490 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 31
cento, e é óbvio que possivelmente teria sido alcançada se, em devido tempo, se houvesse realizado melhor análise de prioridades no estudo dos investimentos e se se aplicasse melhor técnica e economia na sua efectivação. Ora o aumento adicional de rendimento que resultaria da obtenção desse nível de õ por cento, em vez dos 3 por cento realmente obtidos, teria sido de mais de 1 milhão de contos por ano - assim acrescentados ao património da riqueza colectiva e à consequente melhoria das nossas condições de vida e trabalho.
Pelo cálculo aproximativo que pode fazer-se em tal matéria, não creio que a concessão de bolsas de estudo a 1100 estudantes - que seria já uma cifra bastante satisfatória - custasse ao Estado mais de 150000 contos por ano. E, se admitirmos que- o acréscimo de rendimento resultante do alargamento dos quadros técnicos qualificados, só atingisse metade do referido montante de 1 milhão de contos, a diferença entre as duas cifras bastaria para traduzir com impressionante eloquência a& vantagens do investimento efectuado no nosso património de trabalho.
Terão VV. Ex.ªs de perdoar-me que tivesse alongado em concretizações objectivas estes reparos, e reflexões à margem do II Plano de Fomento. No limiar da sua realização, que constitui esperança relevante para todos os portugueses, sentimos, pela experiência que o Plano anterior nos legou e pela ponderação dos novos meios e recursos, de valorização nacional, que o Plano, agora em causa vai mobilizar a responsabilidade que ele envolve. Teremos de corrigir posições, de estabelecer mais segura e eficiente orientação, de assegurar o máximo proveito dos esforços e sacrifícios quê a Nação vai empenhar no seu pleno cumprimento. Não é possível, nem importa sobremaneira, transplantar integralmente para uso próprio os métodos económicos de outro» países. Mas a experiência demonstra, com irrecusável realismo, que pouco. ou nada teremos de inovar, bastando-nos adaptar, com segura visão e acerto, os processos práticos que outros países mais evoluídos, de técnica mais assente e de capacidade comprovada já puseram à prova. O caso português no crescimento económico organizado não precisará de ser mais que a recapitulação devidamente adaptada da experiência de outras nações, até porque a nossa vida económica, na sua projecção interna e externa, depende em escala crescente, como a de todos os países, da evolução e da orientação que outros seguirem.
O II Plano de Fomento constitui um alvo que nos cumpre alcançar esforçadamente ou até ultrapassar na medida em que o consentirem as possibilidades e energias nacionais. Esse objectivo não pode depender de critérios ou posições pessoais, seja qual for o nível em que &e manifestarem. Devemos tributar a nossa confiança aos que nos governam, para a corajosa viragem de orientação em que o País, na plenitude das suas. capacidades, terá de integrar-se construtivamente. O resgate das seculares inferioridades, das. dependências estéreis, da dolorosa legenda da pobreza nacional, é faina gloriosa que as gerações de hoje podem reivindicar com orgulho perante o passado, que já nos deu exemplos de grandeza, e perante o futuro; que há-de julgar-nos. O Plano de Fomento de 1959-1964 é obra augurai de novos destinos para toda a grei, o nela devemos colaborar com a disciplina, a f é e o entusiasmo das. grandes épocas da história nacional.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. António Maria Pinto Castelo Branco: - Sr. Presidente e Dignos Procuradores: são para V. Ex.ª, Sr. Presidente, as minhas primeiras palavras.
De saudação respeitosa e de profunda admiração pelas qualidades de equilíbrio, inteireza moral e inteligência de que tem dado sobejas provas durante toda a sua vida.
Para V. Ex.ª, pois, as minhas homenagens de muito apreço e consideração.
Para VV. Ex.ª, Dignos Procuradores, vão tambem os meus cumprimentos, e bem desejaria poder significar-lhes quanto me honra o encontrar-me entre vós ao serviço da grei.
Devo a honra e o prazer de hoje saudar VV. Ex.ª ao facto, bem independente e fora de qualquer merecimento pessoal, de há vinte e cinco anos - um quarto de século! - ser presidente da assembleia geral de um organismo corporativo - a Casa do Povo de Vale de Prazeres, a mais antiga da Beira Baixa e, creio, a segunda criada em Portugal!
Representante do trabalho rural, não parece descabido, antes constitui dever, que, no limiar do II Plano de Fomento, - nesta Câmara - alta expressão do Estado Corporativo e do trabalho nacional - palavras de justiça, agradecimento e gratidão sejam ditas em louvor de quem lhe deu possibilidades, sem esquecer nesta devida homenagem os que devotada e patrioticamente o estudaram, lhe deram forma e ordenamento.
Como primeira observação, salienta-se o que, sendo já conhecido, nunca é de mais lembrar: a inconfundível característica do nosso sistema corporativo, que nas Casas do Povo une o trabalhador do campo ao possuidor das terras que o mesmo amanha e são seu ganha-pão, num objectivo de solidariedade cristã para conseguir o bem-estar do trabalhador e dos seus familiares.
Deixando ao trabalhadora independência na direcção do organismo corporativo que o enquadra, não alheia o proprietário da sua orientação, como não repele, antes acolhe, a sua intervenção nos assuntos de maior monta e responsabilidade em que as Casas do Povo são chamadas a intervir.
O de uma suficiente e justa remuneração do trabalho, ditada pela consciência e princípios cristãos, é um dos assuntos a tratar em comum entre a direcção e a assembleia geral.
O cumprimento desta obrigação por parte dos lavradores nem sempre tem sido fácil.
Se bem que uma vez ou outra se tenha exagerado a precária situação da lavoura, a verdade é que, de um modo geral, o proprietário não se mostra satisfeito, nem o trabalhador, por vezes, contente.
Este mal-estar, muita vez sem razão, constitui argumento, embora sem lógica, para o fraco rendimento de trabalho do nosso rural e também para a bem pouco animosa boa vontade dos lavradores em aperfeiçoar e actualizar os métodos de cultura, em ordem a um melhor rendimento da sua fazenda.
Exige o bom senso, sem escândalo para a verdade, que não se atribua por inteiro ao baixo nível de preços dos géneros agrícolas, o mal da agricultura e daí os baixos salários que numa ou noutra região, por vezes, são praticados.
É de justiça e consolador salientar que tais factos vá o sendo cada vez mais raros.
Nada do que fica dito explica, justifica ou foi causa de certos tristes acontecimentos - de um passado recente -, de características nitidamente políticas e de agitação social.
Aqui e além, onde ò surto de agitação se manifestou, os salários não eram de nível inferior, nem tinha sido apresentada qualquer reivindicação.