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Sessão de 12 de Airil de J921

O .Sr. Presidente:—Em vista da manifestação da Câmara, considero -aprorva-das as propostas dos -Srs. Abel Hipólito e Augusto de Vasconcelos.

Faço, no emtanto, notar à Câmara que a comissão que, em nome do Senado, tem de ir saudar as missões estrangeiras em Portugal deve ir ainda hoje desempenhar o seu mandato, porquanto essas missões partem amanhã para o Porto.

E visto que foi a Mesa quem ficou encarregada de nomear a comissão, eu comunico à Câmara que ela escolheu para a comporem os Srs. Pereira Osório, Ca-tanho de Meneses, Melo Barreto, Vicente Ramos, Abel Hipólito, Celestino de Almeida, Augusto de Vasconcelos, Dias de Andrade, Lima Alves c Rodrigues Gas-par.

O Sr. Melo Barreto: — Começa por acentuar que Portugal viveu, na última semana, algumas das comoções mais fortes da sua história. O destino tem, evidentemente, desígnios poderosos, ante os quais se quebram todas as previsões humanas, por mais lógicas que pareçam — e são inexauríveis as suas forças de creação. Mas não será fácil, mesmo ao seu altíssimo poder, o reunir, em poucos dias, outros acontecimentos que possam exercer sobre a alma portuguesa uma acção comparável à daqueles que acabam de produzir-se numa atmosfera de apoteose, de que António José de Almeida foi o intérprete perfeito no seu discurso maravilhoso do •dia 7, que o Governo deveria mandar ler em todas as escolas e afixar nas paredes

Nesse período áureo, para a Pátria e para- a República, em que as principais nações do mundo ajoelharam junto dos despojos dos Soldados Desconhecidos, deu--se um facto que teria assumido, também, o caracter de manifestação nacional se uma rara delicadeza de sentimentos, ao serviço da mais alta devoção patriótica, não o houvesse, propositadamente, apagado, eni face do acontecimento máximo que se celebrava. Refere-se à vinda de Afonso Costa a Portugal, depois de alguns anos de ausência, dois dos quais foram consumidos no trabalho exaustivo da mais difícil missão que um português tem desempenhado fora do seu país. Por circunstâncias especiais da sua vida pública—compa-

nheiro de Afonso 'Gosta, como delegado técnino Ao Governo português na Conferência dos Governos aliados, de 1917, cuj.a obra Clenientel definiu como sendo um pacto realizado sobre o granito das realidades, e Ministro dos Negócios Estrangeiros desde o próprio dia em que foi assinado o Tratado de Versailles—ninguém conhece melhor do que ele, orador, em todas as suas fases, em todos os seus aspectos, ern todos os seus pormenores, o que representou esse trabalho, em que Afonso Costa fez, sempre, a defesa dos nossos direitos, tam legítimos como os dos outros combatentes da grande guerra, e a exaltação das nossas aspirações, tam despidas de egoísmo como as que mais o foram nessa luta espiritualizada por uma rara beleza moral. Por isso mesmo, sobre ninguém impende, talvez, mais fortemente, o dever de saudar o grande homem de Estado, esmalte e glória da República, e de apontar ao país o seu exemplo, no momento em que ele vem a Portugal associar-se á consagração daqueles que simbolizam o esforço dos soldados heróicos que não voltaram, quer o seu sacrifício se tenha consumado em terras sagradas dessa França invencível, onde floriu, para o mundo, a mais, alta expressão da liberdade, quer na África, onde a luta não foi menos gloriosa para os portugueses que ali tiveram a missão de dar a vida pela honra e pelo futuro da sua Pátria. Desse dever se desobriga, expressando a Afonso Costa, daquela tribuna, o agradecimento de quem foi, durante alguns meses, a muitas léguas de distância, na modéstia da sua acção ministerial, um colaborador, de todos os dias, da obra desse português ilustre, acompanhando-o com uma tenacidade, uma fé e uma dedicação que podem, naturalmente, ser igualadas, mas que nunca serão excedidas.