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Sessão de 22 de Julho de 1924 23

Nós vemos crianças andarem a apanhar trapos e papéis velhos; se formos às fábricas vemos como lá as mulheres são tratadas, e não compreendemos que a sua vida represente uma parte da riqueza da nação.

Sr. Presidente: desculpem-me V. Exa. e a Câmara o calor e a paixão que acabo de pôr nas considerações que venho fazendo, mas eu não podia deixar de o fazer, porque há quási dezoito anos, desde que entrei na actividade política, que ando a pregar a mesma pregação. Até 1910 prèguei-a cheio de entusiasmo e duma intensa ansiedade esperançosa, porque eram todos os dirigentes do movimento republicano a dizerem que, uma vez implantada a República, seria a educação do povo a sua primeira preocupação.

De facto, já alguma cousa se fazia nesse sentido. Em quási todos os centros republicanos existiam escolas e cantinas. E foram as mais populares de todas as instituições—as juntas de paróquia — que iniciaram o bolo movimento de assistência infantil, levando muitas crianças às praias mais próximas de Lisboa, a retemperarem o sou depauperado organismo, que se enfraquece devido às más condições higiénicas em que vivem na cidade.

Em relação à preparação do professorado, a República fez grandes progressos. As actuais escolas normais primárias, se não são o que deviam ser, alguma melhoria apresentam em matéria de preparação do professorado.

Sim! Normalizemos a nossa vida financeira, a nossa vida económica, mas não realizemos o provérbio inglês de que «para salvar o bebé da banheira é mester deitar o bebé e a água à rua».

Sim! Defendamos o equilíbrio! da vida nacional, realizemos corajosamente uma política construtiva que devemos realizar, em vez de nos debatermos nesta louca tentativa de querer restaurar um passado morto em 1910, em lugar de nos batermos, esquerdas e direitas, porque em matéria de reivindicações somos todos reaccionários! Vamos ao encontro da transformação social que nos aguarda, encarando de frente os termos de a conseguir. Confessemos que o nosso déficit de produção em matéria industrial é conseqüência dum vício dos nossos capitalistas. Vamos ao fim da questão para salvar a própria vitalidade do país. Em vez de aplicarmos os vários sinapismos fiscais que muitos querem, em vez de querermos escravizar os factos às opiniões, ou querer fazer depender tudo da restauração monárquica ou da revolução social, em vez dessa atitude enferma de querermos dominar a realidade com opiniões que a ela não correspondem, olhemos a vida, olhemos a nossa terra, verifiquemos, com mágoa, que ela não produz o pão que comemos, mas que o pode produzir desde que encaremos as realidades novas!

Apoiados.

Assim estava certa uma política que fôsse de transformação para o Estado republicano, estabelecendo um plano que fôsse eliminando, pouco a pouco, a mania burocrática que é ainda uma sobrevivência da realeza.

Façamos um Estado scientífico, façamos um Estado democrático!

Varramos das repartições uma papelada inútil que só serve para gastar o tempo e a vida dos que a manejam e sofrem as conseqüências dêsse manejo!

Apoiados.

Façamos política concreta, urna política segura de reconstrução e não uma política de remendos e de circunstância.

Sr. Presidente: ditas estas palavras, escusado é dizer mais.

Entremos franca e abertamente no caminho das realizações concretas e deixe-me nos de medidas ocasionais de acção imediata, mesmo porque no ponto de vista social, não há, não pode haver, acções imediatas.

A acção de um Ministro das Finanças não está em chegar ao Ministério e acabar com o déficit, como a acção de um Ministro da Instrução não está, não pode estar, em chegar ao seu Ministério e, em duas penadas, extinguir o analfabetismo.

A obra social não vale pelas subordinações que se impõem, mas pelas coordenações que se sustentam, e sustentar coordenações num país sem espírito social, como o nosso, não é tarefa fácil que possa ser realizada por um só homem, mas sim tem de ser obra de muitos homens, não pelo poder divinatório dêstes ou daqueles sábios, não pela autoridade dog-