O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 9 de Janeiro de 19l9 5

que não costumo fazer uso de perífrases e de circunlóquios. Mas êsse Chefe de Estado já não existe para completa a sua obra de saneamento, de pacificação e de redenção dêste país oprimido e flagelado por um despotismo audacioso, indolente e torpe. Êsse varão ilustre, intemerato, sentimental, magnânimo e altruísta, êsse grande benemérito da pátria foi vilmente trucidado pelas balas de ferozes energúmenos, de sanguinários assassinos, de mineráveis sicário, não em campo aberto e em combate lial, mas sim em uma cilada abominável em que êle não podia defender-se; mas a sua memória gloriosa será perdurável e encarecível e transmitir-se há à posteridade, de geração em geração e de século em século, emquanto neste país houver portugueses que sejam digno de tal nome.

As palavras u ao podem exprimir a enormidade do crime, a perversão moral de seu autores e cúmplice a intensidade da dor que nos dilacerou as fibras do coração e a consternação profunda de iodas as pessoas honesta dêste país que, ao saberem a infausta notícia do execrando atentado, ficaram atónitas e horrorizadas e imersas em cruciante amargura, como se fossem fulminadas por um raio forjado e brandido pelo inferno.

Paz à sua grande alma, honra h sua memória gloriosa e que os miseráveis assassinos sejam prostrados pela maldição do céu.

Queremos justiça, justiça pronta e severa, sem tergiversações nem delongas que sejam absolutamente indispensáveis para a formação da culpa e julgamento dos criminosos.

Temos direito a exigir justiça pronta e severa em nome de nossos constituintes e para desafronta nacional, ultrajada pelo assassinato do Chefe de Estado. Se justiça não fôr feita, ser-me há lícito profetizar, como profetizou Jeremias sôbre a ruína de Jerusalêm, pela morte do Redentor e então entoarei, como música plangente, o De profundis clamavi ad te, Domine, Domine exaudi vocem meam, em sufrágio expiatório pela pátria menosprezada e envilecida.

Seguirei atentamente a política do Govêrno, que será a do Govêrno anterior e quê só coaduna com as minhas ideas e sentimentos, mas isso não obstará a que
eu deixe de aprovar alguns actos e providencias de administração quando entender em minha consciência, inspirada únicamente pelo sentimento do bem colectivo, que não merecem aprovação.

Bem sei que é muitas vezes difícil traçar uma linha divisória entre as esferas da política e da administração, mas, quando tiver dúvidas, compulsarei os dicionários da especialidade, que são o grande recurso dos inscientes, a bíblia dos ignorantes e quando depois disso u meu espírito ainda hesitar, consultarei os meus colegas, que os há nesta Câmara muito competentes para me elucidarem. Xão tenho experiência alguma destas cousas.

A experiência é a mestra da vida, como a história: som experiência não há sciên-cia e por isso diz bem o adágio, que mais sabe o tolo no seu, que conhece por experiência própria, que o avisado nó alheio.

Depois dêste breve intróito, em que eu precisava de explicar-me o definir a minha situação nesta Câmara, pasmarei ao merecimento de causa, como se diz em linguagem forense. E meu intento chamar a atenção do Govêrno e da comissão parlamentar respectiva para o decreto n.° 4:174 de 25 de Abril de 1918. Êste decreto não pode, a meu ver, sustentar-se, não pode defender-se, não é manutenível.

Legislou-se muito, legislou-se em demasia em decretos expedidos pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros da Justiça e Cultos, sem ordenação, sem critério, tumultuáriamente e à vontade dos fregueses, como se diz vulgarmente, não se atendendo ao prolóquio latino Plures leges, péssima respublica, ou multitudo legum ruina reipublicae.

Queira V. Exa. relevar-me, Sr. Presidente, o uso talvez imoderado que eu faço de locuções e frases populares. Não tenho cultura literária e talvez por falta dessa ornamentação mental e porque não sou fluente na dição, nem costumo fazer uso do tropos inflamados e não inflamados, encantara-me essas locuções iminentemente sintéticas, sou fanático por elas. As locuções, os ditados, os adágios, os provérbios, os anexins, as canções e trovas populares constituem a parte mais interessante do folk-lore nacional, são a composição genuína e eloquente do pensamento e sentimentalidade dos povos, uma como eflorescência expontânea e por vezes