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Sessão de 9 de Fevereiro de 1925 25

largamente debatida, indo as responsabilidades a quem de direito, e para que cada um de nós ficasse elucidado devidamente a fim de dar conscientemente o seu voto.

Não vejo nada disso; e devo declarar que foi com espanto que eu vi ter-se pedido a palavra para um negócio urgente à volta de um acontecimento que é a repetição de muitos acontecimentos idênticos, enviando-se em seguida para a Mesa uma moção de desconfiança ao Govêrno numa questão de ordem pública.

O Sr. Presidente do Ministério, usando da palavra sôbre o modo de votar a admissão da moção, explicou minuciosamente como se passaram os acontecimentos.

Nada foi aqui dito que não fôsse mais ou menos do conhecimento da Câmara, não vendo eu que haja qualquer cousa que diminua o prestígio do Govêrno.

Na sexta-feira passada dirigiu-se uma manifestação ao Terreiro do Paço. Não tinha carácter político, pois que era composta por cidadãos de todas as classes e pertencentes a diversos partidos.

A manifestação que só fez em 22 de Fevereiro do ano passado, quanto a mim, assumiu proporções mais graves. E ninguém, nesta casa, se inflamou tanto como agora o fazem alguns Srs. Deputados. Lembro-me de que nessa manifestação se chegou a praticar o acto grave de se rasgar a bandeira nacional.

E deixe-me V. Exa. dizer que havia esta diferença: - e é que o ano passado a multidão dirigindo-se da praça pública ao Congresso da República apelava para um Govêrno no qual talvez não tivesse precisamente a mesma confiança que tem naquele que se encontra hoje nas cadeiras do Poder.

Não é, Sr. Presidente, porque o Poder então não estivesse entregue nas mãos do honrados republicanos; não é porque o Poder então não estivesse sendo servido por pessoas, que, sob o ponto de vista republicano, não oferecessem tanta confiança, como oferecem os homens que actualmente ocupam as cadeiras do Poder.

O que é um facto, Sr. Presidente, é que o Ministério que então presidia aos destinos da Nação não tinha tomado precisamente os mesmos compromissos que êste grupo de homens tomou quando ainda se não encontravam nas cadeiras do Poder, que continuaram a perfilhar quando constituiram Ministério, e que tem mantido hoje.

É a diferença que há entre a multidão de Fevereiro do ano passado, e a de Fevereiro dêste ano.

O povo apelava então para um Govêrno, se bem que não tivesse nêle a confiança que hoje tem neste.

O povo então fez esta grandiosa manifestação, da qual, pode afirmar-se, não tirou resultados benéficos, o que se não dá hoje, que tem confiança neste, visto que os seus processos têm sido diferentes daqueles que se têm seguido até hoje.

Sr. Presidente: todos os homens públicos do meu País, muito especialmente os homens que têm tido responsabilidades como Ministros, e que têm desempenhado outros lugares, têm obrigação de medir bem o momento que passa.

Infelizmente, Sr. Presidente, a série de acontecimentos que se têm dado até hoje tem dado origem a que a descrença dos homens públicos neste País seja cada vez maior.

A descrença, Sr. Presidente, vai alastrando dia a dia, hora a hora, o que é até certo ponto natural, dada a modificação que se tem dado nos últimos 10 a 12 anos na sociedade portuguesa, em todo o mundo que nós conhecemos.

Tem havido, Sr. Presidente, na sociedade portuguesa uma luta de carácter político, e uma luta de carácter económico.

Eu ainda me lembro, Sr. Presidente, estando no poder em 1906-1907 o Sr. João Franco, o que êsse homem público afirmou a um jornalista que o entrevistou, isto é, que em Portugal não havia e não existia a questão social, quando afinal de contas essa questão não só existe hoje, como minava já profundamente os alicerces da sociedade, não só entro nós, como nos outros países, como por exemplo, na Bélgica, na Alemanha, Itália, França, Inglaterra e nos Estados Unidos.

Em 1894 dizia, que a guerra era fatal, visto que ela tinha de ser uma consequência dos orçamentos do estado, de toda a Europa, não puderem comportar mais essa grandíssima verba para a construção de armamento destinado à defesa da guerra.