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Sessão de 12 de Janeiro de 1925 27

a verdade é que, trazidos à tela da discussão determinados aspectos políticos, eu não quero, também, deixar de lhes fazer referência.

Antes, porém, de o fazer, dirijo, com todo o prazer, ao chefe do Govêrno e aos colaboradores os meus melhores cumprimentos. Antigo colega de Ministério do Sr. José Domingues dos Santos não posso esquecer a lealdade, a correcção impecável com que S. Exa. lidou sempre com quantos foram colaboradores do Sr. Álvaro de Castro. Mas além dessas boas relações de camaradagem, eu tenho com S. Exa. velhas relações de amizade, que bastam para me obrigar a falar-lhe, neste momento, com toda a sinceridade.

Fazem de resto parte do Govêrno pessoas que são velhos camaradas meus, outros meus amigos pessoais e outros ainda que eu de há muito me habituei a admirar pela sua inteligência como doutrinadores económicos ou sociais.

A todos cumprimento igualmente.

Pôsto isto, vamos agora a analisar os antecedentes políticos do actual Govêrno.

Quando o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar trouxe à Câmara o seu relatório por êle próprio chamado "Declaração Ministerial", tive ocasião de tomar uma atitude que, sem poder classificar-se de corajosa, foi, sem dúvida, desassombrada por ter sido assumida num momento em que circunstâncias várias obrigavam os amigos e os seus adversários a fazer sôbre êle o mais fechado silêncio. Apreciei então as questões que no relatório governativo mais me interessavam como Deputado que, não tendo quaisquer restrições partidárias, aqui não defende também outros interêsses que não sejam os interêsses gerais da Pátria.

Foi a minha atitude muito comentada e o Sr. António Maria da Silva foi até ao ponto de considerar estranha a atitude daqueles que, no entender de S. Exa., pretenderam enxertar um debate político na apreciação de um simples relatório ministerial.

Verificou se depois que não havia necessidade sequer dêsse debate político para derrubar o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar, já que êste foi derrubado sem se aguardar ao menos o desfecho do que eu tivera a honra de iniciar.

A queda do gabinete Rodrigues Gaspar deu-se num outro e singular debate que a Câmara não esqueceu ainda.

Mas êsse debate não me interessa senão sob o ponto de vista nacional e republicano. È é sob êste ponto do vista que considero lamentável que tam fundas dissidências do Partido Democrático venham dando origem ao espectáculo a que temos assistido, espectáculo, que não pelas pessoas, mas pelas consequências que tem, pouco prestígia a República e utiliza ao País.

O Sr. António Maria da Silva, numa crueza que a sua inteligência não justifica, fez, a propósito da discussão do relatório Rodrigues Gaspar e da oposição que lhe era feita pelos próprios correligionários do chefe do Govêrno de então, alusões ao "capoeirismo" dos que pretendiam derrubá-lo.

Já, então, disse que não compreendia êsse vocábulo adentro das praxes parlamentares e até das relações entre correligionários e que menos do que nos dicionários do calão brasileiro, havia que buscar-lhe significado na luta de galos que dentro do Partido Democrático se travou, luta a que ontem aludiu o Sr. Cunha Leal pondo em foco as ambições que norteiam os candidatos a chefes dêsse partido.

Mas as ambições não são sòmente dos galos.

Têm-nas também as raposas; e se há que completar o quadro não haverá que contar com elas para fazer os galos recolher à capoeira? As raposas afastar-se-iam.

O Sr. Cunha Leal (em àparte): - Ficam os raposões!

O Orador: - Não ficariam os raposões porque já se ouve ao longe o latido da matilha que não deixará em paz nem raposas nem raposões.

Mas o Govêrno Rodrigues Gaspar caiu. Não com o meu voto.

Se votei a moção do Sr. António Maria da Silva foi porque entendi que era um péssimo precedente o que se abria fazendo cair o Sr. Rodrigues Gaspar sôbre uma questão em que não devia cair e sob um pretexto que nem legal, nem parlamentarmente era de aceitar e que