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Sessão de 18 de Fevereiro de 1919 5

Como podiam êsses partidos servir a Pátria, se êles estão formados por grupos de homens que, na sua maioria, apenas queriam viver à custa do Orçamento!...

Nós, os Senadores, queremos que, ao deixar estas cadeiras, fique de nós uma afirmação patriótica. Honradamente aqui estamos, e honradamente queremos sair, para bem da República.

Nós vamo-nos embora de boa mente, contanto que nos vamos decorosamente. E, Sr. Presidente, quando eu sair daqui levo o mesmo desinterêsse com que aqui entrei. A ninguêm solicitei o lugar de Senador, e a ninguêm solicitarei que me conserve. O meu desejo pessoal é deixar já êste lugar, o oxalá que os que nos venham substituir sejam dignos dos que agora vão deixar estas cadeiras.

Vou terminar; mas ainda quero dizer aos meus colegas que no meu espírito passa, neste momento, uma nuvem negra.

Nós vivemos numa profunda desorganização social, e quando se vive numa terra tam linda como a nossa, onde há homens que dia a dia mourejam, odiando os politicantes, para produzir o pão de cada dia, com que nos podemos alimentar, faz pena ver desviarem-se as elites do verdadeiro caminho, entretendo-se em regedorias — não quero dizer mais — que trouxeram à República e à Pátria uma situação como a presente.

Bem haja o Sr. Presidente do Ministério em vir aqui afirmar a sua elevada doutrina, que neste momento é dum altíssimo valor patriótico.

Vejam V. Exas. nas minhas afirmações, Srs. Senadores, a convicção dum homem que fala com toda a sinceridade, e que, quando morrer, quere deixar limpo o seu nome, que com honra mantêm.

Tenho dito, Sr. Presidente.

O orador foi cumprimentado pelo Sr. Presidente do Ministério e por todos os Srs. Senadores.

Vozes: — Muito bem!

O Sr. Castro Lopes: — Sr. Presidente: depois de ouvirmos as considerações brilhantes e ditadas com aquele critério elevado que é próprio do ilustre Senador Sr. Carneiro de Moura, depois de vermos a forma como o Senado apoiou o ilustre

Senador, abraçando-o, que mais teria eu a dizer, na extrema singeleza dos meus recursos, condenado, como estou, a modestas situações?

Mas, Sr. Presidente, é que é chegado o momento de cada um definir as suas responsabilidades, o dizer o que pensa, sente e deseja. É que, Sr. Presidente, como disse o ilustre Senador que me precedeu, esta Câmara tem o prazer de aqui estar emquanto puder, com honra, cumprir o seu mandato, mostrando ao país que faz todos os esforços para lhe ser útil e para corresponder à confiança daqueles que nos elegeram.

Como V. Exa., Sr. Presidente, deve estar lembrado, e o Sr. Presidente do Ministério deve talvez saber, nós, nas horas amargas em que uma aventura de traição, que só com a mentira pôde arrastar-se miseravelmente durante uns dias, com serenidade apresentamos projectos do maior alcance. Isto mostra, Sr. Presidente, que nós queremos trabalhar e dar a impressão de que tínhamos uma fé extraordinária nos destinos da República e que queremos dar o exemplo ao estrangeiro de que pomos mais alto que tudo a nossa Pátria.

Desde o momento em que, como muito bem disse o ilustre Senador que me precedeu, nós temos um ponto vital a encarar, para que amanha todos os partidos políticos possam caminhar com fôrça, para que nunca mais haja perturbações de ordem pública, para que êste país possa ter uma vida feliz e para mostrarmos ao estrangeiro que nós sabemos dar o exemplo e compreendermos os nossos deveres, eu entendo que devemos introduzir no livro da nossa Constituição o princípio da dissolução, mas creio que interpreto o sentir de todo o Senado dizendo que a iniciativa dessa proposta não compete a esta Câmara, sim à outra casa do Parlamento. Estou certo tambêm do que interpreto o sentir de todos os Srs. Senadores dizendo que, logo que naquela mesa se apresente a proposta vinda da outra Câmara, estabelecendo o princípio da dissolução, imediatamente entraremos na sua discussão.

Desde êsse momento, creio que teremos cumprido o nosso dever.

Nós entrámos para aqui com honra e daqui queremos sair da mesma forma.