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Diário das Sessões do Senado

senta a opinião pública, ficará esta a saber as utopias dos seus desejos.

Eu digo a V. Ex.a que, sendo há dois meses Ministro da Agricultura, só ontem pude visitar o segundo estabelecimento dependente do meu Ministério.

Não tenho tido tempo de ver nadat porque desde manhã até à noite tenho de atender padeiros, moageiros, questões do batatas, de leite, etc.

Preciso pois desquitar-me destas questões para me dedicar a assuntos do Ministério da Agricultura— da produção, e não apenas do consumo.

Estabelece-se diálogo entre o orador e o Sr. Augusto de Vasconcelos.

O Orador:—A comissão ainda nào está nomeada, estão apenas indicadas as pessoas. É até provável que não nomeio comissão nenhuma. V. Ex.as farão as sugestões que entenderem e eu declaro desde já que tentarei acatá-las.

O que cão posso é continuar a ser quási exclusivamente Ministro dos Abastecimentos.

Agora, a questão do pão.

Eu voii dizer a V. Ex.a como a encontrei e como tenho estado na questão do pão.

Quando tomei conta do Ministério estava entre mãos o manifesto de trigo, por um adiamento que terminou dois dias depois da minha entrada no Governo, e estava prevista a possibilidade da compra de dois carregamentos de trigo.

Vi as disponibilidades e entendi que devia comprar esses carregamentos. A disponibilidade era de 40:000 toneladas em declaração, 3:000 em Lisboa, 3:000 no Porto, e o resto espalhado pelo Pais.

Ora nós consumimos por dia, cerca de 800 toneladas; portanto era fácil calcular que tínhamos trigo até fins de Fevereiro, ou meados de Março.

Portanto, repito, vendo a disponibilidade tentei, primeiro, comprar o trigo no estrangeiro, que rne assegurasse, pola cotação do momento, 270 e 280 xelins, o trigo a 1$40 e tal; faria o diagrama na base 1$60, e assim tinha receita para o Estado e embaratecia o pão.

(íPara que é que eu ia prejudicar a lavoura ? ~~

Tive uma solução, que me pareceu boa.

Havendo em Lisboa apenas 3:000 toneladas de trigo, destinava o de preço mais barato para Lisboa, como tom sido praxe velha, e embaratecia logo o preço do pão. Assim fiz. No entretanto ir-se-ia esgotando o trigo do preço legal 1$80, não tendo o Governo culpa que se tivesse vendido trigo nacional a 2$ e ínais.

íso emtanto abri concurso para a compra de 60:000 toneladas de trigo. -

Mas aconteceu que o preço do trigo começou a subir extraordinariamente, de forma que no dia do fecho do concurso as cotações eram altíssimas, como há vinte e seis anos não sucedia.

Por isso abstive-me de comprar as 60:000 toneladas, preferindo abrir novo concurso só para dois carregamentos.

Isto trouxe grandes embaraços ao Governo, e há-de trazer com certeza o encarecimento do pão, pois não se podem manter os preços do pão na base 1&60 do quilograma de trigo quando este passar, a 1(580 e mais.

A situação é esta: encarecimento anormal do trigo. Temos de aceitar as cousas como são; não podemos decretar que em New-York, Buenos Aires e Londres baixem os preços dos trigos.

E certo que recebi um telegrama do sindicato de Beja pedindo que não comprasse o trigo estrangeiro.

Perfeitamente bem. se tivéssemos trigo nacional paia alguns meses.

Entendi-me com físse sindicato, mas vim a saber que o trigo era pouco para as necessidades do consumo.

O trigo que ali está é para treze ou catorze dias; e já está nas mãos dos intermediários.

Conseguiu o Governo muito rapidamente, sem prejudicar a lavoura, o pão em Lisboa mais barato, na base de l £60, dando ainda um diferencial importante para o Estado.

O vapor do segundo carregamento encalhou. No entretanto ia. para o esgotamento o trigo do primeiro. Por isso mandei buscar farinha à província; e, apesar de muitas dificuldades, não faltou o pão a Lisboa.