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Cessão de Ê2 de Julho de 1924

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Este partido, de que aqui se falou tanto, ó um partido que se propõe realizar na nação italiana uma ponte de passagem para um novo Estado, quiçá até para um Estado republicano.

Entre nós o que é que se vê?

A política conservadora de botas altas, representada pelo Sr. Rodrigues Gaspar sobrepõè-se à opinião republicana que espera que se entre de vez no caminho das • reivindicações sociais em tudo contrárias à expansão da moagem, dos Bancos especuladores e de todos os monopólios.

-. Pouco importa para Portugal que a política de Inglaterra tivesse sofrido alterações, -e que Macdonaid tivesse substituído o Governo conservador de Baldwin.

Pouco importa que Herriot tivesse em França substituído a política conservadora de Poincaré e. do Presidente Millerand e que vai fazendo mudar a face conservadora de todas as nações da Europa.

Mas o que importa saber é que a política em Portugal tem sido e há-de continuar a ser forjada dentro dos directórios dos partidos, que não estão a par nem sentem o protesto da opinião republicana. O que importa ó que a bancocracia, é que a moagem, é que tabacos e fósforos continuem a auxiliar os governos desta República infeliz, servida^por uma burocracia que dá hospitalidade a todos aqueles que têm despejado os cofres da Nação e que avilta todo aquele que não está disposto a aprovar semelhante procedimento.

O Governo do Sr. Rodrigues Gaspar podia dizer à República que estava em condições de satisfazer as suas aspirações.

O Governo do Sr. Rodrigues Gaspar podia dizer.à República, por via da declaração ministerial, que estava resolvido a pôr ponto final no desregramento económico e administrativo da Nação.

S. Ex.a não quis comprometeí-se. E não se quis comprometer porque sabe muito bem,quanto custa responder pelas palavras que se proferem em momentos de exaltarão.

S. Ex.a sabe muito bem que está sendo chamado à barra das responsabilidades por haver na Câmara dos Deputados censurado acremente os Srs. Ministros dos Negócios Estrangeiros e das Colónias do

Governo Álvaro de Castro, o primeiro por ter nomeado um Alto Comissário duma das nossas colónias, para nosso embaixador em Londres, e outro por ter aceitado a exoneração desse Alto Comissário que é o general Norton de Mato s, aquém crismou com a sua costumada ironia de aventureiro político.

S. Ex.a sabe que o ataque que dirigiu a esses dois ilustres, correligionários, a essas duas pessoas que têm marcadas as suas posições dentro do Partido Republicano Português, sobretudo ao Ministro dos Negócios Estrangeiros que era, e é, uma das figuras mais representativas do Partido Republicano Português, pois nem sequer lhe falta a . qualidade de ter sido primeiro Ministro da República, não pode ser facilmente apagado da memória do Parlamento nem da lembrança dos amigos daqueles homens públicos.

Quem com ferro mata, com ferro morre.

Pois bem; o Sr. Rodrigues Gaspar, pre-guntado hoje sobre aquilo que afirmou nessa ocasião, mete a viola no saco e não responde. S. Ex.a continua a deixar em Londres o antigo Alto Comissário em Angola, como embaixador de Portugal, e não tem mais uma palavra de censura para o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros de então e para o seu colega o Sr. Ministro das Colónias, ambos queridíssimos correligionários de S. Ex.a .

Mas os fados cumprem-se.

O Sr. Rodrigues Gaspar em 14 anos de República tem sido tuflo e ainda há-de ser mais alguma cousa.

Por agora basta. Em 1924 já ó Presidente do Ministério. Nas alturas do ano de 1908, quando estava no poder a ditadura franquista, aqueles que aspiravam a um regime de liberdade e trabalhavam pela implantação da República, ou que abominando a tirania do Governo João Franco foram à estação da Rossio esperar o despótico Presidente do Conselho dando vivas à liberdade e abaixo a ditadura não lograram a companhia do Sr. Rodrigues Gaspar nem de tantos outros que hoje pontificam nos partidos da República.