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26 Diário da Câmara dos Deputados

Dizia-se que a guerra era fatal, quando mais não fôsse por isso que os estados não podiam com tam grande encargo.

Dizia-se que a Alemanha tinha que declarar a guerra, quer quisesse quer não.

Sr. Presidente: declarada a guerra, e feito o rescaldo da guerra, todos os países, muito especialmente da Europa, ficaram numa situação má, o que na verdade não é para admirar.

A França, Sr. Presidente, encontrou as mais sérias dificuldades para vencer a guerra, e a própria Inglaterra, nação verdadeiramente poderosa, tem tido grandes dificuldades depois da guerra, pois, na verdade a Inglaterra, um povo conservador por excelência, já teve o desgosto de ver no poder ministério um trabalhista.

Não é, pois, para admirar, Sr. Presidente, que em Portugal, se esteja manifestando uma certa modificação na sociedade.

Sabem V. Exas. que logo no inicio da guerra, o povo português tendo a noção do que convinha à sua política internacional, de pendão arvorado, percorreu as praças de Lisboa e Pôrto, clamando que Portugal devia formar ao lado dos aliados.

Sendo assim, numa conjuntura como esta, como é que se vem afirmar perante o Parlamento, que o Govêrno não se deve preocupar com outra cousa que não seja defender os interêsses da sociedade portuguesa?

O Govêrno, quanto a mim, tem obrigação de ir até onde puder, manter a ordem, e não consentir que alguém possa ter a sua vida em perigo, perder os haveres por um acto revolucionário de momento.

O Govêrno tem ainda o dever de garantir o direito à vida por parte de toda a gente, e, sendo assim, tem de ir mais longe, começando por fazer inteira justiça.

Sr. Presidente: no início das minhas considerações, eu disse que o Govêrno, tendo presenciado a manifestação de sexta-feira, à noite, havia mantido a ordem, apesar de alguém ter querido alterá-la, atirando uma bomba.

Sr. Presidente: todos os homens de boas intenções, têm de reconhecer que o incidente a que venho de me referir, não foi, de maneira alguma, obra dos manifestantes.

Afirmou-se do centro desta Câmara, e até da esquerda, que o Chefe do Govêrno tinha feito afirmações que inquietaram até o espírito daqueles homens, que são amigos da ordem.

Afirmou-se que o Sr. Presidente do Ministério disse que a guarda republicana não fôra organizada para atacar o povo.

Eu pregunto o que há de extraordinário nesta afirmação.

O Sr. Manoel Fragoso (interrompendo): - V. Exa. dá-me licença?

Na afirmação em si não há nada. Mas, quando ela é feita no momento em que a guarda republicana não fuzilou o povo, é extraordinária.

O Orador: - Sr. Presidente: a afirmação do Sr. Presidente do Ministério não envolve qualquer censura para a guarda republicana.

Aprovado.

S. Exa. não sabia o que se passava; sabia apenas que tinha rebentado uma bomba, que tinham sido disparados tiros, mas de forma nenhuma das suas palavras se pode concluir qualquer censura para aquela corporação, que, apenas, como já aqui foi dito pelo Chefe do Govêrno, merece o seu mais caloroso aplauso, por querer manter a ordem.

Apoiados.

Não estejamos, pois, a fazer confusões, sôbre todos os pontos de vista lamentá- veis, porque com a fôrça pública não podemos nem devemos fazer política.

O Govêrno que hoje se encontra no Poder pode amanhã ser substituído pelos seus adversários de agora, e, se a história se repetir, verificarão o mal que fazem certos ataques políticos.

Mas, Sr. Presidente, dizia eu que o Sr. Presidente do Ministério segundo os jornais, afirmara que a guarda republicana não foi organizada para bater no povo.

Evidentemente, que não foi êsse o motivo da sua organização.

De resto, a afirmação de S. Exa. deve ser a de todos os republicanos.

Para bater no povo, organizou-se a guarda municipal, a guarda pretoriana, cuja missão única, era defender a monarquia dos adiantamentos, contra aqueles que pagavam êsses esbanjamentos com o seu suor.