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28 Diário da Câmara dos Deputados

me chamassem estúpido (no que devem ter razão) e mau para a grei, no que não têm razão nenhuma.

Emquanto muitos Deputados da Constituinte marinhavam à cata dos queijos ricos, candidatos a conezias, eu estudava lavoura portuguesa e outros problemas fundamentais da nossa política, e publicava A Conservação da Riqueza Nacional que não me deu um centavo de receita.

Vendo que ninguém publicava nada acêrca de alguns problemas agrícolas, que surgiam daquele livro, fui para o Alentejo experimentar lavoura e estudar o seu ambiente agrário, em 1915. Primeiro para Grândola, terra de Jacinto Nunes.

Debalde.

Tenho do meu venerando amigo uma carta que é um conselho. Dizia-me:

"Deixa-te de lavoura, e sobretudo de lavoura regada no Alentejo. Vai para a tua terra verdejante do noroeste.

No Alentejo não há água sequer para os passarinhos.

Que sonhas tu, místico?

Os medronheiros no Alentejo são belos, e também as flores brancas das estevas.

Nem as ondas verdes do trigal são mais lindas.

Queres mudar a face da terra?

A emigração é como a saída dos enxames: deixa partir os que vão. O mando de Portugal é inalterável na sua derrota.

Volta para o teu Minho; sonha lá!"

Não segui o conselho, fui para Évora. Um ano volvido sôbre a minha entrada em Évora, comprei 40 hectares de terra, quási toda delgada.

Ao longo dela, a charrua quando ia lavrando roçava na rocha do sub-solo. Nunca tinha sido lavrador. No Minho meu pai tinha um quintal, de pouco mais de meio hectare, onde tinha feito experiências da cultura minhota. O meu problema, porém, era o da cultura de sequeiro.

Instalei-me sem nada: nem ferramenta agrícola, nem alimento para a gente e para o gado.

Comecei pelo princípio. E de princípio vi a má vontade da guarda republicana, e do transeunte.

Não estava na situação dos subsidiados pelo Estado para fingirem culturas nos
postos agrários. Havia de viver da minha lavoura, mais os meus colaboradores.

Tivemos insucessos; e tivemos êxitos brilhantes.

Durante 3 anos trabalhei na terra luminosa do Alentejo; e já no segundo ano sabia agricultar a minha quinta.

Nas Leivas da Minha Terra oferecia à lavoura portuguesa, por lhe querer mal, o fruto do meu primeiro ano de aprendizagem.

Quantas dificuldades a vencer!

Que diferença entre o clima chuvoso e de brumas do Minho e o alentejano, da senhora da mirra!

Da minha pequena quinta, toda de sequeiro, à excepção de uma horta que tinha, quando muito, uma dúzia de laranjeiras, meia dúzia de tanjerineiras, outras tantas figueiras e duas nogueiras - com quanta saudade tudo estou vendo! - a minha pequena quinta, que apenas alimentava uma parelha de muares aos que anteriormente a lavravam, ali montou, sem que eu tivesse de comprar um quilograma de forragem ou de ração e de adubo, 24 cabeças de gado vacum, 120 ovelhas e 4 jumentos. Tive talvez a maior produção cerealífera e pecuária do Alentejo por hectare, apesar de não ser lavrador, nem tam pouco os meus auxiliares. Se toda a terra de Portugal dos mesmos ou melhores caracteres agronómicos produzisse como a minha, não estaríamos nunca às voltas com a falta de alimentos.

Se quero mal à lavoura...

A ela, por dever e por paixão, dediquei e dedico o melhor da minha actividade. E se deixei a minha quinta do Alentejo, foi tam sòmente porque 40 hectares eram poucos demais para ocuparem a minha actividade, desde moço orientada na vida de engenheiro, bem como excessivamente deminutos como modo de vida para quem não lavrava e amanhava tudo pelas suas mãos e da sua família.

Sr. Presidente: voltei a sentir-me mal nesta casa do Parlamento, depois de a ter deixado em 1914. O pouco que tinha, consegui-o com trabalho afincado e economia severa fora do Orçamento. No tempo da guerra e na nova paz, os Bancos o os seus amigos aventureiros aviltavam os meus haveres, pois não comprei nem vendi, não fui miliciano de balcão nem de