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8 Diário da Câmara dos Deputados

cuja discussão é necessária a presença dos Ministros, não devem discutir-se agora, que não há Govêrno. A Câmara, todavia, é soberana e pode resolver o contrário.

O Sr. Viriato da Fonseca: - Eu insisto no meu requerimento, mas a Câmara que resolva como entender.

O Sr. Presidente: - Vou pôr o requerimento de V. Exa. à apreciação da Câmara.

Posto à votação, é rejeitado.

O Sr. Sá Cardoso: - Requeiro a contraprova.

Procedendo-se à contraprova, dá o mesmo resultado a votação.

O Sr. Presidente: - Chamo a atenção da Câmara. O Sr. Jorge Nunes escreveu à Mesa uma carta pela qual renuncia ao seu mandato de Deputado.

Vai ler-se.

É lida na Mesa a seguinte carta:

Ex.mo Sr. Dr. Domingos Pereira, Digníssimo Presidente da Câmara dos Senhores Deputados. - Tendo suspendido pagamentos o Banco Industrial Português, de que sou um dos directores, pelos motivos que o mesmo participou já às instâncias oficiais, e seguindo-se a liquidação dêste incidente na vida daquela emprêsa, entendo que não devo conservar por mais tempo a minha cadeira de Deputado.

Embora com a consciência absolutamente tranquila no que respeita a responsabilidades de ordem especial, não quero que o Parlamento Português possa ser apoucado na sua autoridade pela circunstância de manter no seu seio alguém que queira ou pareça valer-se de imunidades ou situações de destaque para entravar por qualquer forma a liquidação de casos desta natureza.

Afirmando a V. Exa. que esta minha resolução é inabalável e rogando-lhe seja o intérprete dos meus respeitos para toda a Câmara, subscrevo-me com a maior estima e a mais elevada consideração de V. Exa. admirador.

Lisboa, 10 de Fevereiro de 1925.- Jorge Nunes.

O Sr. Vitorino Guimarães: - Sr. Presidente: o documento que V. Exa. acaba de mandar ler na Mesa é mais uma prova do alto carácter do bom cidadão e dedicado republicano que é o Sr. Jorge Nunes. (Apoiados). É, efectivamente, preciso ser-se, como todos o reconhecem, um grande homem de bem para se terem os escrúpulos que S. Exa. manifesta nessa carta.

Assim, em meu nome e no nome dêste lado da Câmara, entendo que V. Exa., só, com a Mesa, ou acompanhado por uma comissão que V. Exa. entender conveniente, deve fazer junto do Sr. Jorge Nunes as démarches necessárias para que S. Exa. não mantenha a sua resolução e não nos vejamos privados da sua companhia que, se muito vale pela consideração pessoal que todos por êle temos, muito mais vale pela sua dedicação republicana, pelos seus grandes conhecimentos e consciência com que trata sempre todas as questões.

Apoiados.

Sr. Presidente: eu compreendo os escrúpulos do Sr. Jorge Nunes. Profundamente honesto, tendo pela honestidade o máximo respeito, fazendo dela quási uma religião, não é de admirar a resolução tomada por S. Exa. Mas entende que a Câmara de forma alguma a pode aceitar, porque seria isso admitir que podia passar, que não passa (faço essa justiça à Câmara), pela nossa consciência a idea de que o Sr. Jorge Nunes podia ter sido menos correcto em qualquer acto da sua vida. (Apoiados). Dada contudo a função que S. Exa. desempenha, muitas vezes pode suceder um indivíduo ter de pagar culpas alheias; mas mesmo que tal facto porventura se viesse a dar, o que de maneira nenhuma atingia a sua honorabilide, se S. Exa. viesse a cair dentro de alguma suspeita da justiça, podia a todo o tempo e então pedir a suspensão das suas imunidades, porque a podia aceitar, estou certo, de cabeça levantada e com a certeza de que pela sua parte nada praticara que pudesse ser menos prestigiante ou menos honesto.

Apoiados.

E, assim, Sr. Presidente, eu peço a V. Exa. que inste com o Sr. Jorge Nunes para que êle retire o seu pedido de renúncia, e, ao mesmo tempo, peço tam-