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Diário â-as Sessões do Senado

Negócios Estrangeiros da Re-pública Portuguesa, hóspede da Inglaterra, expondo um critério político que o Sr. Perez Ca-ballero acaba de pôr em evidência no Senado de Espanha ao discutir a resposta ao Discurso da Coroa.

Foi ainda o Sr. Bernardino Machado, o primeiro Chefe de Estado da Repúbliça, recebido oficialmente no estrangeiro, e ele, orador, que o acompanhou em parte dessa viagem, porque ao tempo exercia uma alta missão em França, tem verdadeiro prazer em assegurar ainda uma voz ao Senado que ela representou para Portugal im acontecimento de signitícativo prestígio.

Ao responder à interpelação a que se referiu teve ensejo de acentuar que o Sr. Bern&rdino Machado, regressando à actividade política, poderia prestar ainda ao seu país valiosos serviços.

Estava então evidentemente no seu espírito a idea de que o mais alto desses serviços seria o de assumir o Governo da República, quando esta tivesse necessidade áfi recorrer ao seu prestígio para a organização dum Ministério verdadeiramente nacional.

Esse momento chegou.

Á Eapública, atravessando uma das suas crises políticas mais laboriosas, teve necessidade de recorrer ao prestígio do Sr. Bernardino Machado pc,ra que, sdb essa égide, se constituísse o nono Ministério que ocupa o poder de 19:30 para cá.

,; Mas corresponderá esse Governo ao que a opinião pública tinha o direito de esperar — e esperava =— da investidora de S. Ex.£ em tam alta missão?

Não corresponde.

Não se refere, é claro, aos merecimentos e serviços dos homens que constituem o Ministério e que são dos mais ilustres da ".República.

Eefere-se à fórmula em que assenta essa organização, e que considera precária, porque não resolve o actual problema político, nem sequer lhe atenua a acuidade.

Nunca foi partidário dessa tradição, pouco democrática, que condena os Presidentes da Rspública por assim dizer ao repouso forçado, à ociosidade obrigatória, quando terminam os seus mandatos.

Não compreende que um homem de valor, pelo facto de ter sido Chefe de Es-

tado, fique imobilizado, escravo da parte decorativa dessas funções.

Compreende e admira a poderosa actividade intelectual do Sr. Poincuré, retomando o seu lugar no Senado e no Conselho Geral do seu Departamento, presidindo durante alguns meses à Comissão de Reparações, subindo à tribuna da Sociedade de Conferências do Boulevard Saint-Germain, para dizer a palavra de verdade! sobre as origens da guerra, colaborando nos trabalhos da Academia Francesa e espalhando os seus primorosos artigos de doutrina e de crítica pelas colunas do lemps, do Matin e da Èevue dês Dtíux Mondes.

Compreende e admira a acção parlamentar, cuidadosa e profunda do Sr. Ber-n^rdino Machado, depois do s e tf regresso a Portugal.

O que não compreende é que se recorra a um homem nas condições excepcionais do Sr. Bernardiuo Machado, antigo Chefe de Estado, para organizar, não um Governo de verdadeira união nacional, como o que reuniu em França, à mesma banca de trabalho, o ultra-conser-vantismo de Denis Cochin .e o socialismo avançado de Júlio Guesde, mas um gabinete de transição —mais um ! — que pela fórmula política em que se baseia é, de facto, uma recomposição, para não dizer uma doublure do Ministério Liberato Pinto.

Para substituir o Sr. Cunha Leal, que de resto abandonou espontaneamente a sua pasta, e para transferir o granae parlamentar Sr. Júlio Martins, da Marinha para a Instrução Pública, ao cabo de quási três semanas da crise ministerial, não valia a pena ir buscar um antigo Presidenta da República!