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Sessão de 2 de Junho de 1926

quere incomodar, nem expor, um homem que passou a maior parte da sua mocidade sujeitando-se às contingências que derivam das suas lutas, que sofreu nas prisões, esse homem tem para mim simpatia, muito embora se batesse contra o meu ideal político.

Eu, Sr. Presidente, acima de tudo ponho estes princípios de elevação moral, que devem servir de exemplo para todos aqueles que desejam cumprir o seu dever.

João Chagas foi um grande jornalista. Eu, que o conheci desde. rapaz, quando mourejava na imprensa e nas letras, tive ocasião de o aplaudir e tive também.de me bater com ele. Mas da batalha que travámos nunca resultou cousa alguma que fosse menos agradável para qualquer de nós.

Também me associo ao voto de sentimento proposto pelo falecimento dos Srs. João Stockler e Rodrigues da Silva, e mais me associo ao voto de sentimento proposto paio meu amigo Sr. Afonso de Lemos pela morte do filho do Sr. Ministro da Guerra.

O Sr. Afonso de Lemos também lembrou que naquela época do ultimatum vieram três homens da monarquia para a República, onde incontestavelmente exerceram uma acção violenta para a implantação do novo regime: Guerra Junqueiro, Eduardo de Abreu e João Chagas. E, Sr. Presidente, apesar de militar num campo diametralmente oposto, fui amigo de Guerra Junqueiro e de Eduardo de Abreu.

Não trato, Sr. Presidente, de aproveitar este motivo necrológico para fazer política, mas se porventura a quisesse fazer limitar-me-ia a referir aqui, por assim dizer, a solemnia verba, as últimas palavras que, a respeito da sua tam querida República, essas três figuras pronunciaram à beira da morte.

Também me quero referir a uma figura, incontestavelmente das mais interessantes do nosso tempo, e, sem dúvida, uma glória nacional: o actor Eduardo Brasão.

Podemos dizer com orgulho que o teatro português, neste final do século xix e princípio do século xx, teve figuras que poderiam brilhar, sem o menor favor, em qualquer palco do mundo.

Ainda me lembro da primeira vez que vi representar Eduardo Brasão.

Foi na Morgadinha de Val-Flor, em que ele fazia o célebre papel de Luís fer~ nandes; a Morgadinha era Carolina Fal-co, e o papel do Tio Leonardo era feito por Pinto de Campos.

Eduardo Brasão tinha uma escola, a que notabiliza os artistas, que é a do talento. Nunca teve preocupações de ser naturalista ou romântico.

Eduardo Brasão, com uma grande facilidade de adaptação, sabia ser naturalista nas peças em que os seus autores queriam pintar a natureza,, como sabia ser romântico nas peças em que o autor criava essas figuras de arte.

E por isso quo nós víamos a simplicidade com que ele trabalhava numa comédia, como, por exemplo, A guerra em tempo de paz, e como sabia encarnar de uma forma verdadeiramente notável uma figura tam complexa como é a do Hamlet.

E eu, que tive ocasião de a ver representar por alguns trágicos da Europa, tive o prazer de reconhecer que o nosso compatriota era o que melhor sabia dar vida a esse extraordinário personagem, que o grande escritor inglês soube criar.

Ao mesmo tempo vimos nos nossos dramas portugueses Eduardo Brasão encarnar o sentimento da escola, dizendo versos com aquela toada sem a qual não pode haver comoção.

Dm actor moderno, que queira dar uma feição moderna a um personagem romântico como Afonso VI, provoca um desastre certo.

Brazão teve a faculdade de representar os personagens tais quais eram.

Daí o seu triunfo. °

Não sei se é aqui um pouco descabido entrar nestas divagações artísticas, mas parece-me que nos devemos ocupar um pouco destas "histórias de arte, porque um povo que não tenha um culto pelo ideal não é um povo civilizado.

O orador não reviu.

O Sr. Herculano Galhardo:—Em primeiro lugar associo-me aos votos de sentimento propostos por V. Ex.a e pelo Sr. Afonso de Lemos.