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18 Diário da Câmara dos Deputados

Efectivamente, eu tinha ouro para ocorrer a tudo; mas o empréstimo tinha de ser lançado e nós não podíamos proceder por outra maneira.

Só havia o processo de recorrer à circulação fiduciária; mas isso era mau, pois trazia a desvalorização da moeda, o que ora muito pior do que o juro.

O Govêrno aumentou de uma maneira apreciável o juro dos bilhetes de Tesouro, mas achou isso preferível a aumentar a circulação fiduciária.

Eu confiei nesse empréstimo e ainda hoje confio.

O empréstimo foi lançado em fins de Junho, ainda estivo no Govêrno até meados de Agosto. Nos meses de Julho e Agosto tive esperanças de que algumas medidas seriam votadas. Era também para esperar uma melhoria, o anúncio que me faziam de que o ano cerealífero era bom. Parece que até a própria natureza vinha em nosso auxílio. Pois até isso se desprezou.

Autoriza-se a importação de trigo de uma maneira tam desordenada que determina a saída, dentro OJIJL pouco, de 600 mil libras. É claro que não há planos que possam cumprir-se em presença de toda a espécie de dificuldades levantadas a todo o momento.

Mas, apesar de tudo, de tal maneira se havia estabelecido o princípio na confiança no Estado, que o câmbio que estava a 2 quando entrei para o Ministério, ficava, quando abandonei o Poder, numa divisa, mais elevada, notando-se que durante o ano que estive no Ministério se deram dois aumentos de circulação fiduciária. É que de alguma cousa ainda serve inspirar confiança e haver respeito pelo crédito do Estado.

A Bélgica tem feito uma grande obra na diminuição da sua circulação fiduciária; mas, apesar disso, ainda não conseguiu de maneira alguma resolver a sua situação, porque não lhe foi possível por enquanto obter a confiança precisa.

Mas, posso ainda apresentar um outro exemplo, talvez melhor do que o da Bélgica. Refiro-me à Roménia que, tendo uma vez suspendido os seus pagamentos de nada lhe valeu ainda a obra financeira que depois disso tem realizado.

Sr. Presidente: talvez não pareça muito a propósito repetir mais uma vez os

motivos que me levaram a seguir essa política da emissão do empréstimo; mas eu devo afirmar que o objectivo que tive em vista foi aquele que entendo dever ser hoje o do Govêrno, isto é, o de atenuar a carestia da vida.

Eu tenho sôbre êste assunto um critério um pouco diverso do de muitas pessoas, o assim sou de parecer que não existe no nosso País o problema da carestia da vida, mas sim o da desvalorização monetária o crise cambial.

A carestia da vida não é mais do que o reflexo dessa desvalorização da moeda e só poderá evitar-se com a vinda ao mercado dos valores-ouro que, sendo português, estão no estrangeiro.

É, portanto, indispensável, estimular a exportação e restringir a importação.

Quanto à exportação, só lenta e gradualmente a podemos desenvolver; mas quanto ao problema da importação, êsse é que me parece ser de fácil resolução, visto que a metrópole e as colónias podem produzir muitos dos principais artigos que levam para o estrangeiro a maior parte do ouro português.

As medidas que o Govêrno de que fiz parte tomou, acerca da exportação, deram bom resultado e levaram-nos a crer que não é muito difícil realizar a obra que preconizo.

A nossa exportação pode computar-se em 15 milhões de libras, incluindo a de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné.

Segundo os dados estatísticos que possuo para 1922, a nossa importação foi a seguinte:

Leu.

Desde que se conjuguem os esfôrços da metrópole com os das colónias, numa obra de conjunto, nós podemos fazer com que Portugal entre em melhores dias.

Agora tem razão o partido do Sr. Jorge Nunes, pedindo que se faça êsse sacrifício pela Pátria e que só trabalhe para que o País se salve; mas não vejo modo de melhorar essa situação.

Talvez estejamos a apresentar uma espécie de programa; mas, fazendo-o, não fico mal colocado, desde que o Sr. Presidente do Ministério disse que era preciso saber para onde caminhamos, porque todos faziam críticas mas ninguém queria apresentar remédios.