26 DE NOVEMBRO DE 1966 329
recerá maior. Outros seguramente - e em especial da profissão que engrandeceram - se poderão pronunciar com maior saber sobre as grandes virtudes do engenheiro e caber-me-á, espero, o prelúdio de uma homenagem em que penso não confundir o dever com os meus sentimentos.
Foram os Eng.ºs Ferreira Dias e Trigo de Morais grandes como as suas realizações. E quem olhar o leito sinuoso dos rios portugueses, o fragor rápido dos caudais, a calma superfície das represas, o tecido laborioso dos canais de rega, a teia (...) dos condutores de energia, o colorido das terras cultivadas e das fábricas, em muito certamente encontrará o esforço entusiástico dos homens, a razão esclarecida dos estadistas, a audácia de concepção dos engenheiros, a perseverança dos realizadores ao longo da terra portuguesa deixaram marca indelével do seu génio. E se tivéssemos de os julgar pelos seus feitos, são eles tão dignos de admiração que por vezes não sei como lhes havemos de exprimir o nosso reconhecimento e que sempre nos restará o pêsame de nos haverem chegado tão tarde e deixado tão cedo.
Está a obra tão próxima de nós que por vezes o julgamento se pode obliterar, mas o homem cuja personalidade se realiza na acção, mesmo de juizes injustos ganha o respeito.
O tempo da engenharia e da economia, que por vezes parece infinito, viu as palavras serem realizações e os actos falarem por si. Quando gentes despreocupadas viviam um céu azul, um belo clima e uma felicidade amadurecida, víamos os homens baterem-se pelo ideal de permitir a prosperidade prodigiosa de novos desenvolvimentos. A luta não foi breve nem nunca terminaria, mas a confiança imensa e experiência dos múltiplos combates permitiram animar e orientar seguramente as formas de progresso. Um combate que se viveu em paz e de que saíram vencedores na memória dos homens e no campo da natureza.
E se abandonarmos o terreno e nos recolhermos na meditação e leitura dos seus escritos - e, em particular, os pareceres da Câmara Corporativa de que foram relatores -, quantas lições e exemplos não colhemos, a par do entusiasmo que nos assalta e das certezas que nos tomam. Nesses escritos, a lucidez, o rigor, o conhecimento profundo encontram-se ao serviço do raciocínio como intérprete da imaginação, da sensatez como condutor da audácia. Pois se Portugal tem homens que podem imaginar e conceber tantas e tão grandes tarefas não podemos duvidar do seu futuro. E em matéria de tantas dependências como a obra de engenharia ou a realização económica, encontramos nos seus escritos a via luminosa da sugestão segura ou da opção concreta - aí vemos claramente emergir as figuras dos homens públicos que souberam escolher e vieram a realizar.
Esta foi a sua vida trabalho de pela manhã até à noite; este foi o seu exemplo servir do início até ao termo. E se estas palavras não podem ressuscitar os mortos poderão alentar os vivos a venerar o seu exemplo e a não regatear elogios aqueles a quem devem benefícios.
Uma profunda saudade, uma pungente mágoa, uma prece murmurada seria deixar falar os sentimentos. Na razão encontramos lenitivo, ao apreendermos a lição de humanidade que os Eng.ºs Ferreira Dias e Trigo de Morais deram na construção do bem-estar do povo português. Que este rasgar de horizontes, este enfrentar doloroso do futuro, essa luta ingente contra a incompreensão, ou crítica, esse vencer do passado, esse transformar da natureza, possam manter-se como elementos do progresso e do porvir português.
Alguma consolação posso ter hoje, Dignos Procuradores, ao dirigir-me a esta Câmara enaltecendo méritos ímpares a memória dos vivos de todas as gerações reconhece o que há de permanente no exemplo dos Eng.ºs Ferreira Dias e Trigo de Morais, porque não se pode duvidar nem do seu saber, nem da sua bondade, nem da sua grandeza Graças a Deus por nos haver dado homens de tantos méritos e exortação aos vivos para serem dignos de tal exemplo. Assim, serão melhores os Portugueses.
O Sr. Vieira Botão: - Sr. Presidente, Dignos Procuradores Desejo em primeiro lugar cumprimentar V Ex.ª, Sr Presidente, e agradecer a oportunidade que me foi dada de fazer algumas breves considerações sobre o sector do trabalho que, como muitos outros colegas, represento nesta Câmara.
Ao pretender dar alguma arrumação às minhas palavras, julguei necessária uma sistematização que mostrasse a óptica pela qual o trabalhador vê a situação actual do seu sector no País, as mais recentes realizações nesse sector e as suas aspirações futuras.
Ao situarmos o trabalho na orgânica geral do País não esquecemos que ele deve ser encarado parte de um todo e considerado sob vários aspectos, tais como económicos, políticos, jurídicos, humanos e sociológicos. Todos eles, na realidade, se interpenetram e o que procuramos sobretudo é vincar uma realidade, ou seja a importância fundamental que o sector do trabalho representa no contexto geral da Nação e verificar se para essa importância existe a contrapartida adequada.
Podemos dizer que, num país, mais do que as suas riquezas naturais vale o que valem as pessoas que o constituem e a sua vontade e capacidade para o trabalho. Este, o trabalho, no seu sentido genérico, englobando todas as actividades racionais No seu sentido comum, ou seja no do trabalho aliado ao capital para o desenvolvimento económico e social do País, continua válida esta afirmação, pois o trabalho constitui ainda a sua maior riqueza. É, portanto, justo que a essa riqueza seja atribuído o verdadeiro valor.
Segundo uma publicação do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra intitulada. A Repartição ao Rendimento em Portugal Continental, a percentagem do rendimento do trabalho em relação ao rendimento nacional em vários países é variável, situando-se acima dos 70 por cento na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, entre os 60 por cento na Alemanha e na França e um pouco acima dos 40 por cento em Portugal e na Grécia.
Verifica-se, assim, que a posição do rendimento do trabalho em Portugal é fraca quando comparada com os outros rendimentos e sobretudo em comparação com as percentagens de outros países.
Não há dúvida, portanto, que se torna necessária, sob todos os pontos de vista, uma repartição mais equitativa do rendimento nacional, conduzindo a uma melhoria na percentagem do rendimento do trabalho No momento em que o País está empenhado numa profunda renovação económica, parece-nos ser a altura ideal de conseguir essa melhoria. Ao desenvolvimento económico verificado deveria corresponder uma diferenciação progressiva na repartição do rendimento no sentido do aumento da percentagem correspondente no sector do trabalho.
Não esquecemos, no entanto, o princípio de que a evolução do rendimento desse sector terá de ter uma contrapartida na evolução da produtividade conseguida.
Atendendo, porém, ao desfasamento existente entre as diferentes formas de rendimento, não parece haver dú-