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Sessão de 3 de Fevereiro de 1919 19

dadãos, que têm direito absolutamente igual aos outros.

A minha candidatura vingou contra votos de republicanos e votos de monárquicos.

Entendo, portanto, que estou aqui usando da palavra, pôsto que seja pouco numeroso o grupo que represento no Congresso, com o mesmo direito com que outros falam. (Apoiados). E, no uso da palavra, reivindicarei mais uma vez para o Centro Católico a sua completa autonomia.

Na outra sessão desta casa coube-me a palavra depois de ter falado o Sr. Machado Santos. S. Exa. confundiu católicos e monárquicos na mesma censura.

Não respondi imediatamente a S. Exa., porque não ouvi as suas palavras, e só delas tive conhecimento pelas referências que li nos jornais, mas essas palavras mais uma vez me levam a reivindicar a autonomia a que me referi, e na ocasião em que os monárquicos são alvo duma especial animosidade. Essas reivindicações são as que fiz que logo na primeira sessão em que tive a honra de falar no Senado. (Apoiados).

Disse então:

Leu.

Sr. Presidente: o Centro não representa nenhum partido político. Propriamente falando, o Centro Católico é uma agremiação religiosa, se quiserem política, mas política na mais nobre e elevada acepção da palavra. Tem, entre vários fins, tambêm o de interferir na elaboração das leis, em ordem a que essas leis sejam a afirmação da unanimidade cristã, dando à Igreja as suas legítimas liberdades. Por isso mesmo não tem cor política, no seu grémio entram republicanos e monárquicos.

O Centro pregunta àqueles que vão inscrever-se se são católicos sinceros.

Desde que o são, entram para o Centro com as suas convicções políticas.

Não serão molestados por êsse facto.

Pregunto eu: haverá alguma incompatibilidade entre catolicismo e República?

Uma voz: — Não há.

O Orador: — Não há. E realmente os exemplos de autoridades para assim o demonstrar são tam conhecidos que é uma banalidade o citá-los.

Na Suíça, que é uma República federal, a igreja católica goza das maiores liberdades. Nos Estados Unidos do Brasil nação nossa irmã e República também as relações entre o Estado e a, Igreja são boas e amigáveis, e quando lá se proclamou a República, estabeleceu-se a separação entre o Estado e a Igreja, mas o estatuto dessa separação não contêm perto de duzentos artigos, cada um dos quais é um vexame ou uma expoliação. A separação lá fez-se num diploma com cinco os seis artigos, todos duma clareza e lialdade admiráveis.

Nos Estados Unidos da América do Norte — êsse belo país, que na guerra que está a findar, deu um tam nobre exemplo que deve ser seguido pelas gerações vindouras, e onde as liberdades não são só para os que estão no Poder, pois há ali a maior tolerância para os que estão na oposição — a igreja católica goza das maiores liberdades. Presidentes da República que não são católicos, como Roosevelt e Taft, compareceram em congressos católicos e aí prestaram homenagem à Igreja Católica, enaltecendo a sua obra caritativa e a sua acção civilizadora na República.

A religião católica é o principal elemento de ordem o disciplina na sociedade.

Mas há mais exemplos: a Rússia, antes, é claro, do bolchevismo, e a própria China.

Na Rússia, quando caiu o tzarismo, a religião católica gozou, no regime republicano, das maiores liberdades.

O mesmo sucedeu quando a República se proclamou na China.

Não há, conseguintemente, nenhuma antinomia entre Religião e República.

Dir-se-ia que em Portugal é que existe a especialidade dessa antinomia. Mas pregunto:

De quem é a culpa?

Se, em 1910, ao proclamar-se a República, se tivesse enveredado pelo caminho da tolerância, não haveria hoje antinomia alguma entre a República e a Religião.

As primeiras medidas da República, em 1910, foram todas de guerra contra a religião católica.

Foram expulsos todos os membros das associações católicas.