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Sessão de 21 de Dezembro de 1923
tre o empréstimo e a convenção, o certo é que vieram a público notícias verdadeiramente alarmantes sôbre o assunto, e que serviram apenas para aumentar a confusão dos que receavam, como perigosas, quaisquer relações entre os dois objectivos da missão Augusto Soares.
Sr. Presidente: não deve esquecer a Câmara que, num banquete em Londres oferecido aos negociadores portugueses do empréstimo, o Sub-Secretário das Colónias proferiu, em nome do Govêrno Inglês, palavras que o nosso patriotismo não poderia aceitar em caso nenhum e que na ocasião em que foram pronunciadas, sob a atenção directa de general Smuts, representante dos interêsses da União Sul-Africana e quem sabe se sob a sua inspiração, tomaram o carácter de verdadeiramente inconvenientes para as relações anglo-lusas, pois a colaboração que se oferecia não era só menos conveniente para os interêsses da Nação Portuguesa como era imprópria e atentatória dos seus direitos de soberania.
É ocasião de lembrar à Câmara que no lunch do African World, que ninguém ignora que é uma revista de grande publicidade estipendiada pela União, se chegou a fazer a afirmação de que o Govêrno Inglês estaria disposto a fornecer meios ao Govêrno Português para promover o desenvolvimento de Moçambique, mas que o Govêrno Inglês teria de verificar em que seriam empregados êsses meios.
Estabelecer-se ia assim um controle, uma fiscalização colectiva, cooperative controle, que o nosso orgulho patriótico se recusa a aceitar. Os nossos interêsses nacionais e os nossos direitos do soberania não poderiam conhecer tal intento, sem protesto.
E num determinado momento das negociações, quando o general Smuts pretendeu afastar da Inglaterra a missão portuguesa que estava negociando especialmente o empréstimo, mas cujo chefe, segundo a própria declaração do Sr. Ministro das Colónias ao tempo, tinha também poderes para negociar os preliminares da convenção, fez-se saber que, tendo de retirar-se o general Smuts para o Cabo, as negociações se interrompiam retirando a missão para Portugal.
Apartes.
Evidentemente que, não tendo nada o empréstimo com a Convenção, e retirando a missão portuguesa especialmente incumbida de negociar o empréstimo, subentendia-se que ou êste tinha sido negociado anteriormente ou as démarches para êle se havia interrompido também.
De outro modo a partida de Smuts em nada influiria no regresso da missão a Lisboa e tanto mais quanto é certo que a razão dada por Smuts para não continuar as conversas com o Sr. Augusto Soares só por êste poderia ser invocada.
As negociações tinham proseguido já com o Govêrno Português em crise e esta só pelo delegado português tinha de ser alegada, se o entendesse.
Sôbre o caso publicou o Gabinete António Maria da Silva uma nota oficiosa que não atenuou de nenhum modo a natural preturbação produzida pelo telegrama de Londres sôbre a suspensão das negociações para o Convénio nos termos em que tinha sido feita. Alarmadamente se verificava que, por vezes, as negociações eram de molde a que os nossos sentimentos patrióticos se julgassem deminuídos.
Êsse alarme obrigava o antigo o ilustre chefe de Estado Sr. Dr. Bernardino Machado a escrever no jornal A Pátria um artigo intitulado Moçambique em que revelou os termos exactos das declarações a que aludi, do Sub-Secretário das Colónias, e que foram os seguintes:
«Estamos dispostos a ajudar os portugueses e a obter os capitais para emprêsas seguras, no desejo de contribuir para o desenvolvimento do todo o norte de Moçambique, onde há já interêsses britânicos.
Não temos o menor intuito de ferir o amor próprio dos portugueses. Todavia, se têm de ser fornecidos capitais, deve isso ser feito sob uma fiscalização colectiva cujas condições temos todo o desejo de discutir».
Comentando tal declaração, o Sr. Dr. Bernardino Machado preguntava em seguida, no mesmo artigo «se os interêsses ingleses, que inspiram tamanho interêsse por nós, são o fruto das numerosas concessões feitas ao norte do rio Lugenda pela Companhia do Niassa, com consentimento do nosso Govêrno e que vão des nacionalizando toda a margem do lago»