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Diário das Sessões do Senado

ticulíir ou pessoal, mas, sim, sentimentos políticos porque, nos anos escolares de 1886-1887 e 1887-1888, estive no Porto e foi nessa cidade que conheci João Chagas e o vi revelar-se um primoroso escritor, que muito apreciei.

-Ás célebres crónicas do Primeiro de Janeiro, do sua autoria, eram então muito comentadas, quer literária quer politicamente."

Sr. Presidente: três nomes andam Intimamente ligados à história da República o da democracia em Portugal, todos "sobressaindo pelas suas personalidades inconfundíveis : João Chagas, pela delicadeza dos seus sentimentos o pela altivez do sou carácter, e os seus dois companheiros dilectos: Alexandre Braga e He-liodoro Salgado, dois grandes caracteres, cada um deles com a sua faceta especial; um o literato e político, com as ideas do 48, com o idealismo dos homens que fizeram a segunda república em França; o segundo combatente autêntico, usava da palavra com uma pujança de argumentos o com uma tal firmeza quo impunha as suas ideas ao respeito do todos.

João Chagas foi, rio tempo da monarquia, um dos mais acérrimos defensores da República, e com aquela elegância de linguagem c, sobretudo, com os seus argumentos saturados de grítudo filosofia, fez um ataque cerrado ao dogma, cue elo nunca acoitou como princípio do qualquer doutrina.

Sr. Presidente: a minha linguagem ó pobre, nunca pensei em sor orador nem qualidades tenho para porventura poder focar todas as facetas do espírito de João Chagas.

Há uma, principalmente, a que me vou referir, por ser a quo caracteriza todos Os seus escritos, desde as crónicas do Janeiro, quando elo mal tinha 20 anos. até às Cartas Políticas, para m:m um código de princípios democráticos, quo todos os republicanos, que porventura tenham em consideração os altos princípios da democracia, devem ter como uni apostolado tanto para aqueles que sempre comungaram no ideal republicano, como principalmente para os que amanhã tenham do dirigir os destinos da República. Essa faceta especial do espírito do João Chagas é a quo fez dôle o maior jornalista republicano do seu tompo.

As Cartas Políticas são para mim como que um manancial de onde brotam ideas, as mais elevadas, e on-de a linguagem ó do tal maneira primorosa e correcta, que não obstante atacar o velho regime com a energia de um velho lutador, não só encontram em nenhuma das suas passagens palavras que firam a sensibilidade do quem quer que seja. Quando atacava os seus adversários, ora sempre correcto e leal.

Disse eu quo João Chaga era um dos idaalistas da República de 1848, o assim é. Leiam-se as suas crónicas, leiam:so os seus diversos escritos corno Os Trabalhos Forçados, crónica dos tempos passados em África, leiam-se, sobretudo, as suas Cartas Políticas. João Chagas consubstanciou o 'seu pensamento político nestas palavras o disse bem: «não temos outros homens que nos governem, temos quo governar na República com os homens quo a monarquia nos legou. O que temos a fazer é modificar a sua estrutura mental, o quo não ó fácil». E, de harmonia com ôsto critério, volta-se para o futuro, cuidando pouco do presente o nada do passado.

Só nas Cartas Políticas escritas depois de 1910, ele viu que eram poucos os homens que tinham feito a República; os dirigentes eram maus, o dos dirigidos, vindos do velho regime, grande parto conseguiu em pouco tempo ascender aos altos cargos da República, sem respeitar os princípios por quo ele tanto se batera, levando-nos à situação em que- nos encontramos,

Era esta a maior magoa da sua vida, que ele, nas suas Cartas Políticas publicadas depois da República, põe em destaque, fazendo justiça aos homens do velho regime que tem servido a República com todo o desinteresse e dedicação.

Foi João Chagas, Sr. Presidente, quem teve a dita de criar unia frase lapidar, o reflexo da sua consciência.

E quo elo esperava muito dos homens da República, quando educados por ela, e muito pouco dos homens que a fundaram, porque tinha a consciência do que não podiam ser bons organizadores os demolidores do velho regime.