O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 9 de Fevereiro de 1925 29

nesta Câmara essa afirmação tem sido feita.

Sr. Presidente: a sociedade portuguesa é una e não se desdobra nem numa nem noutra categoria. Não posso aceitar semelhante doutrina, porque ela é contra os meus princípios e contra a verdade.

Eu sei que, na classe comercial, há muita gente honrada.

Apoiados.

Sei que, na classe industrial, há igualmente muitas pessoas honradas, o mesmo acontecendo na classe da agricultura, para as quais vão as minhas mais calorosas saudações. Mas, se por um lado verificamos isto, temos por outro de reconhecer que, após a guerra, muitos comerciantes têm aproveitado a situação, não para comerciar, mas para roubar, levando ao consumidor aquilo a que não têm direito.

Toda a gente sabe, quando existiam os "milicianos", que se praticavam verdadeiras barbaridades, auferindo-se lucros de 200 e 300 por cento, e, se todos os comerciantes, industriais e agricultores fôssem honrados, não estaríamos, com certeza, na situação aviltante em que nos encontramos.

A manifestação de sexta-feira, como a realizada o ano passado, onde surgiram os protestos indignados do povo, não são mais do que a consequência lógica da exploração que vem sendo exercida, há muitos anos a esta parte. É por êste motivo que me causa extraordinária admiração, quando vejo protestar indignadamente contra o Govêrno, por ter dito que estava ao lado dos explorados contra os exploradores, contra aqueles que, sendo parasitas, vivem à custa dos que produzem.

Dizem que houve gritos subversivos.

Eu não sei se houve ou não, porque não tomei parte na manifestação, não a acompanhei nem estive a vê-la passar. O que posso afirmar é que "gritos subversivos" é uma cousa que em regra os Governos arranjam para bater no povo, Porém, desta vez, parte das oposições.

Sr. Presidente: eu direi a V. Exa. e à Câmara que, quando em Portugal ainda existia a monarquia, eu fazia parte de um partido donde saí por incompatibilidades criadas entre mim e outras pessoas, em consequência de uns quererem a implantação da República imediatamente, de cujo número fazia parte, e outros quererem que essa evolução se fizesse gradualmente.

Mas, nesse tempo, quando os republicanos eram cuidadosamente vigiados, quando os seus centros eram assaltados pela polícia, eu fazia parte, como disse, de um partido que, em regra, fechava os seus ofícios com esta frase:

"Saúde e Revolução Social".

Isto escrevia-se, transitava por toda a parte, e nunca houve o menor impedimento.

Nestas condições, habituei-me tanto a estas duas palavras "revolução social" que, se fizesse parte da tropa, e fôsse encarregado de manter a ordem, não atacava ninguém por gritar:

"Viva a Revolução Social".

Para mim, êsse grito pode corresponder a uma aspiração tam legítima como aquela de que queremos manter a República.

Gritos subversivos, para mim, são aqueles que partem da boca dos monárquicos, quando êles gritam:

"Viva a restauração monárquica".

Mas, Sr. Presidente, eu continuarei ainda por mais algum tempo a apreciação dêstes acontecimentos, que talvez sejam como que um prólogo de novas e lamentáveis ocorrências.

É que eu, neste momento, ainda não consegui saber qual é o fim que as oposições querem atingir ao ser levantada nesta casa do Parlamento, em termos de aberta oposição ao Govêrno, esta questão da manifestação de sexta-feira passada.

Eu pregunto: o que é que se pretende atingir?

Eu devo declarar em abôno da verdade que, quando essa moção foi mandada para a Mesa, estava convencido de que esta parte da Câmara a não admitiria, e, se assim tivesse sucedido, a questão estaria morta.

O facto que eu estou registando é de que alguém - sem que até agora fôssem ditas quais as razões especiais que o le-