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Sessão de 24 e 25 de' Marco de 1924

No discurso brilhante do Sr. Herculauo Galhardo houve uma afirmação que feriu o meu credo político.

S. Ex.a imaginou maravilhas do seu querido regime, que, disso estou convencido, já deu-o que tinha a dar o está om perfeita liquefacção.

Ainda tenho a esperança de, apesar de velho e com os pés virados para a cova, ver ali o retrato do Sr. D. Manuel.

Risos.

S. Ex.a o ilustre Sr-. Herculano Galhardo fez uma distinção entre 0'que era o povo português e q povo inglês, S. Ex.:i disse não ser pessoa para estar a fazer cumprimentos ao povo—também me julgo no mesmo caso — mas estimar o povo.

Continuamos a estar no mesmo caso; também estimo o povo.

Sr. Presidente: se há alguns pontos de vista em que posso estar de acordo com o Sr. Herculano Galhardo, outros há em que tal se não dá.

S. Ex.a disse que o povo português para produzir bom trabalho precisa de estar de bom humor.

Direi serem duas as condições necessárias : a primeira é ser bem remunerado e a segunda é ser amavelmente dirigido.

O nosso povo não tem o seu Iwme como tem o povo inglês, como muito bom disse o Sr. Herculano Galhardo, e a diferença é primordial.

O Sr. Herculano Galhardo (interrompendo}'.— Parece-me; o que se deveria.era todos nós fazermos com que o nosso povo também tivesse o seu liome como tem o povo inglês.

O Orador: — Perfeitamente de acordo, mas posso dizer que se o povo inglês pode ter home, o nosso não pode; o nosso povo não tem em geral habilitações nenhumas e a sua mentalidade e necessidades são inteiramente outras.

O Sr. Herculano Galhardo (interrompendo)'.— Como é que o povo há-de ter cultura, se não lha deram.

O Orador:—A culpa não ó minha; vem de longe.

Mas V. Ex.as, que demoliram o regime anterior e tanto afirmaram irem fazer o ressurgimento nacional, em vez desse res-

surgimento só vejo terem feito o afundamento !

S. Ex.a disse também —nesse ponto posso concordar em parte— não termos em algumas repartições funcionários a mais.

Efectivamente nalgumas repartições não temos pessoal a mais, pelo contrário; mas em outras temos um excesso enorme, não só numérico, como também excesso deini-competência. •

j S. Ex.a sabe haver bastantes empregados que nem carteira têm !

Sr. Presidente: o ilustre Senador Sr. Herculano Galhardo disse também^-com assombro ouvi fazer tal afirmação •— ser o pessoal bancário pessoal parasitário,

O Sr. Herculano Galhardo (interrompendo):—A indústria bancária tem a sua justificação, mas dentro de uns certos limites.

O Orador:—V. Ex.a sabe que os bancos e os banquetes se multiplicaram com o aumento de movimento comercial e industrial que veio da ilusão da riqueza em que nadou durante a guerra e algum tempo depois da guerra a'sociedade portu--guesa. -

Imagina-se que um certo comércio está numa prosperidade extrordinária. Se formos verificar as condições de valores finais de algumas das pessoas a quem se quere fazer referência, veremos estarem os haveres dessas pessoas reduzidos a metade do que tinham antes da guerra.

Outras fizeram fortuna, talvez precipitadamente, e essas foram ajudadas pelos Bancos. Mas fechados de repente os descontos, isso, se deu algum abalo a esses que legitimamente o deveriam ter sofrido, deu-o também aos outros, e estes o sofreram sem para isso haver razão ou terem culpas.

Com relação a uma parto das considerações do nosso ilustro colega Sr. Her-cnlano Galhardo, devo dizer que S. Ex.a não pode ter a utopia de considerar próspero um País com a riqueza comprometida e de finanças arrumadas; não se pode dizer isso, não pode ser!