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26 Diário da Câmara dos Deputados

amealhando dinheiro do trigo para realizar a política do pão fora das normas clássicas dos dispêndios improdutivos. Dinheiro de trigo há-de dar muito trigo e fomentar a cultura mais perfeita e mais larga de muita terra, se me conservar no Govêrno.

Ao mesmo tempo cuido da reforma agrícola. É um problema de demorada solução, porque é sobretudo educativo. Vasto campo de acção. Começarei pelos folhetos de vulgarização dos silos e das montureiras e outros de correcção dos sistemas e dos processos agrícolas. Simultâneamente promoverá a divulgação de máquinas e ferramentas adequadas às diversas regiões do País, começando pelas da cultura do milho, da média e pequena propriedade.

O Sr. Brito Camacho: - Oxalá V. Exa. seja mais feliz do que quando há anos se mandaram vir tractores.

O Orador: - Não comprarei agora tractores; vou comprar máquinas, algumas que já experimentei, outras que muito desejava ver experimentadas, e que já particularmente tentei, há anos, comprar, mas que fiquei impossibilitado de adquirir no tempo da guerra e depois, e que hão-de modificar inteiramente a despesa com pessoal da nossa lavoura do centro e norte do País. Máquinas de tracção animal, ou por tractores pequenos do tipo Fordson.

Devo também dizer que, se tenho grande aversão ao pão político, tenho grande amizade à política do pão. Perdeu, de facto, o Estado algum dinheiro para antecipar a solução dum problema que era exigida pela opinião pública; mas eu não tenho culpa de não poder decretar nos mercados de Nova-York, Chicago, Buenos-Aires e Londres, o preço do trigo estrangeiro.

Não tenho também culpa de que a colheita da América tivesse sido inferior à normal, que a colheita da Argentina fôsse quási deficitária e que as colheitas da Rússia, da Roménia e dos outros países europeus habitualmente exportadores de trigo fôssem simplesmente desastrosas. Não tenho culpa ainda das perspectivas de preços do trigo que vinham sendo anunciados nos jornais da especialidade, e que me habilitavam a esperar que o trigo vendido pelo Estado a 1$60 o quilograma desse ainda um diferencial dalguns milhares de contos no primeiro trimestre de 1925 e nos outros com que eu pudesse fazer a política do pão.

Sr. Presidente: como tenho ainda diante de mim alguns minutos antes que a sessão feche, quero referir-me a outro ponto. É que hoje não se pode decretar preços para vigorarem por um ano, ou sequer por meses em qualquer País do mundo, nem em qualquer artigo do consumo. Por exemplo: do anteontem para ontem subiram na Alemanha os preços dos produtos eléctricos de 15 por cento.

Nós pudemos durante muitos anos manter situações de preços do trigo para um ano e quási para mais de um lustro; mas hoje isso é impossível.

Na casa comercial que dirijo, vendo electricidade na importância de mais de 40 contos por dia a preços variáveis de mês para mês.

Em alguns países da Europa os preços do pão mudam de semana para semana.

Ora, desta maneira, todas as previsões são falíveis. Erra toda a gente; só não erra aquele que nada faz e se limita a censurar o que os outros fazem.

Como disse, não tive culpa de que trusts se ligassem e as produções exíguas conspirassem contra o Govêrno de que faço parte. Mas se eu tivesse a cotação do ano passado, 200 xelins, para o trigo, com a libra a 100$, deitava um figurão, metendo nos cofres do Estado - que não devia fazer! um enorme diferencial e baixando muitíssimo ao mesmo tempo o preço do pão. Fui infeliz, mas não fui eu, nem a minha imprudência, quem fez a infelicidade.

Eu estou prêso há 15 anos à condenação do imposto sôbre trigos. Eu chamei a lei de 1899 a "lei da fome", mas também a posso denominar de lei de fartura...de impostos improdutivos, se assim quiserem.

Estou prêso há muitos anos a opiniões que muitas vezes leio para corrigir ou para ver se acertei. Sou um homem de opiniões feitas; mas tinha de aceitar o imposto de um diferencial, embora pequeno, que me dê para à vontade fazer a política do pão. Não fazia o pão político nem faria o pão caro. Eu nunca farei o pão político.

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