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710 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 90

os missionários portugueses, dizia, realizam o milagre dessa perfeita irmandade de sentimentos que leva os crentes que frequentam a casa portuguesa a considerá-la casa sua, numa afinidade espiritual que ainda hoje admiramos nas missões que são nossas, nas missões que foram nossas, e que nenhum povo conseguiu realizar em tão alto grau.
O hábito de monge hindu que reveste o corpo do Santo João de Brito não é mais que o travesti externo de uma vida de asceta, humilde e sóbrio e puro como os sanyassis da índia, no anseio de penetrar melhor a alma das massas e de tornar mais perdurável a infiltração da aluía de Portugal nas almas dos povos que lhe foi dado catequizar.
Nestes tempos revoltos de barreiras étnicas e de antagonismo das raças, que produziram a mais hedionda das guerras que nos foi dado presenciar, é esta a segunda página da mensagem que João de Brito lega à grei portuguesa.
Eu não choro o martírio de João de Brito, porque, filho de um país em que se ensina que a privação e o sacrifício são as armas purificadoras que nos conduzirão ao seio do Imortal, sei que esse sacrifício se transmutou para o mártir e para o seu povo em fonte de perpétua alegria. O sangue dos mártires é como o sândalo, que perfuma o machado que o corta, e o sangue de João de Brito foi desde logo a luz de Saulo iluminando a própria alma dos seus verdugos.
Pertenço a um povo que encara a morte como uma página de vida. Mas quando essa morte é voluntária, ao serviço de um ideal, de ânimo alegre e compassivo, a bendizer o sofrimento e a desafiar os espasmos de agonia que torturam o corpo, curvo-me reverente, como me curvaria perante a imolação voluntária do tantos iluminados que, cheios de fé, repousam no Além, enquanto os crentes na terra cantam nos lares que as suas almas abandonaram: o seu espirito foi para a casa de Deus e Deus entrou no nosso lar.
Que o espírito de João do Brito ilumine com a luz de Deus a terra portuguesa.
Glória a Portugal missionário!
Glória ao Santo João de Brito!
Tenho dito.

Vozes:- Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nunes Mexia: - Sr. Presidente: associando-me ao que nesta Assembleia foi já exposto, direi algumas palavras apenas, que serão antes de tudo de homenagem aqueles patrões e trabalhadores que na terra portuguesa, ao longo dos seus rios caudalosos, e sobretudo nas regiões inundadas, arriscam anualmente os seus haveres o por vezes a própria vida, numa faina que nem sempre é devidamente compreendida.
Acham-se os campos submetidos a um rigoroso inverno, que acarretou a perda de inúmeras culturas e provocará transtornos dos mais sérios na maioria das casas agrícolas.
Tomou o País conhecimento das prontas diligências efectuadas por membros do Governo e para eles apela no sentido de se prosseguir ininterrupta e metodicamente na obra de defesa e de segurança da propriedade, do trabalho rural e da produção agrícola.
Importa estudar um conjunto de medidas, que para melhor apreciação dividirei em três capítulos:
1.° Defesa e segurança da propriedade:
Urge, à semelhança do que se está fazendo em relação à lezíria de Vila Franca, possibilitar ao máximo a criação de associações do proprietários o lavradores exercendo a actividade agrícola em prédios confinantes com linhas de água de diversas categorias.
O Estado, sempre que o interesso geral, directa ou indirectamente, o justifique, deverá comparticipar técnica e financeiramente nestes empreendimentos, muito embora procure deixar à iniciativa particular a efectivação dos trabalhos.
Importa prosseguir na execução de obras que melhorem as condições de segurança das propriedades existentes nas regiões, periodicamente ameaçadas pela cheia, como sejam valados de protecção, estradas de acesso o de descongestionamento, viadutos, etc.
Estão neste caso as seguintes obras, que considero de inadiável urgência:
a) Alteamento do troço da estrada na extremidade da Lezíria Grande de ligação à ponte sobre o Sorraia, por ser essa a única via por onde se poderão salvar os milhares de cabeças de gado que normalmente se encontram na Lezíria, no valor de muitas dezenas de milhares de contos.
6) Reparação e empedramento, em regime de comparticipação por parte do Estado, Câmara Municipal e dos particulares, da estrada que no sentido longitudinal condicionava, noutros tempos, não só a segurança das pessoas e dos gados, como também a drenagem dos produtos da parte da Lezíria Grande a norte da estrada do Cabo, e construção, para idênticos fins, do troço correspondente a sul da referida estrada.
2.° Defesa e segurança do trabalho rural:
Dada a periodicidade previsível das cheias, importa não só dispor de estudos e de entendimentos prévios que permitam abrir nessas regiões trabalhos de interesse geral, como inclusivamente estudar a possível transferência de trabalhadores rurais das regiões inundadas para outras não muito distantes, organizando-se, se necessário, um mecanismo de compensação de salários.
Finalmente, há que melhorar o dispositivo de segurança do pessoal agrícola nessas regiões, criando os necessários postos de socorro e dotando-os de embarcações de pequeno calado e outro material adequado.
3.° Defesa e segurança da produção:
Há que conjugar sem perda de tempo a acção do Estado e a dos particulares no sentido de atenuar ao máximo a quebra de produção, que se antevê como apreciável se prontas soluções não forem adoptadas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Assim urge preparar: sementes de trigos das variedades serôdias; adubos azotados e assistência técnica na respectiva aplicação; uma campanha convenientemente orientada no sentido da intensificação das culturas de primavera; uma criteriosa política de salários, acudindo no momento presente e de uma maneira eficiente aos trabalhadores das regiões inundadas e evitando os exageros de salários resultantes da posterior acumulação de serviços, e, finalmente, uma política de preços e sua fixação oportuna, que, sem esquecer o consumidor, confira todavia aos produtos nacionais valores que não sejam inferiores àqueles por que se estão comprando idênticos artigos no estrangeiro.

Vozes: - Muito bem !

O Orador:- Acudindo, segundo as diversas directrizes apontadas, ter-se-á feito o possível para diminuir os estragos e sobretudo para rodear de alguma segurança