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652 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 92

baixa cambial. Passo sobre a proclamação da República, em 1910, e os quatro anos esgotados «a convencer» o País das sublimidade» do novo regime e foco o meu primeiro quadro rio ano de 1914!
1914. - Pânico. Corridas aos bancos. Desconfianças a respeito das notas do Banco de Portugal, que algumas repartições públicas chegam a rejeitar.
O ouro desaparece. As bolsas fecham-se. Sobem os preços. Começa a odisseia dos câmbios...
1916. - O Dr. Afonso Costa vai a Londres. Comunica ao Parlamento -como se fora uni triunfo! - que o «Governo Inglês combinou com o Governo Português fazer-lhe tantos empréstimos quantos os necessários para, pagamento de todas as despesas relacionadas com a guerra»... Haver quem nos emprestasse era já um sucesso!
1917. - Desaparece a moeda de prata e a de níquel e a de cobre em circulação. Decreta-se a emissão das moedas de cupro-níquel.
Ressuscita-se uma valha prática dos tempos da desconcentração feudal. E até essas novas moedas de cupro-níquel desaparecem!
Faltam os trocos. A Casa da Moeda emite cédulas. Não chegam. Borbulham a& emissões privadas: inúmeras câmaras municipais, associações comerciais, a Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Ponte de Lima, a Cooperativa de Praia de Ancora, alguns grandes armazéns - tudo emite notgeld em importâncias que é impossível apurar...
1918. - Regula-se o mercado cambial, tributam-se os lucros excepcionais derivados da guerra. Para quê? A agitação recrudesce. Suspende-se o primeiro decreto, revoga-se o segundo... Sidónio é assassinado.
1919. - Deflagra a guerra civil. Os capitais voltam a emigrar em massa.
Álvaro de Castro declara que se «não associará a uma política de esbanjamentos como a que se tem feito e continuará a fazer» (Diário, p. 25).
O Deputado Alves dos Santos grita: «É uma verdadeira falência! Já se fala em bancarrota» (Diário das Sessões, p. 15). A depreciação cambial agrava ainda mais os preços. Desenvolve-se o açambarcamento. Para «capa» das repressões violentas promulga-se a lei n.° 922.
1920. - O Depuro Ferreira da Rocha clama contra o «aumento constante da circulação fiduciária, utilizada como fonte normal e perpétua de receita» (Diário de 27 de Maio, p. 32).
Não têm conta os atentados a bombas de dinamite.
A Associação Comercial queixa-se de que se «procura inquestionavelmente estabelecer um regime de terror» (p. 124 do relatório de 1920-1921).
Cunha Leal ameaça «abrir as burras das forças vivas com o auxílio da guarda republicana» (Diário, p. 12). Dá-se nova corrida aos bancos. Malheiro Reunião confirma: «Não temos dinheiro; estamos em bancarrota, Di-lo uma pessoa que já foi Ministro das Finanças!» (Diário p. 9). António Maria da Silva, esse, resume: «O Pais está a saque» (Diário, p. 28).
Cunha Leal ocupa a pasta das Finanças, procede a balanço e anuncia que: «encontra-se sem recursos em Lisboa e a descoberto em Londres... quase sem os recursos necessários para comprar o pão nosso de cada dia» (Diário de 13 de Dezembro, p. 13).
d921. - Vence-se logo no começo do ano um débito nosso de 2 milhões de libras à Inglaterra. Nas finanças públicas prevê-se um déficit de 265:000 contos.
Barros Queirós preside a um Ministério que dissolve as Câmaras em 1 de Julho; mas em Setembro rebenta o escândalo dos 50 milhões de dólares.
O 19 de Outubro emporcalha-nos. O pavor recrudesce. Da dívida de 2 milhões de libras, pagam-se apenas 500:000!
1922. - Anuncia-se um novo crédito de 30 milhões de libras concedido pela Inglaterra e a atmosfera parece desanuviar-se. Mas é sol de pouca dura. A ilusão desfaz-se. Caímos unais fundo e pior.
1923-1924. - Álvaro de Castro, presidente do Ministério, confessa as suas mágoas: «confrange o coração de quem quer que tem de assumir funções governativas... o verificar que não há ninguém que não jogue na perda do País». Cunha Leal, chamado ao Poder, ameaça na sessão de 22 de Novembro «suspender, pura e simplesmente, pagamentos»; e no dia imediato, a 23, põe os pontos nós ii: «Se me não derem dinheiro para pagar ao funcionalismo, para pagar o material e para pagar as diversas despesas, declaro, sob minha palavra de honra, que não pagarei. Se me não derem dinheiro para coisa nenhuma, nada pagarei».
A Câmara manifesta-se com apoiados!!!
De 1916-1917 a 1923-1924.- O excesso das despesas públicas sobre as receitas excede 60 milhões de libras, 60 milhões!...
As contas de gerência andam atrasadas.
Nem para elaborar e aprovar orçamentos há oportunidade!
As máquinas do Banco de Portugal rolam dia e noite a imprimir notas, notas, sempre notas.
Por esta sala arrasta-se a tragicomédia dos Ministros das Finanças improvisados em horas, para caírem em semanas. Lembram-nos a poesia do brasileiro Marcondes:: «atrás de uni monge, outra monge, em fila que se renova ... e marcham todos para a cova»...
Vende-se a prata.
As derradeiras libras escoaram-se pelas barras do Douro e do Tejo (p. 28 do (relatório da Associação Comercial de 1919).
Sumiu-se a moeda de bronze, e a de níquel, e a de cobre e a de cupro-níquel.
Todas estas misérias fazem bolas de neve.
A bola é já avalanche quando surge o 28 de Maio.
Seria preciso um génio para suspender a corrida fatal para o abismo. A boa vontade desprovida de- técnica dos Ministros que acodem a barrar o progresso da crise não chega. Vive-se numa ante-visão do Calvário...
Esgotados os recursos internos, num. gesto de pobreza envergonhada, atravessamos a fronteira para, lá fora, quase pela calada da noite, obtermos o auxílio dos banqueiros internacionais.
Estala-nos na face, de mão espalmada, o «gesto» aviltante de Genebra.
Meu pobre Portugal, envilecido na indignidade dos insolventes a quem se impõe a tutela de credores. Que horror!... Que horror! ...
Decorrem rápidos os dias.
Vem Salazar.
Vem Salazar.
Vem Salazar! Duas palavras que se escrevem com dez letras e que, todavia, encerram a doação integral de uma vida, a renúncia abnegada ao mínimo da felicidade a que todos temos direito num cantinho do lar, a afirmação dos méritos ancestrais de uma raça, o direito ao respeito dos grandes países, a restauração de uma Pátria e a certeza do seu futuro, se lhe soubermos compreender o exemplo ... e a lição.

Vozes: - Muito bem!