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812 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 101

arquivos, pesquisador do viver local e burguês, e daí, partindo para a devassa dos grandes segredos da evolução.
E logo aqui na vizinha Espanha o professor sevilhano P. Ramon Carande, mostrando-nos a ruína e aflições do grande Carlos V, imperial e endividado Senhor, esse grande Carlos V que se ha ponido en una tumba!
E Carreia Pujal, com a sua história inacabada da economia espanhola, descendente em linha recta de Hinojosa e de Colmeiro.
Mas agora o caso reveste-se de uma importância bem mais flagrante.
Escritores e mestres brasileiros lançaram-se afadigada e entusiasticamente à procura das ideias fundamentais da evolução brasílica e ... da nossa, seu tronco igualmente reverdecido.
Dispõem de tudo - meios, perspicácia, acurada penetração e documentos, pois, além dos que já existiam, se ajuntaram os que D. João VI levou. Por fotocópias podem enriquecer ainda as suas colecções.
Uma falange brilhante de escritores vai rompendo a floresta que entre nós ainda tão temerosamente se adensa.
Merece menção a brilhante escola paulistana capitaneada por Roberto Simonsen, que já nos deu a História Económica do Brasil.
Ainda há dias aqui foi referido com saudade o grande amigo do meu País, Pedro Calmon, que cultivou alevantada e passionalmente a história social e económica.
Herculano, Gama Burros, Costa Lobo, Alberto Sampaio e tantos superiormente dotados levaram às alturas incríveis a análise do facto económico-social e associaram-no à linha evolutiva do português.
Mas o tempo não para na sua carreira e outras são hoje as exigências do espírito e da cultura, requerendo a continuação e desenvolvimento da, sua obra monumental.
Porque, sobre vários aspectos desta matéria, encontramo-nos fora do Mundo e fora da época.
Não acompanhamos a moda!-se é lícito falar assim acerca das tendências da cultura.
Existem, na realidade, estudos actuais da infrastrutura, tentativas interessantes, interpretações originais, trabalhos curiosos, análises críticas, onde domina o económico como factor histórico; não faltam também os trabalhos construtivos de ordem geral, onde o aspecto da riqueza tem direito de cidade ou onde o social prefere ao político estrito; mas falta-nos a disciplina, o ensino oficial, a investigação coordenada. Falta-nos a estação de partida segura para o futuro.
Têm sido postos à curiosidade da actual geração problemas que carecem de maior esclarecimento e que lidam com o dispêndio de energia portuguesa na face do planeta.
Temos de segui-la, não só através do dédalo dos palácios, mas pelas choupanas, armazéns e oficinas, onde o capital e o homem circulam, levantam e se perdem.
Precisamos de esclarecer a vida do português, os seus segredos, a sua utensilagem e produtividade; o enigma das suas actividades, a razão dos seus vagares, a penúria e o infraconsumo ou a sua mediania, para encontrar depois a ponte levadiça entre o antigo, o moderno e o português de amanhã.
Convirá mesmo esclarecer alguns portugueses típicos: o válido ricaço D. João de Portei, senhor latifundiário; os homens da Moeda Velha; o afamado Heitor Mendes de Brito, Rockfeller de outras eras; D. Guiomar de Castro, condessa de Atouguia, sovina, usurária, agenciadora, que até a D. Afonso V e ao infeliz D. Pedro emprestava; Pedro Sem, que Viterbo procurou desvendar; o conde de Linhares; o visconde de Rio Seco; o incrível janota conde de Farrobo, o burguês vintista,
um capista fiel e romantizado, mas de fraca iniciativa ..., e tantos dos que iniciaram, amontoaram, aplicaram e dispersaram bens, riquezas, fortunas, produções...
E mais, porque deste lado há que extrair-se a educação corretora do feitio português.
Falhámos no Oriente? E falhámos porquê? Dominámos e triunfámos no Atlântico? Porque não dispomos de recomendações para os negócios? Porque não nos industrializámos mais e melhor? Não passaremos da vinha do inglês ou criamos possibilidades de trabalho aqui e lá fora? Como pode a geração actual responder aos queixumes tradicionais dos nossos escritores? Como soubemos, com meios limitados, vivificar as terras novas?
Havemos, pois, de preparar o trabalho da geração seguinte à nossa.
O período das iniciativas dispensas ou singularizadas passou. Avizinha-se a hora de uma tarefa rigorosa e disciplinada para uma equipe de investigadores.
Gosto demasiado de Lisboa e admiro excessivamente o Porto para ser apodado de «coimbrão». Mas há na nossa Heidelberg um ambiente repousado e meditativo, que não convida apenas a versejar...
Ali poderia ser tentado um seminário de investigação universitária, um centro de estudos, uma disciplina, antes de mais larga experiência.
Isto agora não passa de mera sugestão, pois excede a minha função representativa. Mas em Coimbra ou em outras cidades universitárias, nas Faculdades de Direito de Lisboa, o que é preciso é ensinar.
Ao ilustre e novo Ministro da Educação Nacional, ao Instituto de Alta Cultura ponho este problema, a que, no meu entender, urge dar um começo de solução conveniente.
Termino, como comecei, com versos de Antero sobre a História:

... A fúnebre Medeia
Que das flores de luz do coração
Compõe seu negro filtro - a confusão!

Introduza-se uma disciplina rigorosa e não haverá que temer a confusão!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Henrique Galvão: -Sr. Presidente: pedi a palavra para mandar para a Mesa o seguinte requerimento:

«O notável e claríssimo relatório geral da comissão de inquérito aos elementos da organização corporativa constitui, como no preâmbulo do mesmo se refere, e aliás não pode deixar de ser, uma síntese de relatórios parciais das subcomissões em que a comissão se organizou.
E, assim, relatando toda a matéria essencial, não refere, como é natural, certos pormenores condensados em síntese, constituindo, por assim dizer, somatório exacto de parcelas, que a ordem, o alcance e o equilíbrio do documento aconselharam a omitir.
Reputo, porém, indispensável, não só como elemento precioso e insuspeito da documentação, mas também como agente de esclarecimento e compreensão do aviso prévio que anunciei em sessão de 22 de Janeiro último, que a Assembleia, antes de apresentado o referido aviso prévio, tome conhecimento dos relatórios das subcomissões que tiveram a seu cargo inquirir os organismos de coordenação económica dependentes do Ministério das Colónias - Junta de Exportação do Algodão Colonial;