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Sessão de 3 de Fevereiro de 1919 23

Eu vejo à frente dêle o Sr. José Relvas, um dos mais esmerados e progressivos agricultores da nossa terra, que à lavoura tem consagrado o melhor do seu esforço e os mais primorosos dotes do seu talento, que tem muitas facetas, sendo uma das mais brilhantes precisamente aquela pela qual se tem esmeradamente consagrado ao progresso e desenvolvimento agrícola. S. Exa. como lavrador, que administra as suas terras, como director da Associação de Agricultura Portuguesa, é bem conhecido de todos nós, os agricultores, e por nós será respeitado e apoiado, na sua obra de Govêrno, que temos a certeza de ser digna do conceito que dêle fazemos.

S. Exa., em nome do Govêrno a que preside, mio veio prometer largas reformas, que não poderiam ser postas em execução nem sequer discutidas no actual momento, mas veio falar ao país uma linguagem de sinceridade e verdade.

S. Exa. tem resolver o problema da ordem pública. Os sindicatos agrícolas, estranhos à política, mas vivendo dentro da lei, não podem negar ao Govêrno todas as facilidades para seguir o seu caminho.

Sr. Presidente: não quero esquecer-me de que o actual Sr. Ministro da Agricultura sucede a um homem pelo qual a agricultura tinha grande veneração, o Sr. Fernandes de Oliveira, ao qual folgo de me referir nestes termos, agora que êle já não é Ministro.

O Sr. Jorge Nunes que o substitui na hora em que o Sr. Fernandes de Oliveira devia abandonar aquele lugar, é o homem próprio para ocupar, neste momento, a pasta da agricultura. Herdeiro de um grande nome como agricultor, como liberal, como tradição de honra e tolerância, S. Exa. não desmente nem estraga essa herança, antes é capaz de a acrescentar. Afirmo a S. Exa. a minha mais alta consideração, certo de que interpreto o sentir de todos os agricultores.

Sr. Presidente: permita-me V. Exa. ainda que, como magistrado que sou, saúde o Sr. Ministro da Justiça, um homem que da magistratura merece a maior estima e o maior respeito pela sua honradez nunca desmentida e pela sua inteligência e integridade de carácter sempre confirmadas.

E, visto que na política do nosso país represento alguma cousa mais do que um simples Senador pela agricultura, permita-me V. Exa. e a Câmara que eu relembre que, tendo fugido sempre a ocupar posições de demasiado destaque na política, entrei, todavia, para o Ministério que se seguiu ao assassinato do Sr. Sidónio Pais, por cuja memória e por cujos altos propósitos eu tenho o maior respeito, que os acontecimentos, sejam quais forem, me não levam a ocultar.

Entrei para êsse Ministério em circunstâncias muito anormais. Solicitado altas horas da noite para dar a minha cooperação a um Govêrno que tinha de constituir-se nessa noite mesmo, porque havia o receio de que, com um pronunciamento militar, se viesse, nesta hora difícil e melindrosa da vida da nação, perturbar a marcha dos negócios públicos e, dum modo geral, a vida do país, acedi a entrar nele.

Não me arrependo disso, porque estive em boa companhia. O meu nome foi, porêm, mal recebido pelas chamadas Juntas Militares, que nessa altura se arrogavam o direito de interferir directamente na organização dos Govêrnos da Nação.

Se faço êste relato, Sr. Presidente, é porque me parece que convêm ficarem registados os pontos a que me refiro, para que mais tarde, quando se fizer a história do momento que atravessamos, ela possa ser feita com verdade.

Sabendo, pois, Sr. Presidente, que o meu nome não era bem visto por parte do elemento militar, procurei imediatamente o Sr. Presidente do Ministério, Tamagnini Barbosa, e disse-lhe que me considerasse desde aquele momento demissionário, porque, tendo eu acedido a entrar para o Ministério únicamente no intuito de evitar que no país se cometesse mais um crime político — e quam grave êle era se está vendo agora — via que o meu nome, longe de servir para aplacar paixões, antes era um pretexto para as exacerbar. E não fiquei por aqui: acrescentei que, se por causa do meu nome se tivesse de disparar um tiro, nem que fôsse para o ar, eu já não punha só à disposição de S. Exa. a minha pasta, mas me recusava terminantemente a subir de novo as escadas do Ministério da Justiça. Esta declaração a repeti no Conse-