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20Diário da Câmara dos Deputados

Exportamos mais? Importamos menos?

Não, e o próprio Sr. relator nos revelou, que o desequilíbrio da balança comercial no ano do 1924 não decresceu e que se cifra ainda em qualquer cousa como 10 milhões do libras de excesso das importações sôbre as exportações.

Como explicar então a deminuição do ágio do ouro, a baixa do escudo em cêrca de 30 por cento?

Ensina-nos a sciência económica, Sr. Presidente, que o câmbio, como qualquer mercadoria, obedece à lei da oferta e da procura.

Ora no ano findo honro causas "excepcionais" que aumentaram a oferta do ouro o outras que deminuíram a sua procura.

Entre as primeiras figuram a venda da prata, que produziu 1.200:000 libras, a venda dos fundos-ouro dos conventos do religiosas suprimidos e a venda dos navios dos Transportes Marítimos do Estado (esta última em reduzida escala pelas fugas que tem havido o de que noutra ocasião me ocuparei).

Claro é que todas estas ofertas, meramente de ocasião, sendo, como são, para mais, produto da alienação de bens do património nacional, são sintomas alarmantes, nunca do renascimento.

Por outro lado, o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro, com expedientes de caloteiro, demiuniu a procura do ouro de momento, reduzindo ou demorando o pagamento de juros e amortizações das dívidas externas do Estado, embora arrasando para larguíssimos anos o crédito do País.

Se V. Exas., Sr. Presidente, fôr examinar as já referidas contas de gerência publicadas no Diário do Govêrno de 14 de Fevereiro, 2.ª série, lá encontrai á a menos nas despesas feitas com a dada externa 70:000 contos, ou 700.000 libras, que não se pagaram no primeiro semestre, mas que hão-de ser pagas no semestre corrente.

Oferta de ouro anormal, procura de ouro, anormalmente também, reduzida, haviam de trazer necessàriamente um desafogo momentâneo.

E êstes factores conhecidos do mercado provocaram, naturalmente ainda, pela melhoria cambial de ocasião que se descontava como certa, um movimento de pânico em sentido inverso do que se dera até então.

Quem represara libras, vendo estas a perder, em cada dia, alguma cousa do seu valor, apressou se a trazê-las ao mercado, onde, portanto, afluíram assim, além das receitas normais, as que estavam retidas à espera de divisas mais altas,

Por outro lano desde que o câmbio desandou e se supôs que o escudo podia vir para a casa dos 90, como o anunciara o Sr. Rodrigues Gaspar, quem tinha compras ouro a fazer ou pagamentos ouro a realizar naturalmente os retardou na esperança do adquirir com menos número de escudos as cambiais respectivas.

Da mesmo, forma, quási todos os Bancos, longo do manterem as suas reservas do cambiais, liquidaram-nas, usando até dos seus créditos do estrangeiro para tomarem uma posição de devedores. Isto é, largaram o ouro na alta, com o propósito de refazerem as suas posições na baixa.

À especulação do Govêrno, que trouxe ao Estado um prejuízo de 110:000 contos, sucedeu juntar-se a dos particulares.

Mas daqui para o futuro não há mais prata a vender, nem mais fundos de conventos, nem mais navios. Tam pouco há possibilidade de novos calotes de juros ou amortizações.

E, pelo contrário, há que pagar as importações em suspenso ou retardadas, há que repor as posições ouro, propositadamente abandonadas na alta, há que fazer uma pesadíssima importação de trigo, porque o ano cerealífero foi mau.

E, como se tudo isto fêra pouco, há ainda o financiamento de Angola, que, só de início, nos arranca 2;000.000 de libras.

Some o Sr. Velhinho Correia todas estas verbas de deminuição de oferta e de aumento de procura de ouro, o S. Exa. me dirá depois se é possível afirmar com verdade e sinceridade, seja aqui, seja nas colunas do Diário de Noticias, que a balança económica da Nação se encontra em equilíbrio.

É bom, repito, que não se pregue a desconfiança, mas é mau, repito também, que se pinte a situação pela forma porque o Sr. Velhinho Comia o fez.

Há o perigo de que a sugestão dêsses dados errados conduza de novo à prática