, tendo mandado encerrar as portas dêsse clube, como as doutros em que se jogava, venha, passado pouco tempo, informar favoravelmente o requerimento a que se refere aquele comunicado?
Êsse comunicado tem não só o aspecto de ser um ultimatum ao Govêrno, como também o duma chantage.
Ou o Govêrno se submete e deixa reabrir o jôgo, ou nós contamos o que sabemos. É o que se diz.
Ontem apareceu outro comunicado, o que me leva a fazer a seguinte pregunta:
O Sr. Ministro do Interior deferiu o requerimento? Sujeitou-se à coacção?
É uma hipótese.
O Sr. Ministro do Interior não deferiu o requerimento? Não consente a abertura do Clube?
E outra hipótese.
Mas a verdade é que o Clube abriu, desprezando tudo e provocando todos. Certamente a direcção dêsse Clube não hesitou em tomar essa atitude, convencida de que a sua ameaça seria o bastante para o Govêrno se submeter.
E o Govêrno submeteu-se!
O Govêrno teve modo? Mas medo do quê?
Digo que o Govêrno se submeteu porque ontem reabriram as portas do Monumental Club.
Há nisto mais um enxovalho à República. Tanto o Monumental Club como o do Parque Mayer foram autorizados a abrir provisoriamente a pretexto do receberem os oficiais da esquadra americana.
Já estou mesmo a ouvir o Sr. Presidente do Ministério dizer-nos que êsses clubes reabriram ùnicamente para neles poderem jantar e dançar os oficiais americanos.
Ora ninguém acredita que êsses clubes reabrissem ùnicamente para isso. Reabriram para darem jôgo do azar. Já estou informado de que o deram. Então verifica-se que o Govêrno, autorizando a reabertura de tais clubes de jôgo, consentiu implicitamente que neles fossem criminosamente explorados os hóspedes da República.
Não se passam êstes factos sem que contra êles eu daqui lavro o meu mais veemente protesto.
Numa cousa o Monumental Clubo tinha razão e era quando dizia que ou se deveria deixar jogar em todos os clubes ou em nenhum. Não fazia sentido que se estivesse jogando no Parque Mayer, conservando encerradas as portas dos outros clubes. E que no Parque Mayer se jogava só o não sabia a polícia o não o sabia porque certamente lhe convinha não saber.
Tenho aqui uma nota do que foram os lucros no Parque Mayer nos meses de Maio o Junho. Em Maio foram de 250 contos, e em Junho foram de 300 contos. O simples facto dessa casa estar aberta é o bastante para se saber que lá só jogava.
Sabe a Câmara, o se não sabe eu a informo, que os clubes em Lisboa que não dão jôgo levam uma vida precária, mesmo que tenham grande número de sócios a. pagar cota, e vivem muito modestamente. Fazem uma despesa insignificante comparada com a dêsses clubes de jôgo. Muitos, dêsses clubes não fazem a sua despesa diária com menos do 1. 300$. Não podem sustentar-se com as cotas de sócios. Têm, pois, uma fonte do receita misteriosa o que é bastante para deverem ser encerrados como casas suspeitas.
Ao passo que o Parque Mayer funcionava nestas condições, os outros clubes estavam fechados.
Então a opinião pública preguntava como isso ora possível.
Começaram correndo os mais insólitos boatos.
Dizia-se também que os factos que o Monumental ameaçava divulgar eram a explicação do motivo por que o Parque Mayer estava aborto.
É necessário averiguar se o Govêrno encara de frente esta questão, em vez de procurar captar as simpatias de pessoas inqualificáveis. Eu tenho visto com grande mágua criminosos de delitos comuns, pessoas a quem ninguém deveria estender a mão, avistarem-se nos corredores