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24 Diário da Câmara dos Deputados

No emtanto vejo na imprensa e no Parlamento fazer vergonhosas lamúrias sôbre a fome do Cabo Verde, pintando a tintas carregadas a sua situação miserável, mas Mo vejo qualquer interêsse em lho querer minorar o mal? pois não vejo senão alguma voz isolada lembrar que se pague à colónia o que legitimamente se lho devo.

Vejo bem que estas cousas não interessam a Câmara, e na sua atitude observo que se sento aborrecida de ouvir as minhas palavras sôbre tal assunto, mas por certo me perdoará a insistência por considerar que no cumprimento das nossas obrigações devemos empregar todos os esfôrços o boa vontade. Peço, pois desculpa à Câmara, porém vou continuar.

Parti para a colónia em Abril do 1924 e ainda a bordo, declararam-me que havia uma greve no porto do S. Vicente.

Para que V. Exa. faça urna levo idea do que isso representa de mal para aquela colónia, basta que V. Exa. saiba que perto de dois terços das suas receitas são produzidas pelo porto. Pode assim fazer idea do que representa uma greve dos trabalhadores carvoeiros. Emfim, o melhor que pode e soube, resolvi essa greve, e, resolvida ela, vi que a maioria da colónia me tinha recebido bem, e até hoje tenho feito tudo para administrar o melhor possível, segredando-me a consciência de que tenho cumprido.

Assim é que quando cheguei e observei a grande desordem financeira da colónia por virtude da compra do cambiais vi que se comprava uma libra por 180$ e o dólar por 40$, isto é, por mais de 30$ do que em Lisboa e o dólar por mais 4$ ou 6$ do que em Lisboa.

As medidas tomadas por mim, boas ou más, produziram resultado. Passou-se a comprar a libra e o dólar abaixo do câmbio de Lisboa sobro Londres, perto do 2 por cento. Expulsei a nota de Angola e saniei o meio legal circulante.

Sabe muito bem o Sr. Ministro e sabem todos os Ministros das Colónias que de todos os meus actos dei contas pormenorizadas ao Ministério das Colónias. Olhei um pouco para os serviços administrativos da colónia e fui encontrar o seguinte:

Há muitos anos talvez que se dizia que Cabo Verde precisava dum porto; há muitos anos que Cabo Verde precisa olhar um pouco para as duas crises famíneas e desenvolver serviços e gastar dinheiro em melhoramentos que se reproduzam. Então pedi ao Sr. Ministro das Colónias as receitas das taxas telegráficas, mas apesar das boas palavras, apesar de mesmo quererem mandar para lá empregados, funcionários de toda a espécie, de que a colónia já tinha bastante, o que ó certo ó que o dinheiro nunca lá apareceu, e nunca 3á aparecendo, o que acontece?

Acontece que o porto está como a natureza o deixou, uma ponte da alfândega em mau estado e as pequenas pontes das empresas carvoeiras melhor cuidadas, mas que de nada servem para a colónia, relativamente, visto que os grandes portos de Dukar e Lãs Palmas absorvem toda a navegação.

Assim é que em 1916 os navios que visitavam o porto orçavam por 10 ou 11 e hoje é admiração quando são 3 ou 4. E preciso notar que dos vários vapores do passageiros que por lá faziam escala, nunca menos de 8 por mós, só 1 da Companhia Nacional de Navegação lá toca mensalmente.

Ora veja V. Exa., Sr. Presidente, quantos prejuízos para a colónia isto não representa, sabendo-se que o Estado recebe dois xelins por cada tonelada de carvão, e calcule-se quantas libras deixam de entrar na economia da colónia, com a ausência de navegação de passageiros e com a redução ao mínimo dos de carga que hoje demandam S. Vicente?!

Porque ó que a navegação foge?

Foge exactamente porque as condições do porto o tornam pior que os portos de Dakar e Lãs Palmas.

Nos portos de Dakar e Lãs Palmas o carrão o a água custam muito menos, do que no pôrto de S. Vicente e a navegação tem neles todas as comodidades dos bons portos modernos.

Nestes termos parecia-me natural que se dotasse o porto do S. Vicente com os melhoramentos indispensáveis que o colocassem em condições, senão de superioridade, pelo menos do igualdade aos portos de Dakar e Lãs Palmas.

Devemos por isso pôr o porto de S. Vicente em circunstâncias favoráveis à navegação, o que só pode favorecer a co-