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Diário das Sessões do Senado

É lamentável que a colecção de Ministros, representados agora por cadeiras vasias, pondo todos a assinatura nesse infame diploma, se esquecesse que não são só os ricos os lesados, mas sobretudo os económicos modestos e pobres.

Este ódio aos ricos começa a produzir as suas consequências nefastas, prejudicando os pobjeSj porque se esqueceram que só o Montepio X*eral é roubado em 1:500 contos de réis, de rendimento, que não são do Montepio, mas são a verba indispensável para o melhoramento de pensões com que tem, na medida do possível, atenuado a miséria das suas pensionistas tam infelizes.

Esqueceram-se que há instituições de caridade que tinham a sua economia cristalizada nesses fundos; esqueceram-se que a maior parte das pessoas que viviam com o rendimento desses fundos estão na miséria.

Posso dizer a V. Ex.a e à Câmara, e posso dizê-lo com a certeza absoluta de não errar, que na minha casa há oito criados que são gravemente lesados.

São criados e criadas que me servem há mais de vinte anos, que me servem com zelo, que sabem compreender o seu dever, que servem com afeição e respeito pelo chjefe da casa.

É cruel que se agarre assim na economia dos miseráveis, se rasgue e se despedace.

A economia dos humildes merece mais

respeito, merece mais carinho dos Pode-

.res do Estado; que isto não são Poderes

do Estado, são frangalhos sem consciên-

cia.

Sr. Presidente: era para dizer isto que eu queria que o Sr. Ministro das Finanças estivesse presente, para lhe fazer ver a ele, que parece ser absolutamente inconsciente, a enorme responsabilidade destes factos, para lhe preguntar quem lucrou com esta ignomínia que, enriquecendo uma ou duas dúzias de pessoas, atirou para a miséria centenas ou milhares de famílias.

Não é também de louvar a cumplicidade que S. Ex.a encontrou no Governo Inglês, que desceu ao aviltamento de tratar com um preto, para produzir tudo isto.

Porque é necessário chegar a um estado tamanho de inconsciência, de falta de

brio, para mandar tratar este assunto em

Inglaterra, por um preto.

Ê necessário chegar a perder a sensibilidade moral para se chegar a esta ignomínia, a não ser que o Sr. Presidente do Ministério, que parece branco por fora, seja preto por dentro, como o seu cúmplice e agente é preto por fora.

É-me penoso estar a levantar a voz, com esta penosa atmosfera de incerteza, com esta inquieta atmosfera de indignação, na plúmbea e abafada atmosfera desta sala em que, mesmo forçando-a, a' minha voz ainda está muito abaixo da minha indignação, do meu desprezo, por homens que assim infamam as cadeiras do poder.

Se a frase é violenta, Sr. Presidente, a minha indignação ainda o é mais, e não podia deixar passar mais esta sessão, deixar passar mais esta oportunidade de falar, de mostrar bem alto, desta tribuna, que ainda tem eco, a minha indignação, a deste lado da Câmara, e a de toda a gente que pensa, que trabalha e que economiza, e entende dever haver dos Poderes Públicos respeito pelas suas economias e pela confiança que lhes merecia a firma do Estado.

O Governo morreu, ao que parece, o país continua.

Terminei.

O Sr. Pereira Osório:—Sr. Presidente: eu pedi a palavra não para responder ao desabafo do Sr. Oriol Pena, porque não vale a pena, sobretudo, porque S. Ex.* aproveitou a circunstância de estar o Governo demissionário e, por consequência, estar a bater num morto.

Gostava mais que tivesse essas considerações diante de um Ministro que lhe pudesse responder à letra.

O que me obrigou a pedir a palavra foi simplesmente para dizer a S. Ex.a que não é praxe parlamentar vir um ministério demissionário ao Senado e que a ter de vir ao Parlamento seria à Câmara dos Deputados que é uma Câmara essencialmente política.

Por consequência, S. Ex.a que já não é novo nestas lides parlamentares deve perfeitamente saber essas praxes.

Os Governos demissionários nunca vieram nem vêm ao Senado, quando muito, vão à Câmara dos Deputados pelo motivo já dito de que é uma Câmara essencialmente política.