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22 Diário das Sessões do Senado

E difícil é traçá-los porque o terreno em que o Govêrno tem de operar está revolvido e inquieto.

Quando se implantou a República, obrigou o seu programa a bulir no princípio da autoridade, da propriedade, da família e a separar a religião do Estado.

E, sendo êstes princípios alicerces da sociedade e a religião um fenómeno que era preciso respeitar por seus interêsses morais e materiais, as medidas e leis adoptadas perturbaram a sociedade portuguesa como sucedeu em 1834 com semelhantes transformações.

Em dois anos de República, ia a sociedade portuguesa adaptando-se ao novo meio, porque os republicanos aplicavam moderadamente as suas novas fórmulas.

Passado porêm êsse tempo e par circunstancias que não vêm para aqui, nesta hora entenderam os republicanos, então detentores do poder, que era preciso praticar rápido e a fundo, todas as fórmulas preconizadas pela República.

Os processos adoptados para tal fim podiam deixar de ser violentos e chocantes.

Ao princípio da autoridade, que de divino passará a ser humano, achincalhou-se por tal forma, que o polícia ou guarda, em vez de respeito, inspirava dó.

O princípio da propriedade, significado do homem em sociedade, chegou por tal forma a ser abalado em seu conceito que ao proprietário se chamou simples detentor.

A maneira como por vezes se praticaram as leis de família fez estremecer os lares.

O processo como se praticava a separação da Igreja do Estado, tornou-se em perseguição ao padre e atentado a liberdade da consciência.

A sociedade portuguesa portal proceder de radicalismo, sentiu-se profundamente perturbada e quando apareceu um homem incarnando a reacção, ela estava ao seu lado. Com um punhado de homens, venceu milhares que custodiavam o radicalismo.

É que a opinião, sempre invencível, estava com êle.

Na luta com o radicalismo, teve de se rodear de elementos conservadores e monárquicos que tambêm o combatiam. Estes por ambição e falsa percepção dos fenómenos entenderam que o país queria a monarquia e, no momento oportuno que as circunstâncias prepararam, astearam o pendão azul e branco.

Sabe-se como lhes respondeu o povo.

Derrubou, num arranco sublime, essa bandeira, e disse lá no alto de Monsanto:

«Não, enganai-vos e atraiçoas-te-me. O povo se não quere o radicalismo republicano, tambêm não quero a monarquia. O povo quere a república progressiva, mas conservadora».

Eis o programa do Govêrno:

O que se produz alêm do Pôrto é simples episódio da errada interpretação que apontei. Há-de cair cedo ou tarde, porque o povo assim o quere, assim o demonstrou.

Êle traçou a linha, ao Govêrno compete segui-la.

E tenho inteira fé de que a seguirá.

Os homens que o compõem tem um passado e êsse passado define-os perante mim e a sociedade.

Neles confio e tem por isso o meu incondicional apoio.

Vozes: — Muito bem.

O Sr. Afonso de Melo: — Sr. Presidente: vou procurar ser breve porque a hora vai adiantada e eu vejo que a Câmara começa a estar fatigada, mas não posso deixar de dizer algumas palavras na ocasião em que aqui se apresenta o novo Ministério, em virtude da situação em que me encontro dentro desta Câmara, que, como V. Exa. sabe, tem, pela representação das classes, uma constituição especial.

Eu represento no Senado os sindicatos agrícolas, e é nessa qualidade que começo por dizer algumas palavras.

Sr. Presidente: como representante da agricultura portuguesa, pelos seus sindicatos agrícolas, tenho muita satisfação em assegurar a V. Exa. e à Câmara que estou convencido de que o Govêrno corresponderá às esperanças que nele deposito como mantenedor da ordem, respeitador da lei e fautor tio progresso da economia nacional, pois que pela sua constituição me mereço a mais inteira e complete, confiança.