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228 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 70

as cinzas do poeta de elevado renome e apregoada, fama que se chamou Francisco de Sá de Miranda.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem, por amor à cultura e por compreensão perfeita do valor dos que foram grandes por liem merecerem da Pátria, queira visitar o local onde j az "aquele grande poeta português de muito grande erudição", como a ele se refere o historiador Castanheda, ficará profunda e desagradàvelmente surpreendido com o abandono, com a pobreza de tudo quanto vê.

Numa pequena capela lateral da igreja de Carrazedo, de paredes nuas, de pobríssimo tecto de madeira já muito apodrecida pela humidade que filtra e de pavimento térreo, ninguém diria que ali repousa o poeta que foi o arauto da Renascença literária em Portugal, o homem de "antes quebrar que torcer", como ele próprio se intitulava, em afirmação de inteireza moral, nos conselhos de conduta dados ao Rei D. João III.

Ao ler as inscrições gravadas nas duas pedras rectangulares de granito cravadas na parede e que constituem o único enfeite daquela fria e triste dependência, não é sem mágoa que o visitante medita na última frase do epitáfio: "em suas cinzas está escrita a glória da sua Pátria".

E então mais vivas se recortam no pensamento estas perguntas:

Como é possível que se mantenha ainda em tão completo esqueci mento um homem que pela sua intensa sede de saber e pelo seu entranhado amor às letras nacionais viaja pela Espanha e Itália e, possuidor de "doce estilo novo", mostra triunfalmente, após um cuidado aperfeiçoamento da plástica verbal a que se vota, que a língua da sua Pátria se adapta as mais belas concepções do moderno lirismo?

Poderá compreender-se que tão pobremente se conserve a jazida de um homem que, por seus escritos e sua escola, nos lançou em pleno movimento da Renascença, até então limitado, na opinião de D. Carolina Michaelis, a um vago crepúsculo?

Será admissível que permaneçam ainda, sob a humidade daquele recinto tão frio, tão escuro, tão desprezado, as cinzas do homem que Diogo Remardes, António Ferreira, Andrade Caminha, Frei Agostinho da Cruz, Cristóvão Falcão e tantos outros preclaros valores do nosso quinhentismo seguiram nos seus conselhos e apoiaram em sua empresa de renovação intelectual e literária.?

Gomo é possível, nesta época de reabilitação de autênticos valores nacionais, que naquele ambiente "que nos dá tão profundamente a impressão do nada", permaneçam em esquecimento mais que lamentável as cinzas do ínclito reformador das letras nacionais, do poeta-filósofo e moralista que, no dizer de Aubrey Bell, soube, como o velho Horácio, "exprimir o mais nobre sentimento nas menos e melhores palavras"?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Infelizmente, Sr. Presidente, tudo isto tem "ido possível: Sá de Miranda, o poeta do Neiva, como já foi designado, o homem íntegro, o poeta consciente e sincero

... em cujo peito Apolo inspira
Um saber peregrino, um canto raro.

como dele diz Diogo Bernardes, Sá de Miranda jaz ali esquecido em terra batida de humilíssima capela.

Não exagero, Sr. Presidente; fui lá, a S. Martinho de Carrazedo, há poucos dias ainda. Regressei triste

por ver tilo densa atmosfera de abandono a rodear a memória do homem cujo nome encima, em letras de bronze, a fachada do liceu que dirijo.

E essa a homenagem mais visível, e talvez única, prestada a quem, pelo seu real valor, bem merecia um condigno monumento sepulcral.

Daqui lanço o pedido de que se cuide, o mais urgentemente possível, do túmulo do poeta.

Com este apelo associo-me ao que já foi feito há poucos meses ainda em magistral artigo do Correio dn Minho e secundado no mês findo no Diário de Notícia* e no Diário de Lisboa.

Sei que em tempos foi desejo do Sr. Dr. Alfredo de Magalhães, quando Ministro da Instrução, solucionar definitivamente este caso. Passou, porém, a ocasião e outros assuntos vieram certamente sobrepor-se a esse propósito, que ficou assim no esquecimento.

E necessário, é urgente, que ali chegue uma lufada do ar renovador que varre de há anos os nossos monumentos. E mesmo necessário, para nosso prestígio, que não regressem perturbados com funda desilusão os que. por amor à cultura e aos que a representam, visitam o local onde jazem as cinzas daquele que, no dizer da Andrade Caminha,

Vivo é no convivo na terra anda.

Como reitor do liceu de que o poeta é prestígios") patrono, como natural da freguesia das Duas Igrejas, de cuja comenda D. João III lhe fez mercê, e, finalmente, como Deputado por Braga, associo-me com todo o mais vivo empenho ao pedido dos que patriòticamente desejam ver tratados com respeitoso carinho os restos mortais do homem que, como se diz no epitáfio, "ajuntou poesia humana com suavidade divina".

Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Figuelroa Rego: - Sr. Presidente: porque se apelou para a qualidade de agrário que a mim mesmo outorguei, gostosamente acudo à chamada.

Por minha vez apelo calorosamente para S. Ex.ª o Presidente do Conselho e Ministros das Finanças c da Economia para tomarem sob o seu alto critério o imperioso assunto de que me vou ocupar e para que solicito também a atenção da Câmara.

O problema das lãs nacionais merece especial cuidado.

A sua importância presume-se dos números do arrolamento geral de gados de 1940, visto ainda não estarem publicados os de 1945.

O rebanho continental ascende a 3.900:000 cabeças, excedendo todos os anteriores, tendo-se refeito do declínio registado nos três quinquénios antecedentes. Não esmiuçarei estes números, mas não deixarei de frisar que os ovinos de lã branca tiveram um acréscimo, em relação a 1934, de 566:000 cabeças, graças à maior procura e valorização do seu "fato", como se diz no Alentejo.

Como é sabido, os ovinos produzem têxteis de diferentes qualidades. Apenas, e como inovação, o arrolamento de 1940 distingue duas classes: os churros e os não churro, aqueles com a representação numérica de 1.666:000 cabeças e os últimos com 2.223:000, ou seja mais 557:000 cabeças.

Não obstante certas causas adversas, como escassez de pastagens, maior matança e mortalidade, temos a impressão de que o ritmo crescente do rebanho nacional se mantém. Deve-se isso às maiores áreas arroteadas, à política de fomento desta preciosa espécie pecuária e ao maior preço das lãs.