O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

de 29 de Abril de 1924

Cimento proposto pelo falecimento do Sr. Abílio Soeiro.

Servi com S. Ex.a em África e sei •que o Sr. Abílio Soeiro era um funcionário inteligente e distinto e um homem de bem, que prestou bons serviços ao país.

O Sr. Francisco José Pereira: — Companheiro do Sr. Abílio Lobão Soeiro nos trabalhos da Secretaria do Congresso,-jaão posso ficar silencioso neste momento.

Quem como eu conheceu o extinto e -íeve ocasião de apreciar os seus dotes de inteligência e de carácter, sente uma gran-»de saudade ao vê-lo desaparecer, tanto jnais tendo sido um homem que prestou altos serviços à República e ao país.

O Sr. Presidente : — Em vista da ma-.nifestação da Câmara, considero aprova-.do por unanimidade o voto de sentimento que propus.

Antes da ordem do dia

O Sr. Oriol Pena: — Não quero deixar passar, a oportunidade para chamar a -atenção do Senado, visto não poder cha-onar a atenção do Governo, por não estar representado, para os factos anormais que se estão dando na cidade de Lisboa, podem ter^ gravíssimas consequências e du-.ram há quatro dias.

Não há pão em Lisboa senão em pequeníssima quantidade e distribuída irregularmente, estando a praticar-se, em .alguns sítios, verdadeiras violências.

Já hoje tive conhecimento de que um •pobre homem tinha conseguido obter quatro pães que devidamente pagou, mas foi -deles esbulhado pelo povo em desordem, jficando sem dinheiro e sem pão. É natural que a polícia não possa estar em to-•dos os cantos.

Acho de extrema gravidade que se não -tomem providências contra os anúncios, -com todos os aspectos de nota oficiosa, •de que em certos lugares se vende pão, -quando se verifica que, na maior parte «deles, não aparece tal pão.

Isto é brincar com o fogo e uma pequena faísca pode levar a consequências .gravíssimas.

Não vejo razão que impeça o Governo -de, proceder com energia e firmeza. É -essa a função do Poder Executivo.

Não só os pobres sofrem; as pessoas abastadas, ou passando por abastadas, estão igualmente a sofrer a falta de pão.

Posso dizer à Câmara que para cerca de vinte e cinco pessoas a meu cargo, há três dias não consigo obtor pão.

Julgo o caso de extrema gravidade, não pelo que me diz respeito porque, felizmente, a gente que vive debaixo das minhas telhas sabe resignar-se o sofrer e conserva-se disciplinada e sem sinais de revolta.

Mas a revolta está a dar-se, e a dar-se ao ponto de se perder a noção dos direitos alheios, de que é sintoma indiscutível o facto que há pouco referi.

Na igualdade de populares neste regime democrático não se respeita o esforço de um homem que conseguiu comprar três pães, sabe Deus com que custo, e foi deles esbulhado violentamente.

Vejam V. Ex.a e a Câmara o que pode dar esta pitadinha de pólvora quando lhe cair um fósforo em cima.

jPor isso não posso deixar sem protesto o que se está passando, tanto mais que os jornais atiram para o público uma açu-s sacão gravíssima, dizendo-se que a moagem tendo tomado o compromisso com o Governo, desde que lhe fossem guardadas as padarias, de fabricar o pão necessário, fabrica apenas pão em quantidades diminutas para ser distribuído pelos grevistas !

É de extraordinária gravidade esta afirmação.

Não tenho elementos para poder dizer se é ou não verdadeira, mas está publicada em letra redonda e vai a todos os cantos do país.

Digam-me V. Ex.as se este boato é de molde a conciliar o respeito que deve haver pela ordem e pelos poderes constituídos.

Lamento não esteja presente qualquer membro do Governo porque desejaria pre-guntar-lhe se não haverá meio de fazer funcionar convenientemente os organismos encarregados do fabrico de pão e abastecer a cidade na medida necessária e com pão que seja tragável.

Por agora não farei mais considerações.