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26 Diário da Câmara dos Deputados

Dedico ao Sr. Ministro do Comércio uma velha amizade e, finalmente, não tenho duvida em afirmar que no Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros eu conto um dos meus melhores amigos.

Nestas condições, é fácil de calcular como me constrange ter de dizer ao Govêrno que não concordo do modo nenhum, com a sua organização, porque não posso deixar de atribui-la ao propósito evidente de mais uma vez arredar do Poder o meu Partido.

Embora pessoalmente, repito-o, tenha muita estima por vários dos indivíduos que compõem êste Govêrno, tenho de dizer-lhes que serviram muito mal a República.

Sr. Presidente: não vá parecer, pelo facto de vir eu agora usar da palavra depois de brilhantemente o ter feito o Sr. Cunha Leal, ilustre leader do Partido Nacionalista, que existe qualquer discordância entre nós dois ou adentro de meu Partido.

Não, Sr. Presidente; simplesmente porque todos os pretextos servem à maravilha para explicar atitudes quando essa explicação se torna difícil, nós não podemos nem queremos dar a quem quer que seja o direito de procurar em atitudes nossas desculpas para as suas.

O Sr. Cunha Leal falando em nome do Partido e exprimindo o sentir do Partido, não apenas do seu grupo parlamentar, tinha de fazer afirmações que poderiam amanhã servir para justificar atitudes; não devia ser portanto, por êsse facto, quem, na moção a enviar para a Mesa, devesse marcar a atitude do Partido de que S. Exa. é ilustre leader, e assim, Sr. Presidente, por indicação de S. Exa., de acôrdo entre todos nós, é que essa moção será apresentada por mim.

Não pretendemos neste momento, não pretendemos no momento em que resolvemos apresentar essa moção, que ela seja aprovada; já sabemos, e neste momento não era lícito ter dúvidas, que ela será votada só por nós, não tendo outro voto além dos nossos, mas nem êsse facto nos impede de a apresentar.

Tem uma vantagem : definimos claramente a nossa atitude e não tendo que modificá-la, porque a forma actual seja diversa ou tenha características diversas do Govêrno anterior, nós tínhamos que definir absolutamente a mesma posição que assumimos perante o outro Govêrno, não sendo de estranhar senão que, não tendo mudado as circunstâncias, tivessem mudado as atitudes daqueles que o derrubaram.

Sr. Presidente: não quero, já que estou no uso da palavra, deixar de fazer uma ligeira referência à declaração ministerial que há pouco foi lida pelo Sr. Presidente do Ministério.

Salvo o devido respeito, e o Sr. Domingos Pereira sabe perfeitamente que ou sou incapaz de, por qualquer modo, procurar deminuí-lo. Essa declaração está feita em. termos de podermos dizer à vontade que e uma declaração que poderia ser feita, e era de esperar que fôsse feita, não por uma pessoa na situação do Sr. Presidente do Ministério, não por uma pessoa da categoria de S. Exa., mas por uma daquelas pessoas que simboliza, porque, de facto, de princípio até o fim, na preocupação de nada dizer, parecendo que dizia alguma cousa, o Sr. Presidente do Ministério foz uma declaração ministerial que podia perfeitamente ser assinada por uma pessoa que se não chamasse Pereira.

Sr. Presidente: começa o Sr. Presidente do Ministério por afirmar que as condições políticas e sociais são do uma gravidade que ninguém desconhece.

Sr. Presidente: este é um daqueles conceitos profundos que deixaria boquiaberta determinada assembléa.

Mas S. Exa., continuando, diz que a própria dificuldade dessas circunstâncias converteu a alta missão que o Sr. Presidente da República lhe confiou num daqueles deveres patrióticos e republicanos a que um homem público não pode eximir-se sem se deminuir e desacreditar.

Sr. Presidente: é fácil de adivinhar onde vai ter esta afirmação.

E fácil do concluir qual foi êste dever patriótico e republicano que o Sr. Domingos Pereira se viu obrigado a cumprir.

Simplesmente, Sr. Presidente, êsse dever não devia ser de molde a obrigar o Sr. Domingos Pereira a descer, porque desceu, da alta situação que ocupava e da alta consideração em que era tido.

Mas S. Exa. é o primeiro a reconhecer que se decidiu a tudo sacrificar no cumprimento dêsse dever.