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846 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 89

e termina afirmando que ida transformação da mentalidade dai ciastes patronais depende em grande parte o ritmo mais ou menos acelerado das realizações do Estado Novo no campo económico e social» 1. Noutro discurso do mesmo ano, a propósito da função das Casas do Povo, insiste em que ase queremos fazer um mundo novo, devemos começar por nos criarmos uma mentalidade nova, uma alma nova» 2; e no Centro de Estudos Corporativos, recentemente criado, volta a dizer que «os progressos de ordem material devem ser acompanhados pela transformação da mentalidade» e que se assim não acontecer a cada passo, é porque nos desviamos do bom caminho» 3.

10. Que estas palavras dos dois supremos orientadores da nossa organização corporativa, no momento em que ela ensaiava os primeiros passos, não foram proferidas em vão, mostra-o o muito que nesse pouco tempo conseguiu fazer-se.
Rodeado de um valoroso grupo de colaboradores na Subsecretária de Estado e nas delegações do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência - colaboradores provindos, na sua quase totalidade, dos quadros do Integralismo Lusitano, e por isso mesmo bem doutrinados e de espírito retemperado para á luta -, Pedro Teotónio Pereira conseguiu o verdadeiro milagre de pôr em funcionamento, em curto espaço de tempo, toda a engrenagem básica da organização corporativa. Nesse primeiro período da vida do nosso corporativismo e dentro da orientação traçada pelos chefes, doutrinou-se intensamente, fez-se propaganda das novas ideias, procurou-se a transformação da mentalidade geral e estudou-se com seriedade nos gabinetes a resolução dos grandes problemas.
Até que ponto esta doutrinação conquistou os espíritos, e não apenas os corações, é problema a que não nos cumpre responder. Mas que, pelo menos, conquistou os corações pode afirmá-lo quem viveu essa hora de entusiasmo ou quem friamente releia hoje os discursos dos chefes.
Efectivamente, nos discursos dos dois estadistas, desde fins de 1934 -um ano volvido sobre a promulgação do Estatuto do Trabalho Nacional -, a nota que passa a dominar deixa de ser, como até aí, a de proclamar a cada instante a necessidade da doutrinação e da reforma da mentalidade, para ser a de um são optimismo perante as realizações que estão à vista e perante o entusiasmo que por toda a parte, as acompanha.
À parte algum queixume esporádico contra a resistência passiva oferecida em certos sectores que deviam ser os primeiros a colaborar, do que se fala agora, de preferência, já não é da necessidade de reformar a mentalidade, mas da própria mentalidade renovada, de que o entusiasmo suscitado pelas realizações corporativas seria prova decisiva.

acabo de dizer um tanto chegado ao bolchevismo. Contudo, não perderei tempo a explicar que os princípios que preconizamos agora foram de certo modo os que dominaram a vida económica e social, até ao momento em que a doutrina da luta de classes veio cavar entre patrões e trabalhadores o abismo que estamos fazendo desaparece».
1 Ibidem, p. 76.
2 «Casas do Povo» (alocução pronunciada em Serpa, aquando da inauguração da Casa do Povo de Pias, em 26 de Março de 1934), na ob. cit., p. 129.
3 Cf. ob. cit., p. 121.
4 «E não temos que nos admirar da relativa lentidão verificada mo domínio das actividades particulares quando o próprio Estado em muitos dos seus sectores tem tido tão pouca pressa de se converter à fé corporativa». Cf. Teotónio Pereira, «Teoria dos Grémios. Apontamentos de Palestras Feitas em Reuniões do Centro de Estudos Corporativos», na ob. cit., p. 90.
É de fins de 1934 o primeiro discurso de Teotónio Pereira dominado por esta nota optimista: «Para muitos o facto pode afigurar-se de certo modo inesperado, pelo que significa de transformação da mentalidade, de caminho andado em tão pouco tempo. E alguns perguntarão mesmo como foi possível chegar a tais resultados» 1. E mais adiante: «Neste capítulo ainda - e tão delicada era a prova! - o método de Salazar triunfou. Um ano volvido sobre a publicação dos primeiros diplomas de organização corporativa, os factos provam (e com que ata e clara eloquência!) que os trabalhadores portugueses o entenderam e entenderam bem» 2.
Em discursos posteriormente pronunciados é sempre o mesmo entusiasmo e optimismo que transparece. Em Abril de 1936, ao inaugurar em Vila Nova de Gaia a primeira caixa sindical de previdência, regozija-se com a compreensão crescente que a orgânica corporativa vai obtendo nos sectores patronais, a contrastar com o indiferença e desconfiança primitivas 3; e no 1.º de Maio do mesmo ano, discursando em Barcelos, na Festa do Trabalho, podia entusiasticamente proclamar: «Como maré cheia que sobe e alastra avassaladoramente, o influxo das doutrinas corporativas alcança já Portugal inteiro. Cresce sem cessar o número dos convertidos e são verdadeiras multidões que dia a dia abraçam a Ordem Nova» 4.

