O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

24 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Juvenal Araújo: - Sr. Presidente: eu pertenço a uma bancada que não é de oposição, mas de colaboração, e que sempre se guia pela sua consciência e por aquilo que julga ser o interêsse nacional. Pedi por isso a palavra para dizer que votarei a admissão da moção do sr. David Rodrigues; primeiro, porque entendo que dentro das possibilidades parlamentares nunca devemos coarctar aos representantes da Nação a faculdade de no seio da representação nacional exprimirem a sua maneira de ver sôbre os assuntos mais palpitantes da administração pública que estão decorrendo; segundo, porque a forma como tem decorrido já esta discussão é o maior argumento a favor de que ela prossiga. Realmente o Sr. David Rodrigues pediu ao Sr. Presidente do Ministério conta das palavras que os jornais atribuem a S. Exa. como proferidas nas janelas do Ministério do Interior, e o Sr. Presidente do Ministério preguntou-lhe que palavras eram essas.

Verificamos assim que em tudo isto há confusão e dúvidas que precisam ser esclarecidas.

Apoiados.

As palavras do Sr. Presidente do Ministério mais vieram confirmar a necessidade de se discutir o assunto. Disse S. Exa. que, tendo-lhe sido anunciado que uma manifestação popular se ia realizar em Lisboa de ataque às fôrças vivas, tinha permitido essa manifestação. Ora eu pregunto se não foi uma manifestação de apoio ao Govêrno que foi anunciada, porque essa podia o Govêrno admiti-la; mas se outra manifestação lhe foi anunciada, de ataque a determinadas classes, o Sr. Presidente do Ministério, que sabia com certeza a onda de indignação que havia em certo público de Lisboa, tendo até algumas pessoas aconselhado violências contra certos estabelecimentos, não devia permitir essa manifestação, para não iniciar, como iniciou, a luta de classes, com dias amargurados para êste pobre povo português.

Disse-se que é necessário defender o povo contra aqueles que o vexam. É uma linda inscrição para os melhores monumentos políticos.

Mas pregunto: Qual foi a lição de honra, de trabalho para as verdadeiras fôrças sociais que se tirou da manifestação de sexta-feira?

Por todos estes motivos, e porque entendo que o assunto merece e deve ser discutido amplamente, de maneira a ver-se as responsabilidades do Govêrno, eu voto a admissão da moção que está sôbre a Mesa.

Apoiados.

Tenho dito.

O orador não reviu.

Foi lida na Mesa, e seguidamente admitida, a moção do Sr. David Rodrigues.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Carvalho da Silva.

O Sr. Carvalho da Silva: - É demasiadamente grave a hora que o País atravessa, para que dêste lado da Câmara possamos hesitar em votar a moção do Sr. David Rodrigues. Ninguém poderá ver nisso qualquer quebra dos nossos princípios.

Votaremos, pois, essa moção porque ela é de desconfiança ao Govêrno, e porque assim significamos o nosso sentir perante a obra perniciosa do Ministério.

O Sr. Sá Pereira: - Não era propósito meu usar da palavra nesta altura da sessão, mas o facto de V. Exa. ter declarado que não havia mais nenhum Sr. Deputado inscrito, sôbre a moção apresentada pelo Sr. David Rodrigues, deu margem a que eu pedisse a palavra para estranhar que depois de admitida essa moção ninguém, da parte da maioria, se levantasse para bordar considerações a propósito dêsse documento.

Eu compreendia que não se fizessem discursos antes da admissão da moção, e que, uma vez posta ela à admissão, o assunto se liquidasse pela rejeição dessa admissão.

O que não compreendo é que tendo a Câmara reconhecido que o assunto era importante, uma vez admitida a moção, unicamente sôbre ela tivesse usado da pa- lavra um Deputado monárquico, o Sr. Carvalho da Silva, meu prezado e particular amigo.

Estava convencido de que o assunto era de molde a interessar especialmente a Câmara e de que havia certamente revelações a fazer para que a questão fôsse