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Diário das Sessões do Senado

volucionários tive ocasião de o apreciar, sendo a última vez no 14 de Maio. e vi que era exactamente a beleza que êls imprimia a todas as suas cousas, mais do quo a convicção dos seus argumentos, que chamava a si os homens, e os que assim atraía jamais deixavam de ter por ele aquela confiança, aquela fé que João Chagas sabia imprimir a tudo que fazia.

João Chagas conseguia fazer sínteses perfeitas, belas, das suas doutrinas, mas, se não fora realmente o encanto da sua voz, o entusiasmo com quo falava, a beleza que imprimia a tudo o que dêlD dimanava, não conseguiria a enorme hoste de amigos que om sua volta pregavam as mesmas ideas e o ajudavam a tornar em factos aquilo que ôlo idealizava.

Mas o que eu mais aprecio em João Chagas é o seu aprumo moral, que considero como a cúpula da beleza a que me tenho referido.

Esse aprumo moral manifesta-se em todos os actos da sua vida e revela-se sempre quanto maior ó o perigo, quanto maior ó o embate a suportar.

Vejam V. Ex.as corno em todas as situações anormais em que aparecia alguém a querer limitar as liberdades públicas, a querer calcar a Constituição, João Chagas, quo ocupava um lugar de destaque na diplomacia portuguesa, imediatamente lançava o seu protesto mais enérgico.

Mas não limitava a isso a sua atitude, pois imediatamente abandonava o sei; lugar e vinha trabalhar, vinha fazer uma campanha e uma propaganda para acabar com essa situação anormal, deixando os cómodos da sua vida de diplomata, para arrostar com os perigos e sofrimentos do combate.

E, cousa notável! Ele que era naturalmente um gentleman, um homem qie se impunha pela sua distinção, não desdenhava ir junto das classes humildes pregar o seu evangelho, sentindo-se^ali tani à vontade como no meio da sociedade mais culta de diplomatas.

Com o sou estilo que ora modelar, com o timbre da sua voz quo encantava, e com a sua figura, que dominava, com a sua fé, que impunha confiança, ele conquistava novos adeptos que em breve haviam do contribuir para íazer regressar a República adentro da sua Constituição.

Eram ta m belas e tam nobres as suas

atitudes nos morrentos difíceis, quo eu estou convencido de que se muitos quê ocupavam situações similares fizessem iguais protestos e iguais gestos, o País não teria sido portanto tempo sacrificado, como foi, por duas ditaduras desprezíveis.

Xás infelizmente, o nos tempos que vão correndo, ó o comodismo quo impera e leva até à cobardia.

Se João Chagas tivesse junto de si essas pessoas que ocupavam iguais cargos, mas que se deixavam ficar quietas e silenciosas no seu comodismo, com certeza que neni a ditadura de Pimenta de Castro nem a do Sidónio Pais teriam ido tam longe como foram.

E a um homem, desta estatura moral que pode ser igualado, mas que é impossível exceder-se, é a esta grande figura de cidadão que eu em nome do Porto presto a minha maior homenagem, e em nome do Porto me associo de toda a alma e sinceridade aos votos que V. Ex.a propôs a esta Câmara.

Tenho dito.

O Sr. Afonso de Lemos: — Sr. Presidente : quando cm 1890 Portugal recebeu a grande afronta do ultimatum inglês este país vibrava espontaneamente num grito de protesto, grito que foi dado pela academia de todo o país, academia essa a que tive a honra de pertencer.

Esse grito era apenas nesse momento o viva à Pátria; mas, passado pouco tempo, a esse grito espontâneo e patriótico juntava-se um outro igualmente patriótico e reflectido: ora o grito de viva a República; e a academia do país, que a princípio só dava o grito de viva a Pátria reconheceu, reflectidamente, que era indispensável juntar a esse viva, outro não menos patriótico, qual era o de viva à República, porque entendia que era preciso que a Pátria se salvasse pela República.

Sentiu-se nesse momento um abalo na sociedade portuguesa, e, em presença destes gritos, destas vibrações populares, nós vimos trôs vultos eminentes da monarquia, já então bem conhecidos, desertar dessas fileiras e virem para nós. Esses vultos eram Eduardo do Abreu,- Guerra Junqueiro e João Chagas.