1 Cf. «A Organização do Trabalho» (discurso pronunciado no Teatro Nacional, em 14 de Dezembro de 1934), na ob. cit., pp. 133 e 134.
2 Ibidem, p. 140.
3 «A organização corporativa pode dizer-se que começa agora a encontrar caminho aberto na anã frente. A certa incompreensão dos primeiros momentos notada em alguns sectores da classe patronal sucedeu uma expectativa confiante, e não faliam já valorei, e dos melhores, que têm clara noção dos problemas actuais». Cf. «Jornada Corporativa de Gaia» (discurso pronunciado em Vila Nova de Gaia, na inauguração da primeira caixa sindical de providencia, em 18 de Abril de 1986), na ob. cif., p. 155.
4 Cf. «Festa do trabalho em 1936» (discurso pronunciado em Barcelos, no dia 1.º de Maio), na ob. cit., p. 170.
Num artigo publicado no Diário da Manha em 1 de Janeiro de 1937, sob a epígrafe «Depois da Fase Sindical a Fase Corporativa», Pedro Teotónio Pereira mostra-se ainda dominado do mesmo optimismo: «A primeira fase teve de vencer obstáculos graves: a desconfiança dos humildes, a incompreensão das classes patronais, a falta de homens de acção bem doutrinados, os intrigas políticas dos inimigos, a impaciência dos simpatizantes e o desconhecimento, pode dizer-se geral, dos dados do problema e das suas condições de resolução. Alguns desses obstáculos nunca serão definitivamente vencidos, porque renascem como a grama e carecem de vigilância constante. Outros estão praticamente arredados do nosso caminho ou é dócil neutralizar o pouco que deles nos resta.
De facto, que as classes trabalhadoras já não estão no geral sob o jugo da miragem demo-socialista, provam-no sem sombra de dúvida os números de inscrição nos sindicatos nacionais. Por outro lado, os impacientes já não profetizam o fim de tudo para o dia seguinte: habituaram-se a ver produzir coisas novas que vão ficando de pé. Existem elementos de valor, dia a dia mais numerosos, que sabem o que á preciso fazer e que pouco a pouco vão ocupando os lugares de comando. As classes patronais saíram dos seus redutos de resistência ou de incompreensão e começam a ajudar o esforço geral, seguindo no sulco dos primeiros exemplos. E ao mesmo tempo os princípios vão sendo mais conhecidos. Nota-se uma tendência cada vez maior, sobretudo na gente moça, para estudar os problemas objectivamente e pôr de parte AS atitudes de ciência livresca, susceptível de brilhar nas controvérsias da critica e da oposição, mas estéril e incapaz na hora de realizações urgentes que para nós soou». Cf. ob cit., pp. 175 e 176.
No entanto, neste artigo já nem tudo são cantos de vitória. Deixa-se realmente levantar a suspeita - numa outra passagem mais abaixo - de que não haja por detrás dos entusiasmos do sentimento a necessária aquiescência da ração; e insiste-se, por isso, na necessidade de que a campanha de doutrinação seja continuada com persistência e firmeza: «A fase sindical da nossa organização encontrou na sua frente os rudes obstáculos a que mais acima se aludiu. Mas não foram só esses. Ainda hoje muito boa gente que se diz integrada nos princípios não entendeu