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Sessão de 14 de Março de Í921

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cultura. Dir-se-ia que se tratava duma recomposição. Não se trata, porém, disso, porque no regime parlamentar a Presidência marca, e, quando ela é ocupada por uma figura como a do Sr. Bernar-dino Machado, a Presidência marcará o presidenciará. O facto, todavia, de haver apenas a inclusão de três Ministros novos é já uma dificuldade para a orientação que a Presidência de S. Ex.a pretender dar ao Ministério; e isto tanto mais que três dos membros do Governo são individualidades de alto relevo político, são chefes e chefes de dissidências, e, portanto, naturalmente inclinados a fazerem vincar o seu doutrinarismo e o seu partid;irismo incipiente.

Mais: os seis Ministros conservadores do Ministério anterior—e entre eles se encontram os três chefes de dissidências — mantiveram solidariedade com a política financeira do Governo anterior — polo menos no respeitante à Agência Financial — política financeira essa que, todavia, foi repudiada pela Câmara dos Deputados, em voto expresso que originou a queda do aludido Governo anterior.

E isto, Sr. Presidente, que parlamen-tarmente mal se compreende, não o compreenderá por certo o País, que verá apenas na solução uma combinação de políticos destinada a, ilògicamente, mais uma vez resolver insuficientemente dificuldades de ocasião e aplacar irrequietu-des emergentes, importunas.

Mal iria ao regime, Sr. Presidente, se todas as organizações partidárias se dei-xassem levar nas circunstâncias difíceis que a nação vein atravessando, pela ambição e conveniências de alcançarem o Poder, sem atentarem na alta necessidade -da existência de' uma firme fiscalização desse niosmo Poder.

Sr. Presidente: a experiência dos Governos de concentração a dentro da República está feita; e é convincente que só um se salva — o da União Sagrada, a que presidiram circunstâncias especiais de alta isenção política e ainda o fito claro e preciso de fazer a guerra.

Nem mesmo o que se seguiu a Monsanto, conseguiu salvar-se e não se salvará este, Sr. Presidente, apesar da alta individualidade que â ele preside, e do relevo das figuras políticas que em grande parte

o constituem; porque o amálgama em que se confundem, sem homogeneidade de espécie alguma, lhe criará fatais incertezas, lhe tolherá a decisão e acção indispensáveis para a obra do tranquilização e defesa social, de reconstrução económica e financeira, que as circunstâncias graves do país urgentemente impõem, e com urgência absolutamente instante.

Visionou bem a Presidência do Ministério a essência do problema a resolver, quando fez caber numa só palavra todo o seu problema: gavernar.

Simplesmente do seu esforço resultou o instrumento menos apropriado e o mais contraproducente que poderia obter; para a realização do desideratum que havia alvejado.

E porque é esta a nossa firme convicção, se motivos vários nos não houvessem'levado antes, por ocasião de outras crises, a não concordar com Governos de concentração, isto seria bastante para, na gravíssima emergência actual, nos determinarmos a tomar posição formal contra semelhante constituição de Governo.

A nossa oposição ao Governo que ora se apresenta ao Senado será, portanto, serena, cuidadosa e constante. A nossa fiscalização dos seus actos será condicionada mesmo nas questões de ordem interior e quamo aos factos da vida internacional : pois que àquelas teremos de encará-las sempre sob o aspecto da tranquilidade material e dos espíritos e da legítima defesa da nossa organização social, e estes deixaram de ser em parte, e em quanto todas as nações, aos registos das chancelarias e às reservas das intrigas diplomáticas, nem sempre harmónicas e subordinadas às altas conveniências dos respectivos países.

Claro que tudo sempre dentro da correcção que nos é própria e já tradicional, como V. Ex.a, Sr. Presidente, bem sabe, nesta casa do Congresso.

Da leitura da declaração ministerial, Sr. Presidente, ressalta logo o cuidado delicado com que foi feita, toda ela revela bem o espírito culto o compreensivo que a elaborou, com autêntica habilidade de homem de Estado.