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Diário da» Sessões do Senado

do Sr. Pereira Osório, que foi feita com toda a delicadeza, porque nem doutro modo ela seria aceita.

..Não tenho elementos' para poder avaliar a fortuna deixada por um dos homenageados com essa proposta; refiro-me a,o Sr. João Chagas.

EQ nunca fui das pessoas que privaram com S Ex.a e conviveram de. perto com ele. Fui talvez dos poucos republicanos que, tendo por ele uma grande admiração, nunca' se aproximaram de S. Es.% porque também não era fácil a aproximação com o Sr. João Chagas.

Era preciso efectivamente ser-se republicano ou ser-se português altamente cotado, de grande desembaraço político ou de alto coturno jornalístico para se poder familiarizar com S. Ex.a

Vindo porém ao Senado uma proposta de lei que diz respeito à sua família, eu posso fazer aqui repercutir o sentimento duma grande opinião pública que sabia quanto afastado vivia da pessoa de João Chagas embora não vivesse afastado dos seus artigos jornalísticos. Esses, Sr. Presidente, estavam ao alcance de todos os republicanos; eram baratos e todos podiam cobrar neles a .energia e a força de *vontade para combater o regime deposto.

Mas deixemos asso, Sr. Presidente.

Está incluída na mesma proposta a pensão à mãe do republicano de sempre e revolucionário de 5 de Outubro João Fiel Stoekier, a essa velhinha* como lhe chamou o Sr. Afonso de Lemos.

A essa pensão eu fiz apenas pequenos reparos justamente para que se não dissesse que havia arriere pensée ou parti-pris nas minhas palavras.

Preguntei ao Sr. Ministro da Marinha o que havia a respeito da pensão a que tinha direito c

A do Sr. João Chagas, se V. Ex.as a levarem para o campo pessoal, eu tenho o direito de a discutir e de lhe fazer os meus reparos.

& Porque é que nessa proposta de lei está o filho e não se fala da filha dêsso ilustre extinto?

O Sr. Artur Costa: — E porque está casada.

O Sr. Joaquim Crisóstomo:—Não está tal casada.

O Orador: — Isto apenas para demonstrar e provar que a proposta não foi feita, não foi confeccionada com aquela ponderação que se fazia mester e que devia ser peculiar ao Governo ou ao' apre-sentante da proposta.

O facto* de virem dizer-nos que o Sr. João Chagas morreu pobre pode ser acreditado por nós mas a opinião simplista do povo é que não o acredita, porque não pode morrer pobre quem vivia nos aposentos do mais rico e luxuoso hotel de Portugal.

Porque não - pode morrer pobre quem foi autor de tantas obras, quem foi jornalista e quem era possuidor duma biblioteca de alta valia..

Diz-me V. Ex.a, Sr. Presidente, e dir--me b á o Sr. Pereira Osório com toda a sinceridade, em que eu piamente acredito, que o Sr/ João Chagas não tinha bens de raiz. 4. •

Mas não são recursos somente os bens de raiz, os valores também o são e é importante o que representa uma biblioteca escolhida, seleccionada por mão de mestre, por mão de artista, biblioteca cujo valor nos veríamos embaraçados, para cal-eular. Não seria tarefa íácil nem para os meus méritos nem para os de muitos dos meus pares.

Mas conhecido como era que o ínclito cidadão João Chagas era possuidor duma biblioteca de alto valor, houve entendidos que lhe atribuíram o valor de 1:000 contos. '

Se isso1 é verdade eu pregunto s.e com 1:000 contos e com um bocado de" lápis não podemos fazer as contas de que esse. capital, não em livros mas em outros rendimentos, dá um juro suficiente para a manutenção desafogada da sua viúva e filhos»

Mas dêmos isso de barato e vamos agora considerar que o Governo quere prestar homenagem a este ínclito cidadão.

Está no seu direito e fá-lo com o apoio da Nação republicana.

^Mas não seria muito melhor comprar essa biblioteca duma só vez e num só' lote, evitando assim que verdadeiras preciosidades se dispersem por leilões?