O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

656 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 92

Temos, por conseguinte, pelo menos até fins de 1939, um atestado de «bom comportamento» passado por adversários intransigentes ...
Haverá por aí quem se proponha deduzir-lhe... artigos de falsidade?
Risos.
Exagera porventura quem acusar o Governo de Salazar de não ter previsto a guerra...
Não a previu a Inglaterra, ao ponto de ser surpreendida com uma home guard armada de lanças de trofeus e ... espingardas caçadeiras quase de carregar pela boca.
Meses, semanas, dias, horas antes da madrugada de Setembro de 1939 partia-se para as conferências de que podia resultar um conflito mundial empunhando como única anua agressiva ... o guarda-chuva.
Não concebeu a própria América que ela, a guerra, pudesse feri-la subitamente num dos pontos vitais da sua linha de defesa: a prova temo-la em Pearl Harbour.
Daqui o concluir que não pecaremos por excessiva benevolência consentindo em que o Governo que dirigia os destinas nacionais naquela época podia também dispensar-se de acreditar na iminência da guerra.

O Sr. Botelho Moniz: - V. Ex.ª dá-me licença? ... Em todo o caso tomaram-se muitas providências para abastecer o País na previsão da guerra, tudo de acordo e com o auxílio do Governo.

O Orador: - Mas a guerra veio - a maldita!
E implacável.
Ora, nos domínios da economia, a guerra tem efeitos conhecidos, inevitáveis, que operam imediata, implacável, inexoravelmente.
Quais são eles?
Se não temesse estabelecer diálogo, solicitaria do ilustre Deputado Prof. Pacheco de Amorim o favor da sua colaboração, dando-me resposta à pergunta formulada.
Mas não se ofenda S. Ex.ª; tenho melhor.
S. Ex.ª é um argumentador de lógica fria, quase enregelante. Quero antes aquecer-me ao Sol de 33 de Fevereiro de 1946:
Ë elementar conhecimento da economia saber-se que em período de guerra os países beligerantes são obrigados:
1.° A comprar por qualquer preço os produtos e matérias reclamados pelas suas necessidades de guerra;
2.° A restringir ou anular as suas exportações, pois todos os recursos suo concentrados no esforço militar.

Em contrapartida, os países neutros sabem o que os beligerantes têm de comprar-lhes tudo aquilo de que precisem e que eles lhes podem fornecer».
Logo, a sua defesa tem de consistir «em restringir e fiscalizar a exportação, sobretudo de géneros alimentícios, e desenvolver e acelerar a importação».
Desta fatalidade económica resulta inevitavelmente o desequilíbrio da balança comercial.
Não há que fugir-lhe.
E porque é. Assim mesmo.
Chove e andamos à chuva? Molhamo-nos.
Há guerra e mantemo-mos neutras? Diminuem ou cessam as importações, aumentam as exportações, dedesequilibra-se a balança comercial.
Fatal como o destino.
Foi o que pela acção inflexível do fenómeno económico nos aconteceu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: divergem, porém, até certo ponto os críticos desta quadra da economia nacional.
Para o ilustre Deputado Prof. Pacheco de Amorim a inflação teve as suas origens nas exportações maciças do volfrâmio, das conservas, das resinas, etc., agravadas pêlos desregramentos que, em Dezembro último, condenou no tabelamento de vários produtos.
Para o Sol os acordos monetários com a Inglaterra ocupam lugar de nítido destaque no aumento da inflação.
Conhece-se a campanha de insinuações urdida por cafés e mentideros da política ao redor dos «acordos».
E envergonha observar a versatilidade com que alguns modificaram radicalmente as suas opiniões.
Quando a derrota alemã era já visível, recordamo-nos todos do ar de convicta «independência patriótica» com que esses alguns anunciavam que, triunfantes os chamadas «democracias», os Governos vencedores viriam em passeio militar ou através das pressões diplomáticas arrancar do Poder um Governo que aí se encontra pelo voto da Nação, amesendando nos postos vacantes ... o escol do chamado «reviralho».
Enganaram-se. E anal que apoquenta muito boa gente . . .
Os «patriotas» que confiavam na intervenção estrangeira para destruir o que está sofreram aguda desilusão,.
Ao invés do que calculavam, louvou-se internacionalmente a política de Salazar; exaltou-se o contributo que trouxemos à nossa velha aliada; apontou-se a nossa terra como um exemplo de ordem - verdadeiro oásis no deserto de angústias em que se debate o Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E então os acordos monetários luso-britânicos passaram a ser um dos fautores preponderantes, decisivos no desequilíbrio da nossa balança de pagamentos!
Porque não dizer tudo?
Houve a coragem - melhor caberia dizer o topete, mas receio não seja parlamentar -, houve a coragem de insinuar que o Governo de Salazar comprara com esses 80 milhões de libras a passividade ou, antes, a cumplicidade da Inglaterra na manutenção de um regime fascista, última nuvem a empanar o brilho das
maravilhas de liberdade generosamente ofertadas a todos os povos da Terra.
À boca pequena, embriões com gesto e figura humana (graças a Deus, raros) expeliram este «vómito».
Não foi, parem, tão longe a imprensa adversaria, Essa encarou a operação sob outro ângulo, que, aliás, de nenhum modo absolvia o Governo do crime de uma ruinosa contribuição paira o acréscimo da nossa circulação fiduciária.
Exagero?
Vejamos;

Fez-se entre Portugal e a Inglaterra um acordo cujos termos estão no segredo das chancelarias.
A sua liquidação e os termos em que será feita não foram revelados para se poder avaliar dos prazos e garantias.
Contudo deve tomar-se como previsão certa que os prazos serão longos e espaçados e as garantias sendo aquelas que, de facto, o renascimento da economia inglesa permita assegurar. (Sol de 13 de Julho de 1946).
A Inglaterra sustenta que os países- seus credores têm de fazer uma substancial redução nos seus créditos, que considera aumentados artificialmente