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Sessão de 12 de Janeiro de 1925 29

poder defendê-la, pelo menos, com consciência.

Tenho aqui à mão números que bastam para demonstrar o que afirmei.

Sirvo-me do relatório do Sr. Pina Lopes, apresentado à Câmara dos Deputados e que se baseou no relatório sôbre a nossa situação financeira enviado à Conferência da Paz.

Dêsse relatório tiro números em relação a gerências com saldos positivos e negativos verificados, sem qualquer relação com o câmbio mínimo que também vou ler:

[ver tabela na imagem]

Quanto à relação que procura estabelecer-se entre o montante da circulação e o valor da moeda vou ler também alguns números concludentes. Encontro-os nas propostas da Fazenda de Ressano Garcia no estudo do professor Oliveira Salazar "O ágio do ouro" e no referido relatório Pina Lopes.

São os seguintes:

[ver tabela na imagem]

Onde está então a relação absoluta e exacta que procurou estabelecer-se? Onde?

E porque a não há, a que vem a referência, da declaração do Ministério José Domingues dos Santos à "desproporção actual entre a circulação fiduciária e as cotações cambiais"?

Como também não compreende nem justifica a referência à "estabilização do pa-pel-moeda no ponto que mais convenha ao Tesouro e que melhor se adapte às condições económicas e financeiras do País".

Mas como se chega a êsse ponto?

Que elementos possui o Govêrno para o definir?

E o que é nesse caso a conveniência do Tesouro e a melhor adaptação às condições económicas e financeiras do País?

Coincide essa conveniência com essa adaptação? Eis o que importa averiguar.

Realizar uma acção financeira que o País possa apoiar com entusiasmo é bom; mas é mais fácil do que realizar e justificar uma obra que o País possa aplaudir com consciência, com tranquilidade e com confiança.

E estas não se conseguem com frases vazias de sentido como a que acabei de ler no programa do Govêrno e que é uma sobrevivência do relatório do Govêrno Ro-drigues Gaspar.

Dizia nele o Sr. Daniel Rodrigues que fizera um estudo meticuloso da situação económico-financeira e por êle reconhecera a anómala e artificial desvalorização do escudo. Mas que estudo? Com que dados? Com que estatísticas? Com que inquéritos? Com os mesmos que têm o actual Govêrno, com os mesmos que tinham os anteriores.

Averiguou o Govêrno, tinha meio de o fazer porventura, a quanto montam as verbas do activo da nossa balança de pagamentos que não entraram no País?

A quanto sobe o montante da dívida pública?

Nada disto disse o Govêrno Rodrigues Gaspar, nada disto diz o Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos que lhe continua a acção financeira, que promete prosseguir nela.

E porque nada diz, não é fácil prever as conseqüências exactas de um estado de cousas cuja justificação os próprios que se arvoram em seus autores não sabem fazer.

Pouco me importa que a minha curiosidade e o meu scepticismo até possam ser mal interpretados pelos partidários à outrance da obra financeira que se vem realizando.

Prefiro poder falar com inteligência a ter de falar apenas com entusiasmo.