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20 Diário da Câmara dos Deputados

de se fazerem longos discursos a propósito do modo de votar. Nestas circunstâncias, não tenho que impedir V. Exa. de usar da palavra, sôbre o modo de votar, como é já norma corrente.

O Orador: - Muito obrigado a V. Exa.; mas quero acentuar que estas palavras eram necessárias para que se não dissesse que não sabiamos respeitar V. Exa., pessoalmente, e a sua alta função.

O Sr. Presidente do Ministério declarou que há-de manter o prestígio do Poder. A Nação inteira está vendo-o. Em que é que consiste a arte de governar?

Em fazer progredir um país, equilibrando tanto quanto possível as suas classes, acalmando as suas paixões. Há interêsses divergentes - todos o sabem.

O interêsse do consumidor é, normalmente, contrário ao interêsse do produtor, havendo entre os produtores classes diferentes e intercalando-se entre uns e outros a classe comercial, encarregada de efectuar a troca.

Governar é servir-se o Poder de todas estas classes, produzindo o equilíbrio de fôrças que são, às vezes, directamente opostas. Uma fôrça pode, muitas vezes, equilibrar-se com uma outra fôrça oposta. E o Sr. Presidente do Ministério que está fazendo?

Está conduzindo o país à guerra social, declarando réprobas todas as classes que o embaraçam. S. Exa. procura desviar o bom instinto do povo português e do nosso operariado, tentando levá-lo, guiado por meneurs saidos do seu próprio Gabinete, para os maiores desvarios, para as maiores violências, apontando-lhe inimigos imaginários, fazendo até com que a autoridade consentisse que num comício público, ontem realizado, se tivesse feito a apologia de um novo "19 de Outubro".

Muitos apoiados.

Para que V. Exas. vejam o que hoje, sob a protecção desvelada do Sr. Ministro do Interior, se publica e circula na nossa terra, vou ler um trechozinho final de uma en-tête de um periódico que aí se publica e que diz o seguinte:

Leu.

A compreensão que V. Exa. tem da ordem e do prestígio do Poder é esta.

Muitos apoiados.

É isto que V. Exa. deixa circular livremente pelas ruas de Lisboa, é isto que V. Exa. acarinha!

É sob as janelas do Gabinete do Ministro do Interior, Sr. José Domingues dos Santos, homem que a desgraça do nosso País foi arrancar do seu anonimato para o fazer Presidente de Ministério, é sob as janelas do Ministério do Interior, que V. Exa. tam mal ocupa, que se faz o rèclamo de um novo "19 de Outubro", tam bárbaro e sanguinário - Presidente do Ministério, por desgraça de nós todos! - que talvez o sangue que correr, que talvez o sangue em que V. Exa. ou, pelo menos, os seus partidários pretendem encontrar o prestígio para se poderem impor pela fôrça a uma sociedade dominada pelo medo, o afogue a si, vindo mesmo juntar-se ao sangue dos outros o seu próprio sangue!

Apoiados.

O Sr. Presidente do Ministério quis saber quais as palavras por que nós o tomávamos responsável. Nós já estamos habituados a esta política de Ministros que mandam hoje telegramas e que amanhã negam a evidente verdade que ressalta da sua leitura, telegrafando de novo a desmentir-se a si próprios.

Apoiados.

Não nos admira, pois, que o Sr. Presidente do Ministério se desminta; mas os jornais contaram o que se passou e V. Exa. - estou certo - na ocasião ficou contente com o relato.

Depois, porém, passada a embriaguez, quando deixou de se regozijar com os "morras" ao Ferreira do Amaral e com os "morras" ao Cunha Leal, que deviam ter sido para a alma de V. Exa. como um sino a repicar em dia de baptizado; então, quando a multidão ululante deixou de passar por debaixo das janelas do seu gabinete, então começou V. Exa. a pensar nas suas responsabilidades - e agora pregunta-me por que palavras o responsabilizamos!

Respondemos a V. Exa. que o responsabilizamos pelas palavras que V. Exa. proferiu e que não tem ao menos a coragem fácil de manter.

Danton conseguiu ser grande apesar da matança de Setembro, mas V. Exa. nem com essas matanças, se as houver, poderá jamais ser grande neste País.