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577 18 DE JUNHO DE 1955

enquanto se mantiverem certas características da rede de produção.
A política do entreposto - embora assente em bases mais sólidas- deixaria também de ser respeitada. Repare-se que ficariam fora do mecanismo proposto todas as conservas que não sejam de sardinha em azeite ou molhos: como muitos dos produtores desta espécie de conservas fabricam também as demais conservas de peixe, logo se vê como é (possível alterar, por actuação noutro produto, o preço fixado à sardinha.
Mas nem tanto é necessário: conhecida a liberdade de movimentação de divisas -que, apesar de todos os controles na circulação de mercadorias, o País tem mantido- fácil é de ver como os preços se podem «compensar por fora».
Poderá dizer-se que, pagando o entreposto preço razoável, ninguém terá interesse em baixar esse preço.
Não se crê que a afirmação seja verdadeira para a generalidade dos industriais exportadores e dos comerciantes exportadores: para muitos haverá o interesse, aliás legítimo, de realizarem maior volume de comércio ou de firmarem a preferência do consumidor estrangeiro pelas suas marcas, uma vez que esta preferência é realidade que contará sempre.

76. O entreposto das conservas de sardinha tal como está concebido obriga a uni complicado mecanismo e «o estabelecimento, em condições precárias, de certas hipótese de base: cálculos de contingentes de exportação; fixação de quotas de «produção exportável», alteração de contingentes e redistribuição de «quotas»; negócio das mesmas quotas, etc.
Anote-se ainda que, no momento em que se pedem reduções de encargos, o funcionamento do entreposto conduz à elevação do preço do produto em, pelo menos, 5 por cento.
Tudo isto seria talvez de aceitar a título transitório e em condições de emergência; não parece que tenha lugar agora, dadas as boas perspectivas do mercado, a existência de uma organização corporativa do sector e a pressuposição de que urgentemente se tomarão aquelas medidas que as circunstâncias impõem.

77. Na economia da sugestão apresentada há, sobre- • tudo, um aspecto favorável a destacar: o auxílio financeiro que para a indústria representa a certeza de poder vender imediatamente a sua produção a preço previamente fixado e remunerador.
Nota-se, no entanto, para conveniente entendimento do alcance da sugestão, que fatalmente terá que entender-se por «produção» a parte da capacidade de laboração que os mercados quiserem absorver e por «preço remunerador» o preço que os mercados estiverem dispostos a pagar. De outra forma arriscar-se-á a indústria a acumular stocks no entreposto e a reduzir, ano a ano, os «contingentes exportáveis» em função desses stocks, que podem manter-se enquanto o entreposto não decidir ajustar a oferta e a procura, desvalorizando a mercadoria. Nessa altura o industrial virá a devolver parto do que julgara ter ganho e que possivelmente já gastam.
Ao fim e ao cabo estaremos sempre dependentes dos mercados consumidores e será, por isso, em função deles que a Câmara procurará fazer algumas sugestões em matéria de organização comercial e auxílio financeiro.

78. Depois de ter estudado o problema da quantidade de fabrico e se ter verificado que, uma vez reconhecida à indústria preferência na aquisição da sardinha e a estabilização, relativa, do seu preço não se levantarão quaisquer dificuldades de produção, resta determinar as medidas capazes de manterem a procura em nível que garanta o escoamento da mercadoria a preço remunerador - e desaparecerão assim as causas, de ordem interna e externa, que estão na base da concorrência excessiva entre os industriais.
Essas medidas deverão visar o alargamento dos mercados e o auxílio financeiro que permita à indústria suportar flexões temporárias da procura ou, mesmo, produzir para armazenar em períodos favoráveis. A estes objectivos, portanto, deverá obedecer uma conveniente organização do comércio das conservas.

79. 0s números que se registaram ao examinar o escoamento das conservas no estrangeiro provam que, tanto nos mercados tradicionais como em novos mercados, o campo nos está aberto para uma larga actuação comercial: a ponderação da capacidade de consumo de um mercado como o dos Estados Unidos; a verificação de que em países europeus diminue a nossa posição relativa de fornecedores, embora aumentem de ano para ano as quantidades que lhes enviamos; a abertura, com carácter de normalidade do mercado inglês, que será nosso enquanto quisermos que o seja, isto só constitui base mais do que bastante para a afirmação de que se produzirmos a melhor qualidade ao preço da concorrência não teremos produção bastante para satisfazer a procura que uma inteligente organização nos garantirá.
Essa organização comercial deverá, como é óbvio, estruturar-se nas bases; que melhor permitam o conhecimento e o domínio dos mercados.
Só depois de cuidada prospecção de coda centro de consumo será possível conhecer:
a) As características a imprimir à mercadoria (incluindo a própria embalagem) por forma que ela corresponda as exigências, diremos mesmo, aos caprichos do consumidor;
b)0 tipo das campanhas de propaganda a realizar em cada merendo.

A adaptação do produto às exigências do consumo é condição base do. expansão das vendas. Não importa saber se o consumidor tem ou não razão; será mais útil reconhecer-lha sempre: se se queixa de que as nossas embalagens são difíceis de abrir, há que tornar a sua abertura mais fácil; se prefere determinados moldes e se gosta de ver as latas pintadas de certa cor, teremos de nos submeter ao seu capricho.
Não é descabida a referência que aqui se faz a princípios elementares do comércio, como o da necessidade de nos sujeitarmos à evolução das preferências do consumidor, enquanto não estivermos em condições de influenciarmos ou dirigirmos nós essa evolução. É que, em muitos sectores da exportação portuguesa, subsiste; teimosa, a ideia de que ao consumidor compete moldar-
se às características tradicionais do produto e não estos àquele. Os que assim pensam esquecem, e perigosamente, que as características tradicionais de um produto foram determinadas, sem que disso muitas vezes nos tenhamos apercebido, por certo clima de consumo ao qual elas se ajustavam. Se o clima mudou, as características do produto terão de alterar-se também, se não quisermos deixá-lo envelhecer e morrer.
A segunda das condições de base em matéria de expansão do consumo é a propaganda: os industriais do reclame souberam criar essa necessidade no público e só há que aceitar o facto.
A propaganda, para ser proveitosa, precisa fazer-se no volume adequado a cada mercado e deverá ser gizada pelos técnicos desse centro de consumo. Aos exportadores cumpre, sobretudo, acompanhar hora a hora os seus resultados, para os utilizarem sem perda de tempo.